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A medicina atual vislumbra novas possibilidades de terapia na área de saúde, bem como de tecnologia colocada a serviço do paciente. Algumas estão chegando no mercado, como as vacinas contra o Papiloma Vírus Humano (HPV), duas grandes promessas que contam com a participação da Unicamp, fruto de estudo multicêntrico; o equipamento PET-CT, um importante aliado no tratamento sobretudo do câncer; e os remédios radioativos (os radiofármacos), que podem ser empregados em alguns tipos específicos de tumores, como os linfomas refratários aos tratamentos convencionais. A equipe do Portal Unicamp entrevistou médicos especialistas da Universidade que atuam em diferentes áreas sobre estas novas terapias e tecnologias.

Neurologia – De acordo com Elizabeth Quagliato, neurologista da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, também a tomografia por emissão de pósitrons, o PET, permite avaliar a função de áreas específicas do cérebro. Pode determinar, por exemplo, se uma pessoa terá doença de Parkinson através da análise do conteúdo do neurotransmissor dopamina, que é menor nos que têm ou terão essa doença. No momento, esse exame somente é indicado em pesquisas, mas futuramente poderá ser usado para fazer diagnósticos antes de os sintomas aparecerem. A ressonância magnética, segundo ela, também se aperfeiçoou muito, fornecendo informações sobre a função das estruturas cerebrais.

Para o tratamento da doença de Parkinson, a segunda doença neurodegenerativa mais incidente no mundo, está sendo desenvolvido um estudo multicêntrico com a participação da Unicamp. Envolve uma medicação que age através de um mecanismo diferente das demais. Ela inibe os receptores de aspartato, que são potencialmente tóxicos às células cerebrais. A nova pesquisa será iniciada com um agonista dopaminérgico (isto é, uma droga que funciona como a dopamina) de longa ação.

Ainda chegará em breve ao mercado um outro medicamento com a propriedade de retardar a evolução da doença de Parkinson – a rasagilina. Tal medicação estará disponível para os pacientes ainda nesse semestre. Quanto ao mal de Alzheimer, a doença neurodegenerativa mais freqüente, será lançado um adesivo de rivastigmina, droga já usada via oral que possibilita uma melhor aceitação do medicamento, por diminuir efeitos colaterais.

A esclerose múltipla, doença desmielinizante/degenerativa que acomete mais mulheres jovens, tem sido igualmente alvo de pesquisas, tanto em relação à sua causa, até o momento desconhecida, quanto ao seu tratamento. Está sendo estudada também na Unicamp, em parceria com outros centros mundiais, uma medicação para ser administrada via oral com o objetivo de prevenir surtos (ataques da mielina por anticorpos produzidos pelo próprio paciente). Chegará ao mercado brasileiro esse ano um neutralizador de anticorpos que poderá ser usado em alguns pacientes com essa doença – o natalizumab.

Conforme Elizabeth Quagliato, os conhecimentos na Neurologia evoluíram muito desde a época de Charcot, o “pai da Neurologia”, que no século XIX foi capaz de diagnosticar quase todas as doenças e indicava medicamentos empíricos. “Naquela época, usavam-se a sangria, laxativos, medicamentos baseados em plantas, como a beladona, que Charcot utilizava para tratar a doença de Parkinson. E funciona”, revela a neurologista.

Segundo ela, hoje, para se dizer que uma medicação funciona, são necessárias várias etapas de estudo, começando pelos laboratórios. A seguir, são feitos estudos com modelos animais, isto é, animais que apresentem características semelhantes às dos doentes. Depois, os estudos são feitos com voluntários sadios, que recebem a medicação para se observar como ela é metabolizada (destruída e excretada pelo fígado, intestino e rins).

Somente depois dessas etapas, que podem durar anos, é que os pacientes recebem a medicação, sendo muito importantes, no caso, os estudos com placebo. Placebo é um falso medicamento, sem nenhuma ação (pílula de “farinha”), cujos efeitos serão comparados aos do medicamento analisado. Somente se um medicamento funcionar muito mais que o placebo pode-se dizer que ele é eficaz. “Por isso temos que tomar cautela para analisar alguns ‘milagres’ que aparecem na mídia, prometendo a cura das doenças neurológicas. As pessoas que acreditam nisso gastam tempo e dinheiro e não resovem seus problemas. Os medicamentos devem ser indicados apenas se houver grandes indícios de que poderão beneficiar as pessoas, sem causar-lhes danos”, adverte Elizabeth Quagliato.

