Nos últimos seis anos, a equipe responsável pelas cirurgias bariátricas realizadas no Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp não registrou um único caso de morte após as intervenções. O dado foi apresentado nesta quarta-feira (16) pelo gastrocirurgião Elinton Adami Chaim, durante evento em comemoração aos 11 anos da adoção do procedimento pelo HC. Apesar das importantes conquistas alcançadas ao longo do período nessa área de tratamento da obesidade mórbida, Chaim destacou que ainda é preciso obter novos avanços, principalmente para impedir que pacientes continuem morrendo na fila de espera pela operação. Atualmente, segundo ele, 1.347 pessoas aguardam a vez para se submeter à terapêutica.
Segundo Chaim, quando o HC começou a fazer as cirurgias bariátricas, em 1998, o índice de mortalidade relacionado ao período pós-operatório girava em torno de 4%. Ele explicou que o número foi zerado graças, entre outras medidas, à adoção de um programa inédito, cujo principal objetivo é conscientizar e preparar os pacientes para a operação. Dividido em etapas e realizado por uma equipe multiprofissional, formada por médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos etc, o trabalho possibilita que o obeso chegue em condições mais favoráveis à sala de cirurgia, o que contribui para a redução de eventuais complicações.
Embora considere a cirurgia bariátrica uma “intervenção muito agressiva”, Chaim assinalou que ela continua sendo a melhor alternativa para os casos em que outros métodos terapêuticos para a perda de peso não se mostram eficazes. “O procedimento contribui para a redução significativa das co-morbidades. Nos estudos que realizamos com nossos pacientes, nós identificamos que problemas como diabetes, hipertensão arterial e apnéia do sono são reduzidos entre 60% e 80% dos casos”, afirmou. Além disso, prosseguiu o gastrocirurgião, pesquisas também indicam que a taxa de mortalidade entre os obesos submetidos à cirurgia bariátrica é de quatro a cinco vezes menor do que entre aqueles que não lançam mão dessa alternativa.
Ainda que os resultados alcançados pelo grupo de cirurgia bariátrica do HC ao longo dos últimos 11 anos sejam considerados altamente significativos, Chaim fez questão de assinalar que há a necessidade de avançar em relação ao tratamento dos obesos mórbidos, notadamente no que toca à ampliação do número de operações. Atualmente, a unidade hospitalar realiza entre 16 e 20 procedimentos por mês. Aguardam neste momento na fila 1.346 pacientes. “Infelizmente, é possível que alguns deles morram antes de serem chamados para a cirurgia. Nós não temos condições de ampliar o número de procedimentos porque nos faltam recursos humanos e infraestrutura para isso”, lamentou.
Conforme o também gastrocirurgião José Carlos Pareja, que introduziu a cirurgia bariátrica no HC, mesmo enfrentando limitações, a unidade hospitalar é uma das que mais realiza esse tipo de intervenção no país. Ele chamou a atenção para a necessidade de as autoridades darem mais atenção a programas de controle e tratamento da obesidade. “Nos dias de hoje, a epidemia de obesidade é responsável por cerca de 30% de todo o gasto com saúde pública no mundo, em razão dos problemas que causa. Ou seja, se combatermos a obesidade, certamente estaremos economizando dinheiro e oferecendo maior qualidade de vida à população”, considerou.
O Brasil, continuou Pareja, soma algo como 3,8 milhões de obesos mórbidos. Entretanto, apenas 30 mil pacientes são operados anualmente, o que corresponde a menos de 1% da fila de espera. “O Sistema Único de Saúde, que deveria responder por 60% das operações no Estado de São Paulo, na verdade arca com apenas 20%. Isso mostra que as autoridades públicas ainda não perceberam a gravidade da situação”, lamentou. Conforme Chaim, uma das alternativas encontradas pela Unicamp para atender a um número maior de pacientes é a definição de parcerias com municípios.
Uma experiência que vem dando resultados muito positivos nesse sentido conta com a colaboração da cidade de Pedreira, nas imediações de Campinas. O modelo estabelece que os candidatos à cirurgia sejam orientados e preparados no próprio município, com o suporte de uma equipe profissional. “Todos os procedimentos necessários, como exames, são feitos no município e pagos pela prefeitura. As pessoas chegam ao HC prontas para a cirurgia. Além de reduzir os custos do hospital, esse programa facilita a vida dos pacientes e confere um ganho ao tratamento como um todo. Nós estamos abertos a novas cooperações desse tipo”, afirmou Chaim.
Manuel Alves Filho (texto), Antonio Scarpinetti (fotos) e Everaldo Silva (edição das imagens)
ASCOM