O Hospital de Clínicas da Unicamp continua com a campanha permanente de coleta de filmes de raios-X. O objetivo é orientar a comunidade interna e também a população de Campinas e região, sobre o descarte adequado deste tipo de material. A expectativa é recolher filmes que serão destinados a uma empresa especializada em recuperação de prata, um dos componentes dos raios-X. Todo recurso arrecadado será investido no próprio Hospital de Clínicas. Em 90 dias de campanha já foram arrecadados 250 quilos de filmes de raio-x, doados inclusive por outros hospitais como o Vera Cruz, Casa de Saúde e clinicas radiológicas.
Segundo Rosemary Oliveira Juliano, coordenadora da campanha, os filmes de raios-X também conhecidos como chapas, contêm metanol, amônia e metais pesados como cromo e prata, que contaminam o solo e os lençóis freáticos quando descartados de forma indevida no lixo doméstico. Antes do descarte, alerta Rosemary, as pessoas devem perguntar ao médico que pediu os exames se não haverá uma nova utilização do material com a necessidade de guardá-los. Depois de descartados será impossível reaver as chapas, ressalta Rosemary do Comitê de Qualidade do HC.
Para o superintendente do HC, professor Manoel Bértolo, a importância sobre o tema preservação ambiental faz parte de uma contínua discussão na instituição sobre alternativas tecnológicas para compensação ambiental. É o caso do sistema de PACS (Picture Archiving and Communication System – Sistema de Comunicação e Arquivamento de Imagens) que está substituindo gradualmente os filmes radiológicos por imagens digitais. A distribuição digital das imagens tem agilizado a avaliação dos médicos, proporcionando melhorias na disponibilização dos exames e dos laudos médicos para os pacientes em estações trabalho instaladas em diveras áreas do hospital. “A utilização do PACS melhorou os processos internos e tem gerado grande economia para a instituição, pois diminuímos a utilização de insumos caros, como filmes e produtos químicos”, salienta Bértolo.
A opinião também é compartilhada pelo diretor da Faculdade de Ciências Médicas (FCM-Unicamp), professor Mário Saad, que ressalta o papel fundamental da Faculdade no ensino, pesquisa e assistência assim como buscar um equilíbrio dinâmico com as unidades vinculadas, em termos de investimentos em tecnologias sustentáveis. “Parece-me indiscutível que, nas próximas décadas, as ações no campo da ciência e tecnologia para área da saúde se dirigirão fortemente para a melhoria da questão ambiental. Essa é uma área que está conquistando um papel central no planejamento de nosso futuro”, enfatizou Saad.
No HC da Unicamp estarão disponíveis quatro pontos de coleta devidamente identificados nas entradas do Hospital. A campanha no HC quer incentivar o descarte consciente deste tipo de produto, evitando o descarte em lixo comum, o que é proibido por lei. Somente no HC são realizados por ano mais de 100 mil exames de raios-X. Já as soluções de fixadores empregadas na revelação do filme também são destinadas a reciclagem e chegam a 4.500 mil litros/ano. Os raios-X têm sido utilizados na medicina praticamente desde sua descoberta, no final do século XIX.
Depois de encaminhadas à empresa especializada em soluções para recuperação de prata, fundição e tratamento de efluentes, autorizada e licenciada pela CETESB, as chapas são mergulhadas em uma solução de água de soda cáustica, passando por um processo de eletrificação do íon de prata, no qual a prata é recuperada e posteriormente poderá ser utilizada na produção de jóias e talheres. Já as folhas de poliéster (PVC) de alta qualidade, podem ser reutilizadas na produção de embalagens, bolsas, capas de caderno, etc.
A mesma campanha já foi realizada no Hospital das Clínicas de São Paulo, no Instituto Central. Em São Paulo, foram arrecadadas uma tonelada e meia de radiografias e todo o material foi doado para o Fundo de Solidariedade de São Paulo (Fussesp) que ficou responsável pela venda das chapas a uma empresa de reciclagem. Pesquisas sobre o tema na literatura demonstram que a receita resultante da comercialização da prata (que varia de 3,5 a 10,2 g/l), recuperada a partir do fixador usado é suficiente para que toda a despesa correspondente à sua implantação seja paga. O quilo da prata no mercado custa cerca de R$ 500,00.