Oncologia – Apesar das vacinas terapêuticas para o tratamento de lesões pelo Papiloma Vírus Humano (HPV) ainda estarem em estudo, a grande novidade é a sua aprovação para uso populacional na prevenção do aparecimento da infecção por determinados tipos de HPV. Há duas vacinas aprovadas desde 2006. Seus estudos iniciaram na década de 90 e, os primeiros testes clínicos, em 2000. O Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism) da Unicamp e o Centro de Pesquisas Materno-Infantis de Campinas (Cemicamp) participaram diretamente do desenvolvimento clínico dos estudos das duas vacinas.

De acordo com o oncologista Júlio Teixeira, médico assistente do Caism, o maior avanço no tratamento de lesões genitais pré-câncer causadas pelo HPV é o conhecimento adquirido sobre a lenta evolução e baixo potencial de transformação para câncer da grande maioria destas lesões, possibilitando tratamentos cada vez mais conservadores e, em muitos casos, apenas seguimento. “Não há tratamentos novos aprovados nos últimos dez anos, por isso a importância de se prevenir a infecção pelo HPV com a vacina ‘profilática’ e hábitos sexuais seguros”, conta Júlio Teixeira.

As vacinas em uso são seguras, não havendo relatos, após liberação para uso, de eventos graves relacionados a elas. Uma das vacinas já está disponível no Brasil desde janeiro de 2007 e previne as infecções por HPV 16 e 18 (associados com cerca de 70% dos casos de câncer no colo uterino) e pelos HPV 6 e 11 (associados com cerca de 90% dos condilomas genitais – “verrugas”), estando aprovada para aplicação entre 9 e 26 anos. A segunda vacina está em vias de liberação pelos órgãos nacionais e previne as infecções pelos HPV 16 e 18, com possível utilização mesmo em faixas etárias mais elevadas.

Ainda não existe tratamento para a infecção pelo HPV. A maioria das pessoas elimina o vírus naturalmente em alguns meses. Para a minoria em que a infecção persiste, por meses a anos, fica então o risco de surgir alguma lesão genital pré-câncer. O tratamento atual destas lesões pode variar da observação periódica até a eliminação de lesões com cauterizações, ressecções ou estimuladores imunológicos. Todos os tratamentos têm resposta em 50 a 80% dos casos e já estão disponíveis no Brasil.

A prevalência de infecção por HPV na região de Campinas foi estudada em 2000, em 400 mulheres de 15 a 25 anos e em mulheres de quatro cidades de outras regiões brasileiras. Foi observado, em todas estas cidades, que a simples detecção da presença de HPV (teste de DNA em material colhido do colo uterino) ocorreu em 40% das mulheres. Estudos em outros países mostraram que a infecção por um dos tipos de HPV em mulheres sexualmente ativas chega a 75 a 79% durante a vida. É praticamente uma infecção “universal” e, portanto, dificilmente não haverá contato com algum tipo de HPV ao longo dos anos.

Não existem estudos específicos para o tratamento de lesões por HPV ou vacinas “terapêuticas” originários do Brasil divulgados até o momento. O que o Brasil faz são colaborações com a comunidade internacional na elaboração e na execução dos projetos para testes clínicos. Nas investigações relacionadas às patologias genitais pelo HPV, o Brasil é referência mundial. Outro país de muita relevância é a Finlândia.

As vacinas ‘profiláticas’ contra o HPV são o maior avanço recente na medicina preventiva. Trata-se da “primeira vacina contra câncer”. Para serem efetivas, elas devem ser aplicadas antes do início da atividade sexual da mulher, pois previnem a infecção. Posteriormente, os estudos deverão mostrar se há vantagens em vacinar outras faixas etárias e os homens. Mas o mais importante é que, mesmo com as vacinas, todas as mulheres necessitam dar continuidade aos exames preventivos regulares como o Papanicolaou, aconselha Júlio Teixeira.

A vacina que previne os HPV 16 e 18 está disponível apenas na rede privada, podendo ser encontrada nas clínicas de vacinas de Campinas desde janeiro do ano passado. Elas custam entre R$400,00 e 500,00, isso cada uma das três doses.

