É o caso do menino G. K. S. B, morador de Ibaté, cidade do interior do estado de São Paulo, que em setembro de 2013, aos seis anos de idade, se viu marcado para o resto de sua vida. Em um acidente doméstico, G. sofreu queimaduras em 45% do corpo e passou por uma série de cirurgias reparatórias, que limitaram a extensão completa do seu pescoço, após o processo de cicatrização.
Mas foi na manhã desta terça-feira (10), após uma cirurgia inédita de extensão de pele, realizada por cirurgiões plásticos do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, que atividades simples, como soltar pipa olhando para o céu ou comer com facilidade, voltarão à rotina do pequeno G. A equipe foi orientada pelo cirurgião plástico Dilmar Francisco Leonardi, membro da Sociedade Brasileira de Queimaduras, que atua no estado de Santa Catarina.
“Com essa cirurgia, a qualidade de vida do paciente com certeza vai melhorar muito, inclusive com hábitos simples como beber e comer”, afirma o professor da disciplina de cirurgia plástica, Paulo Kharmandayan, ao explicar os benefícios da chamada engenharia de tecido. Kharmandayan foi o responsável pelo convite do cirurgião Dilmar Leonardi vir ao HC da Unicamp.
Após perda ou dano significativo de estruturas da derme, a idéia é utilizar uma estrutura conhecida por matriz dérmica, que possui a mesma qualidade do tecido humano e classificado como colágenotipo 1. Formada por duas camadas, uma externa, fina e de silicone e outra interna e espessa feita com colágeno bovino e glicosaminoglicano (GAG), material proveniente da cartilagem de tubarão.
Segundo Kharmandayan a matriz é colocada sobre a área do corpo do paciente, que deseja reparar, para que se integre ao organismo e permita a recuperação de atividades celulares e movimentos. Uma matriz, de 10cm x 25cm, pode chegar ao valor de R$ 26 mil. Para a operação, foram disponibilizas duas com esse tamanho. A expectativa, diz, é realizar novas cirurgias ainda nesse semestre. A mãe da criança, Fabrícia Q. de Souza está confiante de que o filho voltará a ter uma vida normal e principalmente, fazer o que mais gostava: soltar pipa.
No caso do paciente G., em que as queimaduras se concentraram no pescoço e tórax, a cicatrização levou ao desenvolvimento de quelóides (excesso de colágeno), comum no processo de reparação realizado pelo organismo. Além disso, o espaço entre o queixo e o peito do paciente ficou limitado, dificultando os movimentos, como girar a cabeça ou mesmo se alimentar. Dessa forma, a matriz dérmica foi utilizada para substituir a pele do pescoço e parte do torax.
A matriz cessa o processo inflamatório, protege a lesão, e em 21 dias a nova estrutura já se encontra em avançada maturação, o que permite a colocação de um enxerto de pele do próprio paciente, em cima da matriz, finalizando o processo de reparação. Com o tempo, ela cresce com o paciente, pois é flexível, e resulta em uma aparência mais uniforme na pele anteriormente danificada.
A matriz dérmica chegou ao Brasil no ano de 2001, permitindo o treinamento de profissionais da especialidade, até que em 2011, o seu uso foi aprovado pelo Ministério da Saúde. “Esse é um produto importante para suprir a demanda que o banco nacional de pele por si não consegue atender”, ressalta o cirurgião plástico Dilmar Francisco Leonardi, que atuou no atendimento das vítimas de queimaduras da Boate KISS, em 2013, em Santa Maria (RS).
As queimaduras podem ser classificadas de acordo com a sua espessura em superficial, na qual somente a epiderme é acometida; parcial superficial, que atinge tanto a epiderme quanto a derme papilar; parcial profunda, que também afeta camadas mais profundas da derme e espessura total, as quais atingem todas as camadas da pele, podendo até chegar a estruturas ósseas.
Leia matéria divulgada no jornal Correio Popular aqui e assista ao vídeo aqui
Leia matéria veiculada no portal G1 de Campinas aqui e de São Carlos e Araraquara aqui
Assista aqui a matéria do Jornal da EPTV de Campinas e do Jornal da EPTV de São Carlos e Araraquara aqui
Ouça nos links, a entrevista do cirurgião plástico Paulo Kharmandayan à Rádio CBN Campinas: 1, 2, 3, 4 e 5
Caius Lucilius com Caroline Roque
Assessoria de Imprensa do HC Unicamp