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Pesquisa conduzida com a participação de pacientes do Ambulatório de Oftalmologia do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp registrou uma taxa de sucesso de 50%, em 5 anos, nas cirurgias de implante de Ahmed, que consiste na inserção de uma válvula de drenagem que visa à redução da pressão intraocular. Além disso, o estudo identificou possíveis fatores de riscos associados ao procedimento. Foi constatado, por exemplo, um percentual maior de insucesso entre pessoas de ascendência afro-americana. O trabalho foi conduzido pelo professor Vital Paulino Costa, chefe do Setor de Glaucoma do HC da Unicamp, e pelo oftalmologista e pós-graduando do Setor de Glaucoma, Ricardo Yuji Abe.

De acordo com Ricardo Abe, a duração média do estudo foi de 2,5 anos, mas alguns pacientes foram acompanhados por até 5 anos. “É raro uma casuística com um período tão longo”, afirma. Ao todo, 108 pacientes participaram da pesquisa, que avaliou a evolução da cirurgia em 112 olhos. Metade das intervenções foi considerada bem-sucedida ao final do acompanhamento. Vital Costa explica que, durante a cirurgia, é feito o implante de um pequeno tubo no olho, que funciona como uma válvula.

Esta tem a função de drenar o humor aquoso para uma plataforma localizada entre a conjuntiva e a esclera. O acúmulo desse líquido, constituído por 98% de água, aumenta a pressão intraocular, provocando o glaucoma, doença que causa a lesão do nervo óptico e que pode levar à cegueira caso não seja diagnosticada e tratada precocemente. O estudo apurou, ainda, alguns fatores de risco associados à cirurgia.

Os pesquisadores constataram que a taxa de insucesso é maior entre os afro-americanos. “Isso ocorre muito provavelmente porque as pessoas com esse tipo de ascendência apresentam um processo de cicatrização mais rápido que as demais, o que não é conveniente para esse tipo de intervenção”, esclarece o chefe do Setor de Glaucoma do HC da Unicamp.

Vital Costa acrescenta que esse resultado alerta para a necessidade de um cuidado maior por parte dos especialistas com esse grupo. “Nós temos algumas drogas anticicatrizantes no mercado, mas elas não demonstraram ser capazes de aumentar a taxa de sucesso da intervenção nesses casos, de acordo com estudos prévios”, pontua. Tanto Vital Costa quanto Ricardo Abe observam que cada dado novo sobre o tratamento contra o glaucoma é importante, pois a doença é muito insidiosa.

“O glaucoma é assintomático. Ou seja, ele não causa ardência nos olhos, vermelhidão etc. Muitas pessoas só descobrem que desenvolveram a doença depois que já perderam parte da visão. Um estudo realizado há alguns anos mostrou que, no Setor de Glaucoma do HC, cerca de 33% dos pacientes chegam para uma primeira consulta com um nível avançado de comprometimento da visão”, informa Vital Costa.

Entre as razões que concorrem para esse número elevado é que boa parte dos brasileiros continua enfrentando dificuldades para ter acesso ao sistema público de saúde. “Quanto mais orientação a população tiver sobre o glaucoma, mais condições os especialistas terão de diagnosticar a doença de forma precoce. Vale lembrar que o glaucoma não regride. Em outras palavras, a visão perdida não pode ser recuperada”, alerta Vital Costa.

Ouça mais em matéria da Rádio CBN aqui.

Texto
Manuel Alves Filho

Imagens
Antonio Scarpinetti

Edição de Imagens
André da Silva vieira

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