Medicina Nuclear – O principal avanço tecnológico do diagnóstico em Medicina Nuclear, para aplicação na área de Oncologia atualmente, é o equipamento PET-CT, segundo o médico nuclear Celso Darío Ramos, docente responsável pelo Serviço de Medicina Nuclear do HC da Unicamp. Além do diagnóstico, ele também pode ser empregado no acompanhamento dos mais diversos tipos de câncer e de doenças cardíacas e neurológicas. Tal é a sua importância que hoje o equipamento está mudando o modo de localizar as patologias. Suas imagens permitem apontar o estadiamento do câncer, avaliando a resposta ao tratamento instituído e o prognóstico.

O método consiste em fundir as imagens funcionais altamente sensíveis da tomografia por emissão de pósitrons (PET) com imagens anatômicas de alta resolução da tomografia computadorizada (CT). O principal insumo do PET-CT é a FDG (flúor-deoxi-glicose), uma glicose radioativa marcada com flúor-18. Num paciente com câncer, isso resulta em imagens de corpo inteiro em que todas as áreas com tumor metabolicamente ativo, com tamanho acima de alguns milímetros, passam a “brilhar”. Assim, é possível avaliar, ao mesmo tempo, tanto a sua exata localização quanto detalhes morfológicos e funcionais dessas áreas. De um modo geral, as principais indicações incluem a diferenciação entre lesões benignas e malignas, estadiamento do câncer e monitoração da resposta ao tratamento.

O equipamento consiste de uma câmara de cintilação em que, na parte frontal, acomoda um tomógrafo computadorizado e, na parte traseira, acopla o PET. Individualmente, ele é constituído por milhares de cristais, que detectam duas lesões a uma distância de 4,5 mm, e pelo CT – uma tomografia que faz uma varredura do corpo todo do paciente em menos de dois minutos, permitindo cortes com espessura mínima de 1 mm.

No caso de câncer de pulmão, por exemplo, o resultado do PET influencia a conduta em cerca de 40 a 60% dos casos. Nos casos de câncer de mama, linfoma e tumor colorretal, o resultado do PET pode alterar a conduta em até 30% a 40% dos casos.

Com relação ao tratamento em Oncologia, também têm surgido muitas inovações na Medicina Nuclear. “São remédios radioativos, chamados radiofármacos, que podem ser empregados em tipos específicos de tumores, como certos linfomas (de baixo grau) e alguns tumores neuroendócrinos. Esses novos tratamentos podem ser adotados quando tais tumores não respondem (refratários) aos tratamentos convencionais, realizados com radioterapia ou quimioterapia”, explica o médico nuclear. O PET-CT é hoje encontrado em hospitais de São Paulo, como o Sírio Libanês, Albert Einstein, HCOR, A.C. Camargo e Beneficência Portuguesa; do Rio de Janeiro, em Brasília, em Curitiba e em Salvador. Em Campinas, ele está disponível apenas em uma clínica privada.

Gastro – A cirurgia bariátrica, também chamada de gastroplastia, indicada para pessoas que estão muito acima do peso ideal, foi realizada pela primeira vez em 1956, em Los Angeles (Califórnia), pelo médico W. Payne. No Brasil, esse tipo de cirurgia começou a ser realizada na década de 80, porém ganhou destaque na mídia apenas nos últimos dez anos, principalmente em função do sucesso que vem alcançando entre as pessoas portadoras de obesidade mórbida.

O gastroenterologista Elinton Adami Chaim, da FCM da Unicamp, comenta que um grande passo em favor do obeso mórbido portador de diabetes teve início com uma cirurgia realizada pelo médico italiano Francesco Rubino, que executou um desvio de intestino em um paciente com câncer de estômago. “Notou-se que, com essa técnica, o nível de diabetes teve uma redução significativa”, observa o gastroenterologista. Apesar dessa constatação, Chaim explica que essa técnica ainda está em fase experimental, embora bastante promissora. Os resultados obtidos até o momento foram apresentados em um congresso da área realizado em dezembro de 2007 e em breve serão publicados em uma revista internacional”, diz.

Porém, ele avisa que essa é uma técnica que funciona apenas para portadores de diabetes do tipo 2, cujo pâncreas funcione bem e ainda produza insulina. Nesse caso, ressalta Chaim, os obesos mórbidos se beneficiam muito, não só com o emagrecimento, como também 90% dos obesos diabéticos deixam de tomar remédio para a diabetes. “É uma luz no fim do túnel”, comemora Chaim.

Hélio Costa Júnior, Isabel Gardenal e Jeverson Barbieri (texto), Antoninho Perri e Neldo Cantanti (fotos)
Assessoria de Imprensa do HC e ASCOM UNICAMP

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