Médicos são premiados em congresso de Medicina Nuclear


A pesquisa desenvolvida por médicos do Serviço de Medicina Nuclear do Hospital de Clínicas da Unicamp (HC) recebeu o prêmio Alexander Gottschalk como melhor trabalho em oncologia clínica pela Fundação Americana de Educação e Pesquisa no 60º Congresso da Sociedade de Medicina Nuclear e Imagem Molecular (Society of Nuclear Medicine and Molecular Imaging – SNMMI). Os médicos, Aline Leal, Maurício Etchebehere, Ingrid Amstalden, Elisa Pacheco, Allan Santos, Celso Darío Ramos, Edwaldo Camargo e Elba Etchebehere, assinam o trabalho “Evaluation of Soft Tissue Lesions with 18F-FDG PET/CT – A Prospective Trial”, que analisou o papel do exame PET/CT com FDG-18F na avaliação de lesões de partes moles.

O flúor-18 é um dos principais radioisótopos usados no PET/CT e a partir dele se obtém o radiofármaco fluordeoxiglicose-18F (FDG-18F), um análogo da glicose, principal fonte de energia do corpo humano. O estudo avaliou a utilidade do FDG em exames de PET/CT e constatou que essa substância tem a capacidade de diferenciar lesões benignas de malignas nos chamados tecidos moles. Esses tecidos estão localizados entre a epiderme e as vísceras do organismo.

As doenças que o PET/CT detecta são identificadas a partir da maior absorção de glicose pelas células das regiões acometidas.  As células malignas, por exemplo, consomem e captam uma quantidade maior de glicose. Assim, ao injetar 18F-FDG, estas células emitem maior radiação, que é detectada no exame. Este estudo usando FDG-18F comprovou a boa precisão do método na diferenciação das lesões e também alto VPN. O Valor Preditivo Negativo (VPN) é a probabilidade de não existir uma doença, perante um resultado negativo. Com o uso do PET/CT com FDG-18F no algoritmo de diagnóstico de lesões de partes moles, seria possível evitar biópsias desnecessárias ou ressecções inadequadas.

Para formulação do estudo, foram avaliados 48 pacientes com lesões em tecidos moles, nos membros superiores, inferiores e na parede abdominal. Os exames confirmaram que entre os casos clínicos analisados, 31 eram lesões benignas e 17 malignas. E o PET/CT com FDG-18F apresentou 100% de sensibilidade, 80,6% de especificidade, 87,5% de precisão e VPN de 100% na detecção das lesões malignas.

“Essa linha de pesquisa foi muito comentada no congresso e com a chegada do equipamento PET/CT no hospital a tendência é aprimorar as pesquisas nessa área”, conta Elba Etchebehere. Ela representou o grupo junto com a aluna Aline Leal, que recebeu o prêmio durante um almoço solene no congresso. O prêmio, destinado a jovens investigadores, se baseia nas notas atribuídas pelos revisores do trabalho. Entre os 2 mil trabalhos inscritos, o estudo desenvolvido pelo grupo obteve uma das notas mais altas.

“Foi muito gratificante receber um prêmio internacional, principalmente sendo no maior congresso da especialidade”, comemora a médica Aline Leal, aluna de mestrado na Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, cujos planos para o doutorado incluem a continuidade na área de pesquisa em Medicina Nuclear.

PET/CT

Em abril deste ano, o HC inaugurou a nova área de Medicina Nuclear do hospital com a chegada do  equipamento PET/CT, que reúne duas tecnologias de diagnóstico, a tomografia por emissão de pósitrons (PET) e a tomografia computadorizada (CT). Avaliado em mais de R$ 4,2 milhões e adquirido com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Os exames de PET/CT fornecem um diagnóstico mais preciso da localização de tumores, nos casos de pacientes com câncer, por exemplo, definindo o melhor tratamento para cada paciente.

Além de oferecer aos pacientes do HC exames com tecnologia disponível em poucos centros de pesquisa e atendimento médico, o PET/CT é destinado à pesquisa. “No período em que o estudo foi realizado, o PET/CT não integrava a área de Medicina Nuclear do HC”, conta Celso Dario Ramos, diretor da área de Medicina Nuclear do hospital. Assim, o estudo foi realizado a partir de um convênio com uma clínica particular.

“A chegada do PET/CT é fundamental para o ensino, pesquisa e assistência, facilitando o acesso ao equipamento necessário para o desenvolvimento de pesquisas na área de diagnóstico”, afirma Ramos. Com a nova área, o HC inaugurou também a radiofarmácia, a primeira no contexto do interior do estado de São Paulo, equipada para produzir diversos radiofármacos, entre eles o FDG-18F. Essa substância é elaborada com um aparelho chamado de cíclotron, no qual a irradiação de água pesada contendo oxigênio-18 gera o flúor-18. Esse flúor é ligado, no caso do FDG, a fluordesoxiglicose. Todo o procedimento é automatizado e o FDG-18F resultante fica armazenado em um recipiente de chumbo, para evitar a propagação da radiação.

Congresso       

O congresso aconteceu em Vancouver, Canadá, entre os dias 8 e 12 de junho, sendo o evento científico mais importante na área de medicina e imagem molecular no mundo. Todos os anos, o evento reúne milhares de profissionais de diversos países. Na última edição foram apresentados 2 mil trabalhos e pôsters elaborados por cientistas, médicos, farmacêuticos e tecnólogos.

Sociedade de Medicina Nuclear e Imagem Molecular

A Society of Nuclear Medicine and Molecular Imaging (SNMMI) é uma organização científica sediada nos Estados Unidos sem fins lucrativos que promove a aplicação da ciência, tecnologia e prática de medicina nuclear e imagem molecular. Com 19 mil membros no mundo inteiro, que desenvolvem e exploram inovações na área de imagens médicas, para permitir o diagnóstico não-invasivo, a gestão e o tratamento de doenças, oferecendo atendimento médico de qualidade aos pacientes. A sociedade é composta por médicos, tecnólogos, físicos, farmacêuticos, cientistas e profissionais de laboratório.

Caius Lucilius com Jéssica Kruckenfellner  –  Assessoria de Imprensa HC