HC incorpora nova técnica para transplante de córnea


Visando atualizar as técnicas utilizadas em transplante de córnea do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, o Serviço de Oftalmologia incorporou recentemente, um sistema cirúrgico avaliado em R$ 171 mil. O equipamento de última geração possui entre outras vantagens a realização de cortes precisos e regulares na córnea, a possibilidade de beneficiar dois pacientes receptores com apenas uma córnea doadora e realizar cirurgias quatro vezes mais rápido. Desde 1991 mais de dois mil transplantes de córnea foram realizados no HC.

Conhecido por microcerátomo, o sistema permite a realização de cortes precisos e regulares na córnea, sendo essa a técnica de transplante lamelar profundo, no qual não se retira toda a espessura do tecido, mas sim apenas a porção anterior, que está doente. Dessa forma, preservam-se as camadas mais profundas da córnea que estiverem sadias. Esse transplante é indicado para doenças que não afetaram todas as camadas do órgão.

“O HC como centro de transplante, tem que oferecer aos pacientes toda tecnologia que está ao nosso alcance”, afirma a coordenadora do Núcleo de Prevenção a Cegueira do HC e responsável pelo Banco de Olhos do hospital, Denise Fornazari. O equipamento foi adquirido com recursos do Seminário Oftalmológico (associação de profissionais da Unicamp) e da reitoria.

O transplante lamelar tem as vantagens de recuperação visual mais rápida, menor risco de rejeição da córnea doadora e maior tempo de sobrevida do transplante, pelo fato de preservar as células endoteliais do paciente receptor. “É um procedimento que evita em 90% as chances de rejeição”, explica a docente e oftalmologista do HC, Rosane Silvestre de Castro, que junto com outros dois cirurgiões, conduzirá os transplantes.

O tempo cirúrgico também é um fator beneficiado pelo novo sistema, uma vez que o transplante de córnea penetrante dura em média uma hora, contra 15 minutos para o lamelar ser concluído. No dia da cirurgia, enquanto o paciente é preparado no centro cirúrgico, as córneas poderão ser cortadas no mesmo momento. Outra vantagem será a possibilidade de beneficiar dois pacientes receptores com apenas uma córnea doadora.

A córnea é a superfície transparente que cobre o centro do olho e constitui a sua importante lente. Quando a córnea se torna opaca por doenças, trauma, infecção ou outra causa, a visão pode diminuir drasticamente. Como não existe um substituto para este tecido, o transplante depende exclusivamente da doação de córnea.

Técnicas
Há ainda outros dois tipos de transplantes: penetrante e endotelial. Cada um é realizado de acordo com a indicação e com o grau de comprometimento da córnea. O penetrante é o modelo clássico, no qual troca-se toda a região central do tecido e toda a espessura. A córnea do paciente receptor e a do doador são cortadas com uma lâmina de corte especial chamada trépano.

O endotelial é um tipo de transplante lamelar para quando apenas a porção mais profunda da córnea está doente e o restante está normal. Assim é possível trocar só a camada profunda, chamada endotélio.

Transplante
O Banco de Olhos da Unicamp começou a transplantar em 1991, e a partir de 2000 a Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO), passou a distribuir as córneas pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT). Desde o primeiro ano, em que foram realizadas 35 cirurgias, até 2014 com 67, o HC transplantou 2041 córneas.

O transplante de córnea tem sido realizado há vários anos com sucesso na maioria dos casos graças à melhoria das técnicas cirúrgicas e do treinamento dos cirurgiões, e aos bancos de olhos, que cada vez mais têm fornecido material doador de alta qualidade. Hoje, 23 pacientes estão na fila de espera para o transplante no HC, com um tempo estimado em quatro meses para a cirurgia.

É usualmente um procedimento seguro e com baixa morbidade, por isso o número de cirurgias aumentou muito nos últimos anos, o que fez com que cada vez mais fossem utilizados e estudados os critérios de doação do tecido doador, na tentativa de rastrear qualquer doença que possa ser transmitida pela cirurgia.

Caius Lucilius com Caroline Roque
Assessoria de Imprensa do HC Unicamp