HC realiza procedimento inédito de crioablação de um defeito genético no coração


Cardiologistas do Hospital de Clínicas da Unicamp realizaram um procedimento inédito para o tratamento de uma arritmia cardíaca em uma criança. Chamada de crioablação, o procedimento é minimamente invasivo e consiste na cauterização de um defeito congênito no coração a uma temperatura variável entre 50 e 70 graus negativos. A técnica não leva mais que três horas e as vantagens são maior precisão e menor risco de danos permanentes a estruturas importantes do órgão.

Segundo o responsável pelo procedimento, professor da disciplina de Cardiologia e especialista no tratamento de arritmias, Márcio Figueiredo, a técnica de crioablação é a alternativa aos medicamentos e ao procedimento de ablação por radiofrequência, que cauteriza pelo calor e é usado no hospital desde 2002. “Na crioablação um cateter com pedra de gelo formada por nitrogênio é introduzido pela virilha e chega até o coração para cauterizar o defeito cardíaco”, detalha.

Márcio Figueiredo esclarece que a opção pela crioablação é a última opção terapêutica destinada para alguns tipos de patologias cardíacas, nesse caso a Síndrome de Wolff-Parkinson-White, que ocasiona uma via elétrica a mais no coração, chamada via acessória entre os átrios e os ventrículos. Os medicamentos, diz, embora muitas vezes eficazes precisam ser usados continuamente e podem provocar efeitos colaterais.

Outro membro da equipe de Eletrofisiologia do HC, Fernando Piza explica que o tratamento com medicamentos e a ablação por radiofrequência foram usados na criança, sem sucesso. “No caso dela, a comunicação anormal estava localizada muito próximo do sistema elétrico normal. Nesses casos, poderia haver uma lesão definitiva se a continuidade fosse a ablação por radiofrequência ocasionando a necessidade de um marcapasso definitivo”.

O novo procedimento, mais simples e rápido, além do baixo risco de ocorrer uma complicação que leve a um bloqueio do coração, é necessário em uma minoria desses casos. Dados da literatura sugerem que cerca de 2% da população tenha fibrilação atrial, que em um momento de crise, faz com que o coração alcance até 200 vezes por minuto, mais que o dobro recomendado para uma pessoa jovem e saudável. A técnica de crioablação já existe no país desde 2015.

O HC da Unicamp é referência para a realização de ablações com radiofrequência pelo SUS na região, e tem capacidade, atualmente, de realizar cerca de 50 procedimentos ao ano. “Esperamos que a experiência adquirida com a técnica de crioablação possa ser aplicada em casos futuros que necessitem desse tipo de tratamento”, conclui Figueiredo.

Caius Lucilius – Assessoria de Imprensa HC