A equipe de neurocirurgia da coluna do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp realizou, recentemente, uma cirurgia rara em um paciente com uma deformidade grave na coluna cervical. Portador de uma doença genética chamada neurofibromatose que altera a curvatura da coluna, o paciente tinha também uma deformidade na altura do pescoço devido à malformação de suas vértebras (ossos da coluna).
De acordo com os médicos do HC da Unicamp, o paciente vinha com histórico de perda de força em todos os membros – mãos e pernas –, principalmente na mão esquerda. A mão direita já era ruim devido a um tumor chamado de neurofibroma que causava limitação de longa data.
Inicialmente, ele foi internado para colocar uma tração craniana, que consiste num halo fixo no crânio com pinos com pesos para esticar a coluna lenta e progressivamente. Como não houve melhora no quatro do paciente após três dias de tração, a equipe da neurocirurgia da coluna optou pela cirurgia.
Os ossos da coluna foram soltos durante a cirurgia e tracionados novamente durante o próprio procedimento (puxando o crânio com um halo), esticando novamente a coluna e a colocando em uma posição melhor, descomprimindo a medula. Após o reposicionamento, a coluna cervical foi fixada com placas e parafusos até a coluna torácica, mantendo a medula numa posição de alivio.
O médico-residente Paulo Gabriel, que acompanhou e participou da cirurgia, disse que nunca viu um caso desses e que o desafio foi grande.
“A cirurgia levou quase um dia inteiro. Foi uma cirurgia difícil porque tínhamos que fazer a dissecção óssea e, ao mesmo tempo, não machucar a medula”, relatou Paulo, que disse ainda que à noite, no pós-operatório, o paciente já estava com a mão mais solta, apresentando melhora nos movimentos.
Andrei Fernandes Joaquim, neurocirurgião da coluna que comandou a equipe durante a cirurgia, reforça que o procedimento tem um certo ineditismo devido à gravidade da deformidade e da alta complexidade do procedimento e da tecnologia usada para fazer a cirurgia.
“Tudo foi feito com monitorização neurofisiológica onde, em tempo real, podíamos ter uma ideia se estávamos ou não machucando a medula durante as manobras de correção. Um caso desses é difícil de encontrar e uma oportunidade para ensinarmos nossos médicos-residentes e, ao mesmo tempo, ajudar o paciente”, comentou Andrei.
Em contato recente com o neurocirurgião Paulo Gabriel, o paciente disse que está fazendo fisioterapia e que já sente a mão melhor e com menos dor depois da cirurgia. “Ele me relatou que está muito satisfeito com o resultado”, contou Paulo.