Nilton Pereira Junior, diretor de Atenção Hospitalar, Domiciliar e de Urgência do Ministério da Saúde, esteve na quinta-feira (23) no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, participando do evento SUS, atenção especializada e hospitais, promovido pela Superintendência do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp e pelo Programa de Mestrado Profissional em Saúde Coletiva da FCM.
Um dos temas abordados na parte da amanhã foi a regionalização da saúde. Elaine Cristina de Ataide, superintendente do HC da Unicamp, disse que o assunto não é novo e que já vem sendo discutido há bastante tempo dentro e fora da Universidade.
“Apesar de nosso hospital ter uma Unidade de Emergência Referenciada, ela não é, pois recebemos muitos pacientes de forma espontânea. Para podermos fazer o referenciamento e contrarreferenciamento, é necessário ajudarmos na capacitação das equipes de saúde dos hospitais das cidades vizinhas e até mesmo abrir outras portas”, disse Elaine, afirmando que está em discussão, para 2024, a instalação de um novo hospital na região de Campinas.
Fernanda Penatti, diretoria da Diretoria Regional de Saúde de Campinas (DRS-7) apresentou os dados de um relatório produzido a pedido da Secretaria Estadual de Saúde que traz indicadores de saúde dos municípios da região de Campinas, Sorocaba e São João da Boa Vista, que são territórios vizinhos.
“Tivemos que ampliar o olhar para ver onde essas pessoas são atendidas porque a porta de entrada do SUS para o usuário é aquela que está aberta. A rede regionalizada pressupõe o menor deslocamento do usuário dentro de sua região e vem organizar e aplicar a equidade e o acesso oportuno que eles precisam”, explicou Fernanda.
Para o médico sanitarista Gastão Wagner de Souza Campos, a política tradicional de saúde vigente é, ainda, o atendimento principal centrado nos hospitais. Ao levantar durante o evento exemplos de serviços públicos de saúde de outros países, como Canadá, França, Inglaterra e Uruguai, o professor do Departamento de Saúde Coletiva trouxe à discussão o conceito chamado de sistema/rede de atenção à saúde e citou Campinas como cidade pioneira em internação hospitalar.
“Cada equipe multiprofissional composta por médicos, enfermeiros, psicólogos e fisioterapeutas acompanha diversos pacientes que equivale a 400 leitos de hospital. A regionalização permite pensar várias formas de atendimento e isso traz possibilidade de mudanças e bem-estar aos pacientes com menos recursos”, disse Gastão durante sua apresentação.
Na parte da tarde, Nilton apresentou a Política Nacional de Atenção Especializada (PNAES) instituída pela Portaria GM/MS nº 1.604, de 18 de outubro de 2023 que dialoga com o Sistema Único de Saúde (SUS). “Não é possível realizar uma atenção especializada de costas para a atenção primária e para as inovações do mundo e dos sistemas universais de saúde”, disse Nilton.
Entre as prioridades da PNAES apresentadas estão a preparação para emergências sanitárias como epidemias e mudanças climáticas, investimentos para a ampliação e fortalecimento do complexo econômico e industrial da saúde orientados pelas necessidades do SUS, a expansão da saúde digital, a certificação dos hospitais de ensino, o fortalecimento e ampliação do SAMU, a atenção especial às doenças raras e aos transtornos do espectro do autismo e a incorporação de equipes multidisciplinares de cuidados paliativos como estratégia de cuidado integral.
“O cuidado paliativo é transversal. Nós também estamos discutindo a primeira política nacional de cuidados paliativos do SUS que sairá ainda nesse ano”, revelou Nilton em primeira mão.
Daniele Pompei Sacardo, professora do Departamento de Saúde Coletiva da FCM e responsável pela disciplina de cuidados paliativos do curso de graduação em Medicina, ressaltou que as pessoas presentes no evento eram testemunhas de um momento histórico na construção de “uma política pública sobre vida e morte no Brasil e a FCM é uma das poucas faculdades de Medicina que incluem essa disciplina em sua grade curricular”.
Especialista e responsável pela área de cuidados paliativos do HC da Unicamp, a médica Cristina Terzi disse que oito em cada dez pessoas no Brasil poderão ser elegíveis para os cuidados paliativos. “O cuidado paliativo não é um luxo, mas uma necessidade de saúde pública. Ele não é uma escolha, mas um direito necessário diante do sofrimento físico, psicológico, social e espiritual do paciente e dos familiares”, disse Cristina.
Após todas as apresentações, abriu-se uma roda de conversa para troca de experiências. Os gestores presentes ao encontro falaram sobre suas necessidades e esclareceram dúvidas. Ao final, Nilton se colocou à disposição para receber as demandas da área da saúde da Unicamp e da região de Campinas.
“Estamos fazendo um esforço de dialogar com as secretarias de saúde municipais e estaduais e com as Universidades. Todas as nossas políticas públicas são baseadas nas evidências e experiências dos gestores, trabalhadores e prestadores de serviço e nas melhores práticas nacionais e internacionais de saúde”, concluiu Nilton que fez seu mestrado, doutorado em Saúde Coletiva e sua residência médica em Medicina Preventiva na Unicamp.
Texto e fotografia: Edimilson Montalti – Núcleo de Comunicação HC Unicamp