24 DE JUNHO É O DIA MUNDIAL DO AVC

No dia 24 de junho, médicos do mundo inteiro se mobilizam para um alerta: O Acidente Vascular Cerebral (AVC) que continua crescendo, inclusive no Brasil. Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, mais de 15 milhões de pessoas têm AVC por ano no mundo, sendo que aproximadamente cinco milhões de pessoas morrem e outros cinco milhões ficam com seqüelas mentais e físicas. No Brasil, cerca de 90 mil pessoas/ano morrem no Brasil devido ao AVC. Na Urgência Referenciada do HC são atendidos em média 90 pacientes/mês e no Hospital Estadual Sumaré a média é de 30 pacientes/mês.

Popularmente conhecido como derrame, o Acidente Vascular Cerebral é a doença que mais mata no Brasil e é responsável por 40% das aposentadorias precoces, segundo o Ministério da Saúde. O AVC decorre da alteração do fluxo de sangue ao cérebro. Responsável pela morte de células nervosas da região cerebral atingida, o AVC pode se originar de uma obstrução de vasos sanguíneos, o chamado acidente vascular isquêmico, ou de uma ruptura do vaso, conhecido por acidente vascular hemorrágico, o de maior letalidade.

O Dia Mundial do Acidente Vascular Cerebral também serve para alertar que o problema pode ser prevenido, já que suas causas são conhecidas, como hipertensão, alto colesterol, tabagismo e sedentarismo. Especialistas também revelam que um entre quatro homens e uma entre cinco mulheres poderão ter um AVC e até os 85 anos de idade. A data busca inclusive alertar a população de como proceder para que o indivíduo não tenha seqüelas e não chegue à morte. Quanto mais cedo o paciente for atendido melhor o prognóstico e maior as chances de sobrevivência.

De acordo com o professor Li Li Min (Coordenador do Programa de Neuro-AVC do Depto de Neurologia da FCM), existe na cidade de Campinas três centros de referência para atender emergência de pacientes com AVC: HC da Unicamp, Hospital e Maternidade Celso Pierrô – Puc e Mário Gatti além do HES em Sumaré. As equipes, ressalta, possuem um médico neurologista de plantão 24 horas e os demais profissionais de saúde, inclusive do atendimento SAMU, foram treinados para reconhecer e dar os primeiros socorros a casos de AVC. “A importância do pronto atendimento à vítima de derrame fará a diferença nas seqüelas do acidente, principalmente nos casos de AVC isquêmico agudo”, destaca Li Li Min.

Conforme o médico da Unicamp, o AVC pode ser revertido se o paciente é atendido imediatamente ou nas primeiras três horas depois dos sintomas iniciais da doença. A importância da adoção desse tratamento é estatística: cerca de 85% dos pacientes que chegam aos hospitais com AVC são tipo isquêmico. “Somente assim as seqüelas diminuem para o paciente”, explica Li Li Min. Entretanto, apenas 2% desses casos são submetidos ao tratamento com trombólise, em todo o Brasil. A maioria dos pacientes não recebe o medicamento porque não chega ao hospital no tempo adequado.

A Associação Americana de AVC estima que a maioria das pessoas que sofrem um AVC demora, em média, 12 horas para chegar a um hospital. Em comparação com o Brasil, a situação ainda é complicada; a Associação Brasileira de Neurologia calcula que apenas 30% das vítimas são levadas a um hospital em seis horas. “Infelizmente, a maioria dos pacientes não chega ao hospital em tempo de receber essas formas de terapias”, ressalta.

De acordo com o neurologista Wagner Mauad Avelar, o socorro tem de ser rápido justamente para evitar que a área do cérebro atingida pelo AVC permaneça muito tempo sem ser irrigada. Quando isso acontece, o tecido fica necrosado, o que impede a sua recuperação. “Ou seja, time is brain [tempo é cérebro]”, afirma. O médico assinala que o uso de medicação trombolítica pode eventualmente causar efeitos adversos. A maior preocupação é com a ocorrência de hemorragia. Exatamente por isso, os neurologistas seguem um protocolo rigoroso de atendimento. Antes de ser submetido à terapêutica, o paciente passa por uma série de avaliações e exames, entre eles a tomografia computadorizada. “Um estudo internacional indicou que de 312 pacientes submetidos a esse tipo de tratamento, apenas 5,6% apresentaram hemorragia sintomática. Nesses casos, há a necessidade de uma intervenção cirúrgica para o tratamento dessas complicações”, esclarece.

Li Li Mim esclarece que entre os principais sintomas e sinais de alerta estão paralisia (dificuldade ou incapacidade de movimentação) de um dos lados do corpo; dor de cabeça muito forte, súbita, sobretudo se acompanhada de vômitos; fraqueza ou dormência na face, nos braços ou nas pernas, geralmente afetado um dos lados do corpo; perda súbita da fala ou dificuldade para se comunicar e compreender o que se diz e perda da visão ou dificuldade para enxergar com um ou ambos os olhos.

Outros sintomas do acidente vascular isquêmico são tontura, perda de equilíbrio ou de coordenação. Os ataques isquêmicos podem manifestar-se também com alterações na memória e da capacidade de planejar as atividades diárias, bem como a negligência. Neste caso, o paciente ignora objetos colocados no lado afetado, tendendo a desviar a atenção visual e auditiva para o lado normal, em detrimento do afetado.

