O Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp organizou uma cerimônia especial nesta quinta-feira, para comemorar a marca de 5.000 transplantes de órgãos e tecidos realizados desde 1984. Até o final de 2010, foram 1.736 transplantes de córnea, 1.734 de rins/pâncreas, 988 de medula óssea, 512 de fígado e 22 de coração. O paciente de número 5.000, que recebeu uma placa em homenagem a todos os transplantados nestes 27 anos, é Alvino de Freitas Marques, 57, residente em Jundiaí, que sofria de doença renal policística.
“Mais do que uma comemoração, a intenção com o evento é chamar a atenção da sociedade para a importância da doação de órgãos. É uma oportunidade de devolver às pessoas o direito à vida, um momento de recomeço”, afirmou o professor Manoel Barros Bértolo, superintendente do HC. Bértolo não se esqueceu de homenagear os médicos Ubirajara Ferreira, Gentil Alves Filho, Cármino Antonio de Souza, Newton Kara José e Luiz Sergio Leonardi, pioneiros nos transplantes na Universidade, quase todos presentes no evento que aconteceu no auditório da Faculdade de Ciências Médicas.
Atualmente, o HC da Unicamp está entre os hospitais brasileiros que mais realizam estes procedimentos e ocupa a liderança no interior de São Paulo, onde integra o Serviço de Procura de Órgãos e Tecidos (SPOT) juntamente com outros nove hospitais universitários. O estado paulista responde por aproximadamente 45% dos transplantes no país. O HC, em particular, encerrou o ano de 2010 com 326 procedimentos, um crescimento de 28% em relação a 2009.
De acordo com o neurocirurgião Helder Zambelli, do SPOT, os hospitais públicos são os que mais recebem pacientes graves, principalmente vítimas de acidentes. Mas observa que é fundamental que qualquer unidade de saúde, pública ou particular, notifique imediatamente casos de morte encefálica, contribuindo para o aumento do número de transplantes. “Tivemos 39 doadores viáveis em 2007 e 105 no ano passado, sinal de que precisamos especializar mais pessoas”.
Ao comentar a marca de 5.000 procedimentos, o reitor Fernando Costa lembrou a época em que emissoras de rádio e televisão veiculavam campanhas arrecadando recursos para pacientes que precisavam realizar transplantes de medula óssea ou de fígado no exterior. “Quando um hospital público se mobiliza e faz com que a população tenha a oportunidade de passar por esse tipo de tratamento no Brasil, é um avanço considerável”.
O reitor ressaltou que o transplante exige uma enorme gama de procedimentos, mobilizando profissionais de serviços como de urologia, nefrologia, oftalmologia, gastrocirurgia, cardiologia, patologia clínica, enfermagem e serviço social. “Isso faz com que todo o complexo hospitalar tenha a sua qualidade elevada. Com isso, o trabalho da universidade se completa, pois além de prestar uma boa assistência, ela forma pessoas e produz conhecimento novo com pesquisas de qualidade”.
Alvino Marques (foto), paciente transplantado número 5000, teve cinco irmãos que faleceram por problemas renais. “No caso da doença renal policística, quando se passa dos 40 anos, começa a diminuir a filtração do sangue pelo rim. Eu era eletricista de manutenção até ser aposentado por invalidez em 2002. Fazia tratamento em Jundiaí e há seis anos me mandaram para a Unicamp, onde procuraram controlar a doença com hemodiálise três vezes por semana e medicamentos. Mas chegou uma hora que não teve jeito: disseram que o rim não queria mais nada”.
A data em que Alvino conseguiu entrar na fila de transplantes é fácil de lembrar: 10/10/2010. “Não demorou muito e, no dia 27, já me avisaram que o transplante seria no dia seguinte. Eu estava bem judiado, pesando 60 quilos. A máquina de hemodiálise remedia, mas também judia, vai debilitando a pessoa cada vez mais. Graças a Deus, veio essa bênção. Faz só três meses e meio, mas já estou levando uma vida normal – e livre daquela máquina. Agora é só cuidar da alimentação e tomar direito os remédios contra a rejeição”.
Agradecido pela atenção que recebeu no HC – do faxineiro e das cozinheiras ao médico João Paulo Milesi Pimentel, que fez a cirurgia -, Alvino de Freitas Marques pede que todos se conscientizem sobre a importância da doação. “Aquele que recebe, nem encontra palavras para agradecer. Tem muita gente do lado de cá esperando um órgão e uma vida melhor. Para mim, que estava esperando a morte chegar, chegou um rim”.
Caius Lucilius com Luiz Sugimoto (texto), Antonio Scarpinetti (fotos), Luís Paulo Silva e Everaldo Silva (edição de imagens) ASCOM