O HC da Unicamp promoveu nesta quarta-feira (26/3), atividades em alusão ao “Purple Day” (Dia do Roxo, em português), para conscientização sobre a epilepsia. As ações aconteceram na rampa do 3º andar, entre 11h e 12h, com orientações da equipe de médicos, residentes e enfermeiros do Serviço de Neurologia do HC, que atende em média, 100 pacientes por semana no ambulatório de epilepsia.
A epilepsia é uma das doenças neurológicas mais comuns em todo o mundo. No Brasil acomete aproximadamente 3 milhões de brasileiros e 50% destes, tem as suas crises começando na infância ou adolescência, segundo dados da Assistência à Saúde de Pacientes com Epilepsia (ASPE), organização com sede em Campinas e apoio da Unicamp. Segundo dados da Organização Pan-americana de Saúde, 70 milhões de pessoas sofrem de epilepsia no mundo. Cercada de estigma e preconceito, a epilepsia é uma doença que afeta não apenas a saúde do indivíduo, mas também o convívio social do mesmo. “Os números mostram que a doença atinge 1% da população mundial. Pode parecer pouco, mas não é se considerarmos a quantidade de pessoas que se tornam improdutivas e impedidas de um convívio social saudável”, explica o neurologista do HC e fundador da ASPE, Li Li Min.
De acordo com a ASPE, estima-se que na região de Campinas, 40% das pessoas com epilepsia não passam pelo devido tratamento (20% não passam por nenhum tipo e outras 20% passam pelo tratamento inadequado). “O objetivo é tirar a epilepsia das sombras e traze-la às pautas de discussões de doenças graves, assim diminuímos a falta de conhecimento sobre ela” ressalta.
A epilepsia é um distúrbio do cérebro que se expressa por crises epilépticas repetidas. O que acontece são alterações transitórias dos impulsos nervosos, como se fossem pequenos curtos circuitos que causam uma pane de poucos segundos no cérebro. Dependendo da região atingida, há sintomas aparentes, como tremores no braço, ou pelo corpo todo (caso a ‘pane’ aconteça em todo o cérebro).
As crises costumam durar alguns segundos. Caso a crise demore mais de 5-10 minutos, o chamado estado de mal epilético, é necessário chamar uma ambulância para que o paciente seja atendido em um hospital.
A causa que dá origem à doença pode ser uma lesão no cérebro, decorrente de uma forte pancada na cabeça, uma infecção (meningite, por exemplo), neurocisticercose (“ovos de solitária” no cérebro), algo que ocorreu antes ou durante o parto, abuso de bebidas alcoólicas, de drogas, etc. Porém, muitas vezes não é possível identificar essas causas.
Crises
As crises epilépticas podem se manifestar de diferentes maneiras:
A crise convulsiva é a forma mais conhecida pelas pessoas e é identificada como “ataque epiléptico”. Nesse tipo de crise a pessoa pode cair no chão, apresentar contrações musculares em todo o corpo, mordedura da língua, salivação intensa, respiração ofegante e às vezes, até urinar.
A crise do tipo “ausência” é conhecida como “desligamentos”. A pessoa fica com o olhar fixo, perde contato com o meio por alguns segundos. Por ser de curtíssima duração, muitas vezes não é percebida pelos familiares e/ou professores.
A crise parcial complexa que se manifesta como se a pessoa estivesse “alerta” mas não tem controle de seus atos, fazendo movimentos automaticamente. Durante esses movimentos automáticos involuntários, a pessoa pode ficar mastigando, falando de modo incompreensível ou andando sem direção definida. Em geral, a pessoa não se recorda do que aconteceu quando a crise termina.
Diante de uma convulsão, o correto a se fazer é primeiramente ficar calmo, proteger a cabeça da pessoa, posicionar o corpo dela de lado, afastar objetos que ofereçam risco à pessoa e acalmar os observadores. Caso a crise demore mais de 5 minutos para passar, chame uma ambulância.
Algumas atitudes na ocorrência de uma crise epilética são erradas e precisam ser evitadas, como apavorar-se, colocar objetos na boca da pessoa (ela não engole a língua), dar líquidos para que ela beba ou cheire, ou acreditar que a epilepsia é sinal de fracasso ou castigo de Deus.
A grande maioria das pessoas com epilepsia podem ser consideradas de baixa complexidade, pois ficam livres de crises com apenas uma medicação de baixo custo.
O impacto psicossocial e econômico do problema demanda uma resposta social e médico-assistencial ampla. Tal resposta está amparada pelo fato de que a epilepsia é uma condição tratável. “Em 70% dos casos, o paciente fica livre das crises com o tratamento de medicamentos. Mas infelizmente poucas pessoas fazem o tratamento adequado”, completa Li Li Min.
História
O Dia do Roxo foi criado pela canadense Cassidy Megan quando tinha 9 anos, em 2008, motivada por sua própria luta em relação à epilepsia. O objetivo era fazer com que as pessoas falassem mais sobre a doença, em um esforço para acabar com mitos e informar aqueles que têm convulsões, de que não estão sozinhos. A Epilepsy Association of Nova Scotia(Associação de Epilepsia de Nova Scotia), surgiu em 2008 para ajudar no desenvolvimento da ideia de Cassidy, o que possibilitou a consolidação da campanha, atualmente conhecida por “Purple Day”. Hoje, a campanha possui embaixadores em 79 países do mundo. No Brasil estão em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Caius Lucilius com Caroline Roque
Assessoria de Imprensa do HC Unicamp