A cirurgiã vascular e professora da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp Ana Teresinha Guillaumon recebeu no final de 2013 os prêmios Emil Buriham e Alexis Carrel. O primeiro prêmio foi entregue durante 40º Congresso Brasileiro de Angiologia e de Cirurgia Vascular pelo trabalho “Resultados de pacientes submetidos a tratamento endovascular do aneurisma da aorta abdominal infrarrenal: análise multicêntrica e consecutiva com a utilização do registro Rheuni (Registro dos Hospitais Estaduais Universitários do Interior de São Paulo)”.
O estudo multicêntrico foi conduzido por ela e pelos pesquisadores Regina Moura, Winston Bonetti Yoshida, Edwaldo Edner Joviliano, Selma Regina de Oliveira Raymundo e Ludwig Hafner da FCM da Unicamp e das Faculdades de Medicina de Botucatu, USP Rio Preto, Famerp e Faculdade de Medicina de Marília (Famema) e ficou em segundo lugar no Congresso ocorrido em outubro em Florianópolis, SC.
O prêmio Alexis Carrel foi entregue pela Regional São Paulo da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV) em dezembro à Ana Terezinha Guillaumon pelas atividades associativas, produção científica e contribuições à cirurgia vascular. O prêmio é concedido ao cirurgião vascular pelo destaque também nas áreas ética e humanitária.
“Tudo o que eu faço é ensinar os alunos, os médicos-residentes e aperfeiçoar as técnicas cirúrgicas em prol do paciente. Médico que não sabe sentir a dor do paciente não pode ser médico”, disse Ana Terezinha que tem se dedicado à SBACV há pelo menos 13 anos.
Relembrando o “excepcional” ano, Ana Terezinha disse que o primeiro prêmio é coletivo. Ela o compartilha com a equipe da Unicamp que tanto se orgulha – 5 médicos-assistentes, 8 médicos-residentes e um professor. Já o segundo prêmio – Alexis Carrel – é especial – assim como o médico francês do século XIX que recebeu o prêmio Nobel em Medicina em 1912 pela técnica de ligação de vasos sanguíneos entre doadores e receptores, pois na época não havia anticoagulantes para as transfusões de sangue. (Veja discurso de Ana Terezinha sobre Alexis Carrel ao receber o prêmio).
Emocionada, a cirurgiã vascular formada pela Faculdade de Medicina de Marília (Famema), doutorada pela FCM e professora há mais de 30 anos na Unicamp, disse que não adianta uma técnica cirúrgica perfeita se o paciente pode não sobreviver. Ela toma como exemplo o resultado da pesquisa dos pacientes submetidos a correção de aneurisma de aorta abdominal por via endovascular.
A cirurgia endovascular é uma especialidade relativamente nova dentro cirurgia. Ela começou em 1990 e a partir 2001 a equipe do Hospital de Clínicas (HC) Unicamp, coordenada por Guillaumon, tornou-se um centro de referência de alta complexidade em cirurgia endovascular reconhecido pelo Ministério da Saúde. Enquanto na cirurgia aberta de aneurisma de aorta abdominal o médico leva quatro horas para realizar todos os procedimentos, na cirurgia endovascular (fechada) ele leva apenas duas.
“Isso é um ganho para o resultado pós-operatório do paciente e para o hospital. Eu consegui desenvolver a cirurgia endovascular porque houve apoio administrativo e conseguimos passar a técnica para os médicos contratados e residentes. Somos uma escola”, lembrou Guillaumon.
De acordo com a professora, ela e a equipe da cirurgia vascular realizam 1.300 cirurgias por ano, sendo que, atualmente, 1/3 dessas cirurgias são pelo método endovascular. Esse número representa 15% dos pacientes que são atendidos anualmente no ambulatório do HC da Unicamp. Seguindo essa tendência, o próximo passo é inaugurar uma sala cirúrgica exclusiva com todos os equipamentos voltados a essa nova técnica. O investimento – já provado pela administração do HC da Unicamp – é de 3 milhões de reais.
“A população brasileira está envelhecendo e pacientes com problemas vascular tendem a aumentar. Precisamos estar preparados com a melhor técnica e a melhor terapêutica para atendê-los”, disse.
Cirurgia endovascular
A cirurgia endovascular é uma subespecialidade da cirurgia vascular em que são utilizados cateteres e guias, manipulados à distância e monitorados por monitores, no tratamento das doenças circulatórias. O procedimento é feito por cateterismo (punção) dos vasos ou ainda pequenas incisões cirúrgicas na virilha ou no membro superior, sob anestesia local ou geral, dependendo do caso. Por meio desta técnica é possível o tratamento de doenças arteriais e venosas.
Para as obstruções utilizamos o cateter-balão e os “stents” (pequena estrutura metálica usada para manter o vaso no calibre desejado) e para o tratamento dos aneurismas são utilizadas endopróteses, que são tubos de plástico colocados por dentro da artéria. A técnica já é usada no tratamento de flebites e varizes.
A cirurgia endovascular evita grandes incisões, cicatrizes e diminui o tempo da intervenção, da internação e os custos hospitalares.
Texto: Edimilson Montalti – ARP-FCM/Unicamp