Ambulatório de Tisiologia completa 40 anos de atividades


O Ambulatório de Tisiologia do Hospital de Clínicas da Unicamp comemora 40 anos de atividades em 2010. Nos últimos 13 anos, 808 pacientes foram diagnosticados com tuberculose pelo HC sendo que 87,5% fizeram o seguimento do tratamento pelo hospital e desse total, 594 pacientes curados. A data escolhida para a comemoração foi o dia 24 de março, Dia Mundial da Tuberculose, dia em que o bacilo de Koch, micobactéria causadora da moléstia, foi descoberto em 1882. No Ambulatório de Tisiologia são recebidos em média 150 pacientes/mês sendo cerca de 50 com tuberculose em tratamento.

A criação do ambulatório foi uma iniciativa do professor Miguel Ignácio Tobar Acosta da Medicina Preventiva em parceria com a disciplina de Pneumologia. Em 1971, os pacientes começaram a ser atendidos no ambulatório da Santa Casa, no antigo Casarão, atual Giovanetti 5. Com a conclusão das obras da primeira etapa de construção do HC em 1979, o ambulatório de Tisiologia passou a atender os casos de tuberculose no hospital. Além de possuir um corpo clínico altamente especializado, o ambulatório ainda conta com uma equipe de enfermagem e serviço social voltada à orientação do doente e da família, enfatizando a importância da continuidade do tratamento até a cura total da doença.

Segundo o professor da disciplina de Pneumologia do Departamento de Clínica Médica da FCM, Reynaldo Quagliato Júnior (foto), quando o assunto é tuberculose falta conhecimento da sociedade. Ele explica que ao contrário do que muitos pensam a tuberculose (TB) não é uma doença do passado, mas sim comum nos dias atuais, chegando a 40 pacientes para cada grupo de 100 mil habitantes no Brasil. A incidência é maior ainda, destaca, em alguns grupos de risco como moradores de rua, portadores de HIV e presidiários. A TB é uma doença infecto-contagiosa causada por uma bactéria que afeta principalmente os pulmões, mas, também pode ocorrer em outros órgãos do corpo, como ossos, rins e meninges.

Desde 1950, explica Quagliato, o seu tratamento é realizado por meio de medicamentos diários que devem ser ministrados por um período de seis meses, chegando à cura total da doença em 90% dos casos, quando o diagnóstico é precoce. Embora toda a medicação seja fornecida gratuitamente pelo governo, um dos maiores inimigos da cura é o abandono do tratamento. Em geral, depois de algumas semanas o paciente já se sente bem, e acha que pode abandonar o tratamento. Mas essa irregularidade levará ao reaparecimento dos sintomas, tornando a doença mais resistente aos medicamentos. “O abandono é a maior causa de fracasso, morte ou cronicidade da doença, gerando a resistência do bacilo”, completou Quagliato.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) denunciou em 2008, números alarmantes da tuberculose multiresistente aos tratamentos e lamentou a falta de recursos financeiros para lutar contra a calamidade. A análise das variáveis da pesquisa indica que surgem anualmente no mundo cerca de meio milhão de casos de tuberculose multiresistente (MR). Contudo, a dimensão deste problema é desconhecida, já que nem todos os países estão em condições de repassar as informações necessárias para o estudo, afirma a OMS. Apenas seis países da África, região com maior número de casos de tuberculose no mundo, puderam recolher dados completos.

Em 2006, a aliança mundial STOP TB lançou um plano mundial para deter a tuberculose entre 2006-2015. Nele foram detalhadas as atividades necessárias para reduzir drasticamente a carga mundial de tuberculose, seguindo os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, definidos pela OMS. As metas do STOP TB são: reduzir à metade a incidência e a mortalidade por tuberculose até 2015. A tuberculose é transmitida pelo ar. O doente, quando tosse, espirra ou fala, elimina bacilos que podem contaminar a pessoa que vier a respirá-los. Normalmente, a doença atinge os pulmões (90% dos casos), mas também pode acometer outros órgãos.

No Brasil, a doença é a 4ª causa de mortes por doenças infecciosas e a 1ª em pacientes com Aids. Para realmente interromper a cadeia de transmissão e controlar a doença, é necessário que sejam curados pelo menos 85% dos doentes. A melhor estratégia para conseguir isto é o tratamento supervisionado, com o incentivo e a participação do profissional no compromisso de chegar à cura. Por isso o medicamento é fornecido ao paciente mensalmente no HC, para que ele esteja sempre em contato com os profissionais responsáveis pelo tratamento.

Tuberculose

O Dia Mundial da Tuberculose foi instituído pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela União Contra Tuberculose e Doenças Pulmonares (International Union Agaist TB and Lung Disease – IUATLD), nos 100 anos da descoberta do bacilo, em 1982. Os sintomas mais freqüentes da doença são tosse, cansaço excessivo, febre, sudorese, falta de apetite e emagrecimento.

A melhor prevenção contra a tuberculose é a busca constante de casos e início precoce do tratamento. O Brasil adota vacina BCG intra-dérmica, como medida de prevenção primaria contra a doença. Ela protege a criança das formas graves da tuberculose, deve ser aplicada nos primeiros 30 dias após o nascimento. Entretanto existe a indicação de vacinar o recém-nascido ainda no berçário, para evitar o contato deste com o bacilo da natureza, o que diminui a efetividade da vacina. A BCG é distribuída gratuitamente pelo Sistema único de Saúde – SUS.

Apesar da existência de tratamento eficaz, gratuito e disponível em todo território nacional, ainda não atingimos meta de cura (85%dos casos descobertos). A rápida melhoria dos sintomas experimentada pelos pacientes, o tempo prolongado de tratamento necessário para a cura (6 meses) e associação com alcoolismo e adicção por muitos deles são os principais motivos das taxas de cura abaixo da meta (Br cura 75%). O abandono do tratamento e uso irregular dos medicamentos são fatores para a seleção de cepas resistentes.

Para minimizar esses problemas e elevar o número de curas, o Ministério da Saúde, após discutir intensamente com importantes técnicos da área, optou por associar uma quarta droga ao esquema já existente (isoniazida, rifampicina e pirazinamida) associados em um único comprimido que terá posologia de dois, três ou quatro compridos conforme o peso do paciente. A nova forma de tratamento, que provavelmente será chamada de dose fixa combinada (DFC), entrou em uso no inicio de 2010 e pretende facilitar a continuidade do tratamento.

 

Caius Lucilius com Yasmine de Souza
Assessoria de Imprensa do HC Unicamp