A pesquisa BANG versus GATT em olhos pseudofácicos com glaucoma primário de ângulo aberto: Resultados de 24 meses de um ensaio clínico randomizado, desenvolvida com pacientes atendidos no ambulatório de Oftalmologia do Hospital de Clínicas (HC) e no Hospital Regional de Divinolândia, conveniado à Unicamp, ficou em primeiro lugar na categoria Oral durante apresentação no XXI Simpósio Internacional da Sociedade Brasileira de Glaucoma, ocorrido no Minascentro, em Belo Horizonte, no mês de maio.
O estudo foi conduzido pelo médico oftalmologista e pós-doutorando da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, Gabriel Ayub, como extensão da sua tese de doutorado defendida em outubro do ano passado. A orientação foi do também médico oftalmologista do HC da Unicamp Vital Paulino Costa.
A goniotomia interna com agulha curvada (sigla BANG, em inglês) e a trabeculotomia assistida por gonioscopia (sigla GATT, em inglês) são duas cirurgias de glaucoma de baixo custo e minimamente invasivas do canal de Schlemm – estrutura circular localizada na junção da córnea com a esclera no olho, responsável por drenar o humor aquoso de dentro do olho para a corrente sanguínea.
“O canal de Schlemm desempenha um papel fundamental na regulação da pressão intraocular. Em um olho normal, essa estrutura funciona normalmente, porém, em olhos com glaucoma, ela apresenta maior resistência, o que dificulta a saída do humor aquoso do olho, aumentando a pressão intraocular. Assim, remover essa estrutura torna-se uma opção de tratamento para controlar a pressão intraocular e, consequentemente, o glaucoma”, explica Ayub.
Ainda de acordo com pesquisador, as técnicas comparadas utilizaram materiais facilmente encontrados em qualquer centro cirúrgico, como agulhas e fios de sutura, de muito baixo custo, ao contrário de outras cirurgias para glaucoma, que dependem de dispositivos que custam na casa dos milhares de reais.
“Até o momento, não havia ensaios clínicos randomizados comparando diretamente a eficácia e segurança de BANG e GATT”, enfatiza Ayub.
Desenvolvimento e dados
Participaram da pesquisa pacientes recrutados no HC da Unicamp e no Hospital Regional de Divinolândia, conveniado à Unicamp. As consultas de acompanhamento ocorreram até dois anos após a cirurgia. O pesquisador realizou um ensaio clínico, com pacientes randomizados para uma ou outra técnica cirúrgica, divididos em dois grupos com o mesmo número de pacientes. Não foi revelado aos pacientes qual das duas cirurgias cada um iria fazer. Foram incluídos olhos com glaucoma de ângulo aberto leve a moderado, com pressão intraocular descontrolada.
Durante a pesquisa, foram avaliadas a redução da pressão intraocular após GATT ou BANG e a redução do número de colírios para glaucoma. Vinte e dois olhos foram submetidos a BANG e 23 a GATT. Após dois anos, a pressão intraocular foi reduzida em 16% no grupo BANG e em 22,44% no grupo GATT. No mesmo período, o número de colírios para glaucoma foi reduzido em 6,22% e em 69,78%, respectivamente, nos dois grupos.
Ao longo do estudo, ambas as técnicas se mostraram seguras. Ao analisar a redução de pressão intraocular juntamente com número de medicações, GATT apresentou taxa de sucesso de 60,9%, enquanto BANG apresentou taxa de sucesso de 18,2%.
A pesquisa mostrou que, após 24 meses, a GATT apresentou maior redução da pressão intraocular e do número de medicações, além de maior sucesso cirúrgico do que o BANG.
“É importante salientar que, apesar de uma técnica apresentar melhores resultados do que outra, ambas se mostraram eficazes e podem representar um avanço aos pacientes que necessitam de intervenção cirúrgica para controle do glaucoma no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS), por aliarem eficácia, segurança e baixo custo”, enfatiza Ayub.
