O trabalho de pesquisa “Impacto Clínico de 68Ga-PSMA PET/CTIN Câncer de Próstata em Pacientes Brasileiros”, de autoria da médica residente Aline Mattiolli, do Serviço de Medicina Nuclear do Hospital de Clínicas da Unicamp, recebeu a premiação máxima do XXXI Congresso Brasileiro de Medicina Nuclear, organizado pela Associação Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN). O evento aconteceu em Florianópolis, dos dias 2 a 4 de novembro, e contou com a presença de mais de 800 profissionais ligados à radio farmácia, biomedicina e física aplicadas a esse campo da medicina.
Durante a pesquisa realizada pela aluna, foram avaliados mais de 140 pacientes, todos brasileiros, de diferentes estados, que já haviam tratado o câncer de próstata e apresentaram recidiva bioquímica, ou seja, que realizaram o exame de PSA e constataram o retorno das células cancerígenas. Em mais de 60% dos pacientes acompanhados pelo estudo, o exame 68Ga-PSMA PET/CTIN apresentou o local exato a ser tratado.
Segundo dados fornecidos pelo INCA (Instituto Nacional do Câncer), o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens (atrás apenas do câncer de pele não-melanoma). Além disso, possui uma alta incidência de recidiva bioquímica. Mesmo após terem sido tratados, cerca de 50% dos pacientes voltam a ter a doença. Neste caso, os métodos convencionais para detecção das células cancerígenas como a ressonância magnética, cintilografia ou a tomografia nem sempre consegue detectar a área correta de recorrência.
“O PET/CT PSMA é um método novo de diagnóstico e está começando a mostrar mais informações em relação a essa recorrência. Durante o exame usamos um marcador de células de próstata com a radiação GA 68. Ela é injetada no paciente e depois de uma hora, ele é levado para um equipamento que faz a análise de todo seu corpo, da cabeça até a raiz das coxas, e o local onde ele encontra as células de próstata a serem tratadas é determinado pela cor. Esse já é um método muito difundido na Europa e em outros paises, mas no Brasil ele ainda está sendo usado apenas em alguns centros, que possuem acesso a esse tipo de pesquisa”, explica Mattiolli.
Participaram da disputa pelo melhor projeto, cerca de 216 trabalhos, que contou com uma equipe de pesquisadores de áreas correlatas para serem avaliados. Cinco categorias concorriam ao prêmio: Física, Farmácia, Terapia em Medicina Nuclear e PST/PET, Ressonância e de Cintilografia Convencional. Os trabalhos passaram por avaliação de duas equipes, uma delas composta por cientistas internacionais.
A Presidente do comitê científico, médica Elba Etchebehere, explica a importância da realização do exame e salienta alguns entraves que não permitem sua divulgação no país. “Acredito que o principal, além de todo benefício que trará ao paciente, é ampliar o assunto no Brasil. Esse exame já é realidade em vários países do mundo, mas infelizmente, o acesso a esse material (PSMA) ainda não é permitido pela ANVISA. Então muitos pacientes acabam recorrendo à medicina internacional para poderem passar por esse exame. É um tratamento caro, é um exame caro. Mas quanto custa uma radioterapia? Quando não detectado corretamente, o paciente pode passar por nova radioterapia para pelve, só que em alguns casos, o tumor pode estar em outro lugar”, esclarece Elba.
Ainda segundo Elba Etchebehere, a ideia é que com a divulgação e aumento da discussão do tema, o exame proporcione uma redução de custos a médio e longo prazo, já que por meio dele, é possível localizar as células doentes e realizar o tratamento radioterápico no local exato da lesão, além de evitar o desgaste do paciente que não precisará enfrentar um processo mais longo de tratamento.
Para Aline, a principal importância é o impacto na mudança de tratamento dos pacientes. “Encontrar onde realmente está a lesão, a doença, para fazer o tratamento mais adequado é sem dúvida um grande avanço. Todo mundo quer a solução do seu problema, quem está doente quer viver bem, e o exame pode ajudar. Esse exame tem mudado a perspectiva de vida desses pacientes e o objetivo da medicina é esse: procurar e aliviar a dor dos que precisam”, afirma a médica do serviço de medicina nuclear.
A medicina nuclear é a especialidade médica que utiliza métodos seguros, praticamente indolores e não invasivos, empregando materiais radioativos com finalidade diagnóstica e terapêutica como ferramenta para acessar o funcionamento dos órgãos e tecidos vivos, realizando imagens, diagnósticos e, também, tratamentos. É utilizada para fornecer informações precisas de exames e diagnósticos do corpo que vai desde a parte mental às doenças cerebrais até, principalmente, os cânceres.
Caius Lucilius com Juliana Castro – Assessoria de Imprensa HC