O recente caso envolvendo um ataque de abelhas africanizadas no Jardim Chapadão, em Campinas e que levou a morte de um homem de 60 anos é um alerta para o crescimento da presença desses animais em centros urbanos. O paciente atendido no HC faleceu na UTI em função de uma falência sistêmica dos órgãos decorrente de mais de 900 ferroadas, que injetaram um complexo composto de venenos formados por peptídeos, como a melitina e a enzima fosfolipase, essa última responsável pela destruição das células e tecidos.
O coordenador do Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATOX) da Unicamp, professor Fábio Bucaretchi, traz um alerta sobre os cuidados que se deve ter em relação a esses insetos e o que deve ser feito caso eles se sintam ameaçados e ataquem. Segundo ele, no mundo, as pessoas morrem mais devido a uma única picada de abelha por alergia, do que por envenenamento de múltiplas picadas. “O indivíduo que tem uma alergia grave ao veneno de abelhas, além de ter seus próprios medicamentos, deve procurar um tratamento com um imunologista”, diz.
Abelhas são insetos que patrulham um amplo perímetro e podem atacar com pouca provocação. São extremamente agressivas quando é dado o alerta químico para medidas defensivas: o feromônio. Essa mistura complexa de compostos voláteis de baixo peso molecular é presente no veneno e sinaliza o alerta para outros membros durante as ferroadas. Quando liberados perto de uma colônia, esses feromônios podem provocar um enorme enxame defensivo das fêmeas que guardam o ninho.
De acordo com Bucaretti o envenenamento massivo acontece quando um indivíduo é picado por diversas abelhas, e seus efeitos no organismo são preocupantes, podendo haver uma queda significativa da pressão arterial, um comprometimento da função cardíaca e respiratória, eventualmente, acontece a destruição dos glóbulos vermelhos do sangue.
Apesar do risco de morte ser muito alto, ainda há a possibilidade de sobrevivência, ao manter a pressão arterial, a função renal estáveis, e caso seja imprescindível, utilizar a ventilação mecânica e drogas específicas para manter a pressão cardíaca. “Por isso, é importante o indivíduo picado por esses insetos ir até um hospital, para ter os cuidados intensivos”, destaca o coordenador do CIATOX.
No Brasil, há uma pesquisa para a produção de um soro próprio para envenenamento por abelhas africanizadas. “O projeto está em andamento, e esperamos que nos próximos três anos esteja, pelo menos, disponível para o uso da comunidade, como um tratamento especifico”, diz Bucaretchi.
A profilaxia para um possível ataque de abelhas não é tão simples. “Em caso de proximidade a um enxame é importante evitar roupas muito coloridas e perfumes que possam atraí-las. E aos que tem alergia, devem evitar os lugares que há colméia, ou devem levar os medicamentos, como a adrenalina, para caso haja necessidade”, alerta o médico.
O médico dá outras dicas como nunca se aproximar ou perturbar um ninho. Caso observe abelhas entrando ou saindo de um telhado, um buraco no chão ou uma cavidade de árvore, e suponha que haja um ninho presente e deixe a área imediatamente. Se você acidentalmente perturbar um ninho, corra imediatamente e cubra seu rosto. Não pule na água se não conhecer o espelho de água e se não souber nadar. As abelhas vão esperar você subir para respirar e aproveitar para ferroá-lo. O Brasil registra em média por ano, cerca de dez mil acidentes com abelhas e que ocasionam mais de 40 mortes.
Caius Lucilius com Beatriz Bittencourt – Assessoria de Imprensa HC