Aos sintomas do acidente vascular hemorrágico intracerebral podem-se acrescer náuseas, vômito, confusão mental e, até mesmo, perda de consciência. O acidente vascular hemorrágico subaracnóide, por sua vez, comumente é acompanhado por sonolência, alterações nos batimentos cardíacos e freqüência respiratória e eventualmente convulsões.

– Acidente vascular isquêmico ou infarto cerebral: responsável por 80% dos casos de AVC. Esse entupimento dos vasos cerebrais pode ocorrer devido a uma trombose (formação de placas numa artéria principal do cérebro) ou embolia (quando um trombo ou uma placa de gordura originária de outra parte do corpo se solta e pela rede sanguínea chega aos vasos cerebrais).

Ataques isquêmicos transitórios, como o próprio nome indica, corresponde a obstruções temporárias do sangue a uma determinada área do cérebro. Geralmente, originada do acúmulo de plaquetas agregadas em placas nas paredes dos vasos ou formação de coágulos no coração. Os sinais e sintomas desse ataque são os mesmos do AVC, contudo tem duração de poucos minutos e deve servir de alerta para que o paciente procure assistência médica imediatamente, pois nesses casos o risco de um AVC é iminente.

– Acidente vascular hemorrágico: o rompimento dos vasos sanguíneos se dá na maioria das vezes no interior do cérebro, a denominada hemorragia intracerebral. Em outros casos, ocorre a hemorragia subaracnóide, o sangramento entre o cérebro e a aracnóide (uma das membranas que compõe a meninge). Como conseqüência imediata, há o aumento da pressão intracraniana, que pode resultar em maior dificuldade para a chegada de sangue em outras áreas não afetadas e agravar a lesão. Esse subtipo de AVC é mais grave e tem altos indices de mortalidade.

Indício de outras doenças – Em pessoas que já sofreram um Acidente Vascular Cerebral há a possibilidade de existirem outras artérias, de diferentes partes do organismo, com coágulos e predisposição ao entupimento. Por isso elas possuem maiores chances de desenvolverem outros problemas de saúde. Essa é uma das conclusões do registro observacional REACH, que vem sendo conduzido em mais de 68 mil pacientes, em 44 países do mundo, inclusive no Brasil, para avaliar o perfil de risco de pacientes com alto risco de sofrer eventos aterotrombóticos, como infarto agudo do miocárdio, AVC e doença arterial periférica.

O registro mostrou que dos 19 mil pacientes avaliados que sofreram derrame, 40% também tiveram problemas em outras regiões vasculares, como no coração e nos pulmões. Um levantamento feito pela International Stroke Society (ISS) aponta para a mesma direção. Em torno de 15% dos pacientes que tiveram um AVC poderão falecer ou ser hospitalizados em decorrência de problemas nas artérias, como infarto ou um novo AVC, num período de um ano.

Fatores de risco – A maioria dos fatores de risco para AVC são passíveis de intervenção, portanto é possível se fazer um tratamento preventivo. A chamada prevenção primária.

Entre os fatores de risco que podem ser modificados destacam-se:

  • Hipertensão;
  • Diabetes;
  • Tabagismo;
  • Consumo freqüente de álcool e drogas;
  • Estresse;
  • Colesterol elevado;
  • Doenças cardiovasculares, sobretudo as que produzem arritmias;
  • Sedentarismo;
  • Doenças hematológicas.

Existem contudo fatores que podem facilitar o desencadeamento de um Acidente Vascular Cerebral e que são inerentes à vida humana, como o envelhecimento. Pessoas com mais de 55 anos possuem maior propensão a desenvolver o AVC. Características genéticas, como pertencer a raça negra, e história familiar de doenças cardiovasculares também aumentam a chance de AVC.

Esses indivíduos portanto devem ter mais atenção e fazer avaliações médicas mais frequentes.

Reabilitação – Parte importante do tratamento, o processo de reabilitação muitas vezes começa no próprio hospital, afim de que o paciente se adeque mais facilmente a sua nova situação e restabeleça sua mobilidade, habilidades funcionais e independência física e psíquica. Esse processo ocorre quando a pressão arterial, o pulso e a respiração estabilizam, muitas vezes um ou dois dias após o episódio de Acidente Vascular Cerebral.

Um dos focos iniciais é evitar a espasticidade, rigidez nos músculos que pode provocar deformações que impedem o paciente de executar alguns movimentos. Essas deformidades formam-se a partir do permanecimento em posturas erradas devido à dificuldade de movimento.

O processo de reaprendizagem exige paciência e obstinação do paciente e, também, do seu cuidador que tem uma função extremamente importante durante toda a reabilitação. Ele é fundamental e o responsável e por dar os remédios nas horas corretas, em vista da possibilidade de esquecimento decorrente de alterações na memória.

Baseado na plasticidade cerebral, capacidade do cérebro de destacar células nervosas sadias para realizar funções de células danificadas, muitas técnicas utilizadas durante a reabilitação. Com isso, é possível grande recuperação dos membros lesionados.

Outro aspecto de considerável importância é a reintrodução no indivíduo no convívio social, seja por meio de leves passeios, compras em lojas ou quaisquer atividades comuns à rotina normal do paciente. Essa orientação é fornecida pelo Terapeuta Ocupacional outro profissional muito importante na reabilitação do paciente.

 

Caius Lucilius com Gláucia Santiago e ABN
Assessoria de Imprensa do HC UNICAMP