Saúde também é papo de homem


Novembro é o mês mundial de combate ao câncer de próstata. De acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), em 2022 serão diagnosticados mais de 65 mil casos de câncer de próstata no Brasil. Na fase inicial, o câncer de próstata não apresenta sintomas, e quando os sinais começam os tumores já se apresentam avançados.

Na fase avançada, o câncer de próstata pode provocar dor óssea, sintomas urinários, queda do estado geral, insuficiência renal e dores fortes. Entretanto, descoberta precocemente, a doença tem 90% de chances de cura. Por isso, o tema desse ano da campanha da SBU é Saúde também é papo de homem.

Ubirajara Ferreira, médico urologista do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp e professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp concedeu entrevista sobre a função da próstata, exames para o diagnóstico do câncer de próstata e terapias usadas no tratamento da doença. Afinal, saúde também é papo de homem!

“Hoje, o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens no Brasil. Mesmo na ausência de sintomas, homens a partir dos 45 anos com fatores de risco devem procurar um urologista para exames de PSA ou toque retal”, recomenda Ubirajara. 

O que vem a ser a próstata e qual é sua função?
Ubirajara – A próstata é uma glândula exclusiva do sexo masculino e que se localiza logo abaixo da bexiga, envolvendo a uretra. Ela pesa entre 25 a 30 gramas e tem formato de uma castanha. Apresenta consistência firme e homogênea ao toque. Sua consistência tornasse endurecida quando da presença de câncer. Ela produz cerca de 70% do líquido seminal, substância fundamental na vitalidade e no transporte dos espermatozóides. Portanto, a próstata representa um papel fundamental na fertilidade masculina.

Quais são as doenças que podem acometer a próstata?
Ubirajara – Basicamente são de três tipos: doenças inflamatórias, infecciosas e tumorais. A prostatite é o exemplo mais comum de acometimento inflamatório ou infeccioso. Já as doenças tumorais podem ser de dois tipos: os tumores benignos, representados pela hiperplasia (sinônimo de aumento das células, no caso, prostáticas) e os tumores malignos, representados pelo adenocarcinoma (tipo de câncer que acomete glândulas).

Existe alguma relação entre câncer de próstata e propensão familiar?
Ubirajara – Sim. Um homem que tenha um parente de primeiro grau com câncer da próstata tem, ao redor, de duas vezes mais chance e com dois parentes relacionados o risco de desenvolver este câncer sobe para quase nove vezes.

Qual é a chance de um homem ter câncer de próstata durante a sua vida?
Ubirajara – De maneira geral, esta doença acomete cerca de 10% dos homens após os 50 anos. À medida que a idade avança as chances crescem, chegando a acometer cerca de 50% dos homens aos 75 anos.

A partir de que idade e com que frequência deve-se efetuar o toque retal?
Ubirajara – A partir dos 45 anos é aconselhável a sua realização anual. Caso haja algum caso de câncer da próstata num parente relacionado, aconselha-se o seu início aos 40 anos. Existem alguns dados recentes que tentam identificar, através da dosagem inicial do PSA e seu posterior “comportamento” ao longo do tempo, quais homens devem ser avaliados de maneira mais cuidadosa. Pacientes com níveis de PSA muito baixos e com toque retal normal podem ser avaliados com intervalos mais longos.

Quanto tempo demora o toque retal?
Ubirajara – O tempo é o suficiente para que o médico palpe toda a sua superfície à procura de regiões irregulares e/ou endurecidas. Este exame tem a duração ao redor de 10 segundos.

O que é PSA?
Ubirajara – O antígeno específico da próstata, mais conhecido como PSA, é uma substância produzida pela glândula que está aumentada na maioria dos casos de câncer. Sua dosagem é realizada através de coleta simples de sangue.

Uma vez constatado o câncer de próstata, quais são os exames que devem ser realizados antes do tratamento definitivo?
Ubirajara – É necessário avaliar a extensão do acometimento do câncer. É imprescindível se ter ideia da extensão tumoral para um melhor resultado do tratamento e para a correta avaliação do prognóstico da doença. Quanto maior for o valor do PSA tanto maior a chance de doença avançada. A avaliação dos ossos, através da cintilografia, e do pulmão e do fígado, através de exames de imagem, devem ser solicitados quando houver suspeita de metástases destes órgãos.

Quais são os possíveis tratamentos curativos do câncer de próstata?
Ubirajara – Basicamente dois. A retirada completa da glândula através de cirurgia (prostatectomia radical) e a radioterapia.

A quimioterapia funciona no câncer de próstata?
Ubirajara – Sim. Nos últimos anos tem-se obtido resultados alentadores com alguns quimioterápicos. É lógico que na doença avançada não se consegue mais a cura, mas com a quimioterapia moderna pode-se melhorar a qualidade de vida com a diminuição dos sintomas dolorosos e até aumentar um pouco a sobrevida dos doentes na fase avançada da enfermidade.

Existem vacinas eficientes contra o câncer de próstata?
Ubirajara – Teoricamente é possível desenvolver uma vacina, e isto tem sido tentado com insistência por muitos pesquisadores, a partir das próprias células tumorais. Ainda não existe nenhuma vacina efetiva disponível para uso clínico.

Campanha laço azul

O laço azul usado em novembro na campanha de conscientização sobre o câncer de próstata foi inspirado no laço rosa usado na campanha de conscientização sobre o câncer de mama, também conhecido como Outubro Rosa. A campanha do laço azul teve início em 2003, na Austrália, como movember, por adicionar um bigode – moustache, em inglês – ao laço azul. O movimento se espalhou rapidamente pelo mundo.

Clarinda Rodrigues de Souza é funcionária do HC há 37 anos e trabalha na área especializada do hospital que atende pacientes com câncer, especialmente homens com câncer de próstata. Esse mês, para cada paciente atendido, ela entrega um laço azul feito em crochê com uma pérola ao centro. A cada final de semana ela faz 120 broches que carinhosamente distribui aos pacientes.

Na primeira semana de novembro, um paciente veio transferido de Sumaré para o HC da Unicamp para início do tratamento do câncer de próstata. Ele foi recepcionado por Clarinda na “faixa cinza” do segundo andar do hospital. Ao colocar nele o laço azul de crochê, o paciente disse: “Filha, obrigado, esse broche vai encher meu coração de alegria”.

“A gente que trabalha no hospital cria vínculo com o paciente, que vem procurando ajuda. Nossa vida é como um barbante, uma linha que sempre segue. Fiz o broche com amor. A pérola representa a luz, para clarear os olhos, a mente e o coração”, explica Clarinda, feliz com a possibilidade de entregar durante todo o mês de novembro os laços azuis.


Texto: Edimilson Montalti – Assessoria de imprensa HC Unicamp
Fotografia: Julia Erler, Edimilson Montalti, Jornal da Unicamp e Urologia do HC Unicamp