HC define plano para atender pacientes com suspeita de Ebola


O Hospital de Clínicas da Unicamp está com o plano operativo para assistência aos pacientes suspeitos de doença pelo vírus ebola. Com o avanço da doença para nações fora do continente africano, a OMS alertou para que países como o Brasil reforcem os planos de prevenção. Especialistas alertam que pacientes com quadro de febre, provenientes de países com transmissão do ebola como Libéria, Guiné e Serra Leoa devem ter atenção triplicada. O documento foi distribuído aos principais setores do hospital.
 
Na Unicamp o planejamento foi preparado pelo Núcleo de Vigilância Epidemiológica da Seção de Epidemiologia Hospitalar do HC sob orientação do Ministério da Saúde. Nele estão normas sobre detecção, notificação, atendimento, isolamento, precauções de contato, orientações para vestimenta e retirada de EPIs (equipamentos de proteção individual), procedimentos para diagnóstico laboratorial, tratamento, investigação epidemiológica e transporte de pacientes suspeitos.
 
Qualquer caso suspeito detectado será imediatamente notificado aos órgãos de vigilância municipal, estadual e federal, para o devido encaminhamento aos hospitais de referência do Estado e nacional. O Instituto Nacional de Infectologia, no Rio de Janeiro, foi eleito pelo governo brasileiro como hospital de referência nacional, para onde devem ser direcionados os pacientes em isolamento.
 
Dois aviões da Polícia Rodoviária Federal e da Força Aérea Brasileira farão o transporte. O Instituto Evandro Chagas (IEC), no Pará, será o laboratório que vai analisar as amostras dos casos suspeitos de ebola que eventualmente surgirem no país. A contraprova da amostra segue para o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) de Atlanta, nos Estados Unidos, onde o resultado será confirmado e o vírus identificado.
 
Segundo o infectologista do CCIH, Luis Gustavo Oliveira Cardoso, a OMS reafirma que a maneira mais eficaz de barrar a circulação do vírus ebola pelos continentes é a prevenção. “O surto de doença pelo vírus Ebola está ainda em curso, de tal forma que muitas das recomendações, tanto para prevenção da transmissão da doença quanto para seu manejo, estão em contínuo desenvolvimento e aprimoramento”, informa Cardoso.
 
“Este documento com 16 páginas será atualizado constantemente, a medida do avanço da epidemia e/ou modificações nas condutas sugeridas pelas autoridades sanitárias”, ressalta o infectologista do HC. O Núcleo de Vigilância Epidemiológica realizou ainda um curso para mais de 150 profissionais de saúde do hospital sobre o plano.
 
Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, o microbiólogo belga e descobridor do vírus em 1976, Peter Piot, afirma que não existe motivo para dizer que o Brasil não seria afetado, diante do pior surto da doença na história. O consultor da Organização Mundial da Saúde e maior especialista do mundo em ebola insiste que parar a epidemia é a prioridade e os esforços precisam ser concentrados na África. “As pessoas viajam e não há fronteiras para o vírus”.
 
Na doença pelo vírus ebola, os sintomas geralmente começam de forma abrupta, cursando com febre superior a 38°C, cefaléia, fraqueza, diarreia, vômitos, dor abdominal, inapetência, odinofagia e manifestações hemorrágicas. O período de incubação, pode variar de 2 a 21 dias, e não há transmissão durante a incubação. A transmissão acontece somente após o aparecimento dos sintomas, e ocorre por meio do contato com sangue, tecidos ou fluidos corporais de indivíduos infectados (incluindo cadáveres), ou do contato com superfícies e objetos contaminados.
 
CASO SUSPEITO: Indivíduo procedente, nos últimos 21 dias, de país com transmissão disseminada ou intensa de Ebola* que apresente febre de início súbito, podendo ser acompanhada de sinais de hemorragia, como: diarréia sanguinolenta, gengivorragia, enterorregia, hemorragias internas, sinais purpúricos e hematúria. Em locais com transmissão focalizada de doença pelo vírus Ebola**, apenas serão considerados suspeitos os indivíduos que relatem contato com pessoa com suspeita ou com diagnóstico de Ebola.
 
CASO PROVÁVEL: caso suspeito com histórico de contato com pessoa doente, participação em funerais ou rituais fúnebres de pessoas com suspeita da doença ou contato com animais doentes ou mortos.
 
CASO CONFIRMADO: Caso suspeito com resultado laboratorial para Reação de Polimerase em Cadeia (PCR) conclusivo para Ebola realizado em laboratório de referência.
 
CASO DESCARTADO: Caso suspeito com dois resultados laboratoriais para Reação de Polimerase em Cadeia (PCR) negativos para Ebola realizados em Laboratório de Referência definido pelo Ministério da Saúde, com intervalo mínimo de 48 horas entre as duas colheitas.
 
CONTACTANTE ou COMUNICANTE: Indivíduo que teve contato com sangue, fluido ou secreção de caso suspeito ou confirmado; ou que dormiu na mesma casa; ou teve contato físico direto com casos suspeitos ou com corpo de casos suspeitos que foram a óbito (funeral); ou teve contato com roupa ou roupa de cama de casos suspeitos; ou que tenha sido amamentado por casos suspeitos (bebês).
 
* Libéria, Guiné e Serra Leoa
** cidade de Port Harcourt/Nigéria
 
Sobre o Ebola – A doença pelo Vírus Ebola (DVE) é causada por vírus da família Filoviridae, gênero Ebolavirus. A primeira espécie de vírus Ebola foi descoberta em 1976, onde atualmente é a República Democrática do Congo, próximo ao rio Ebola. Desde então, os surtos têm ocorrido esporadicamente.
 
Há cinco subespécies identificadas de vírus Ebola, quatro deles causando doenças nos seres humanos: vírus Ebola (Zaire Ebolavirus); Vírus Sudão (Sudan Ebolavirus); Vírus Taï Forest (Floresta Taï Ebolavirus, ex- Côte d’Ivoire Ebolavirus) e vírus Bundibugyo (Bundibugyo Ebolavirus). O quinto vírus, Reston (Reston Ebolavirus), causou até o momento a doença em primatas não humanos.
 
De acordo com as evidências científicas disponíveis, o vírus é zoonótico e algumas espécies de morcegos do continente são o reservatório mais provável. Quatro dos cinco subtipos, ocorrem em hospedeiro animal nativo da África. O surto já matou 3.879 pessoas em um total de 8.033 casos até 5 de outubro, segundo a OMS.

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Caius Lucilius com Caroline Roque

Assessoria de Imprensa do HC Unicamp