Na próxima quinta-feira, 30 de agosto, é celebrado o Dia Nacional de Conscientização sobre a Esclerose Múltipla. A data foi escolhida em comemoração ao aniversário da fundadora da Associação Brasileira de Esclerose Múltipla, Ana Maria Amarante Levy e instituída em 2006. Ao contrário do que muitos pensam, a esclerose múltipla (EM) não é uma doença que afeta a memória e atinge pessoas mais idosas. A patologia costuma acometer freqüentemente adultos na faixa etária entre os 20 e 50 anos e idade, principalmente mulheres, na proporção 2:1, sendo mais comum em caucasianos.
A esclerose múltipla compromete o sistema nervoso central (SNC) que compreende o cérebro, cerebelo, tronco encefálico e medula espinhal. A doença foi descrita inicialmente, em 1868, pelo neurologista francês Jean Martin Charcot, que a denominou “Esclerose em Placas” descrevendo áreas circunscritas endurecidas que encontrou disseminada pelo SNC ao realizar autópsias. Também é caracterizada como doenças desmielinizante, pois lesa a mielina, um complexo de camadas lipoprotéicas que envolvem e isolam as fibras nervosas, também chamadas de axônios, prejudicando a neurotransmissão. A desmielinização interfere na transmissão do impulso nervoso diminuindo a velocidade de condução dos impulsos produzindo diversos sintomas.
A etimologia da doença é desconhecida, mas acredita-se que esteja associada a processos auto-imunes, desencadeados pela ação patogênica de um determinado agente infeccioso. De acordo com especialistas, a incidência da doença é maior em zonas temperadas da Terra, em países do hemisfério norte, por exemplo, o número de casos pode ser superior a 80 em cada 100 mil habitantes. No Brasil, ou em zonas equatoriais, a incidência é de 18 casos em cada 100 mil habitantes. Pessoas com familiares que possuem EM podem ter a chance de desenvolver a doença até 30 vezes maior, dependendo do número de indivíduos doentes e o grau de parentesco.
Segundo o neurologista Benito Damasceno, coordenador do ambulatório de Esclerose Múltipla do HC os sintomas da doença são decorrentes do local onde a lesão acontece. Os mais comuns, diz, são a perda da visão ou visão dupla, formigamentos, tremores, fadiga, redução da força, dificuldade na fala, urgência ou incontinência urinária, transtornos cognitivos e emocionais. Estes sintomas podem ser leve, moderados ou intensos e surgem de maneira imprevisível, podendo evoluir em surtos ou de maneira lenta e progressiva.
A EM apresenta-se em alguns tipos, a Esclerose Múltipla Remitente Recorrente (EMRR) ou surto remissão, em que a evolução ocorre em surtos cujos sintomas surgem de maneira súbita com posterior recuperação parcial ou total dos mesmos; Esclerose Múltipla Primária Progressiva (EM PP), em que a doença evolui sem surtos, mas com sintomas progressivos acumulados ao longo do tempo; Esclerose Múltipla Secundária Progressiva, na qual o sintomas são lentos e progressivos, com o tempo indivíduos que possuem a forma EMRR podem para este quadro. A forma mais comum de EM é a recorrente-remitente.
Embora seja uma doença antiga que atinge milhares de pessoas no mundo todo, alguns profissionais de saúde têm dificuldade para identificar a patologia. Muitas vezes os sintomas podem ser brandos ou pouco perceptíveis, o que faz com que a pessoa sequer procure o médico, ou seja, pouco valorizado inicialmente. “Em alguns casos, a doença pode ser confundida com lúpus ou labirintite dificultando o diagnóstico. Por isso, é importante a conscientização da população em relação aos sintomas da doença. O profissional mais indicado para diagnosticar a EM é o neurologista. O diagnóstico deve estar baseado em um histórico dos sintomas, além de um exame neurológico bem detalhado”, explica Damasceno.
A doença não tem cura, os tratamentos oferecidos buscam estabilizar e interromper a atividade inflamatória e os surtos ao longo dos anos, além de tratar o foco da doença, é importante garantir ao paciente uma melhora na qualidade de vida tratando os sintomas urinários e a fadiga principalmente. Além do tratamento medicamentoso, é importante que seja realizado uma neuroreabilitação prevenindo complicações como as deformidades ósseas. No HC são utilizados quatro substâncias imunomoduladoras no tratamento da EM, distribuídos gratuitamente pelo governo através da farmácia de dispensação de alto custo.
O interferon beta 1 a é administrado por via subcutânea três vezes na semana , com nome comercial de Rebif 22mcg ou 44mcg, ou intramuscular 1 vez por semana conhecido como Avonex 30mcg. O interferon beta 1 b é administrado subcutâneo em dia alternados comercializados como Betaferon 8000UI, além dos interferons, também é utilizado o acetato de glatiramer que deve ser empregado subcutâneo diariamente, conhecido como Copaxone 20mg. A redução ou interrupção dos sintomas acontecem entre 30 a 35 % dos casos, quando são utilizados este medicamentos.
Segundo Damasceno, a discussão para escolha do tratamento medicamentoso é complexa, pois é preciso analisar o diagnóstico, a gravidade da doença, o número de surtos e o número de lesões. Por isso, o tratamento é específico para cada paciente. Atualmente, cerca de 200 pacientes acompanham o EM no ambulatório do HC. São dois casos novos em média por mês, a maioria mulheres com idade entre 20 e 45 anos.
Desde outubro do ano passado, o HC passou a utilizar outro medicamento além dos que já são disponibilizados pela farmácia de alto custo. O Natalizumabe 300 mg, por via intravenosa, é administrado ao paciente uma vez ao mês no Ambulatório de Esclerose Múltipla. “Com este medicamento a redução ou interrupção dos sintomas chega ser duas vezes mais eficaz que os medicamentos que já utilizamos, alcançando 70% dos casos”, afirma Damasceno.
Caius Lucilius com Jéssica Kruckenfellner
Assessoria de Imprensa do HC Unicamp