Tecido que seria descartado agora irá para transplante ou pesquisa
A equipe do Banco de Multitecidos do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp realizou em fevereiro desse ano a primeira captação de tecido musculoesquelético extraído de uma doadora viva, após ser submetida a uma cirurgia de artroplastia total do quadril, com a substituição da cabeça de fêmur por uma prótese. O tecido, que antes seria descartado, agora será preparado pelo Banco de Multitecidos do HC e, no futuro, disponibilizado para transplante ou para instituições de pesquisas.
“Após um processo longo e trabalhoso, é com muita satisfação que iniciamos as captações de osso no HC da Unicamp. Nosso hospital já é referência em transplantes de órgãos e, agora, o transplante de tecido ósseo vem completar o que faltava em nossa instituição”, disse Gustavo Constantino de Campos, médico ortopedista e responsável técnico do Banco Multitecidos do HC da Unicamp.
De acordo com Cristina Neves, enfermeira do Banco Multitecidos do HC da Unicamp, essa primeira captação dá início a uma etapa muito importante para o Banco Multitecidos, para o HC e mais ainda para a população que “poderá ser beneficiada por um serviço de qualidade realizado com esmero e com foco na melhor qualidade de vida de quem precisar de transplante de tecido ósseo”.
O biólogo Luiz Henrique de F. Filho conta que depois de muito trabalho para a estruturação e implantação do setor, que contou com o apoio de uma equipe multidisciplinar, hoje conclui-se mais uma importante etapa do processo que tem, como propósito primordial, oferecer uma melhora na qualidade de vida para os pacientes que necessitam de transplante ósseo. “Esse momento ficará para a história do Banco de Multitecidos do HC Unicamp”, revelou.
O Banco de Multitecidos exerce um importante papel no processamento e controle de qualidade dos tecidos para serem distribuídos para transplante. Em maio de 2022, o serviço recebeu a licença sanitária de funcionamento e aguarda a visita do Sistema Nacional de Transplante (SNT) para autorizar a distribuição dos tecidos para transplantes.
A enfermeira e responsável pelo Núcleo de Qualidade e Segurança em Saúde (NQSS) do HC da Unicamp, Nilcilene Pinheiro participou do processo de estruturação do Banco Multitecidos do HC da Unicamp. Segundo Nilcilene, obter a licença sanitária de funcionamento foi uma oportunidade de aprendizado. “Estive ao lado de uma equipe engajada que, a cada etapa do processo, transformou o aprendizado em oportunidade de melhoria”, revelou.
Alta tecnologia para criopreservação
O Banco de Multitecidos do HC da Unicamp está montado em uma área de uma área de 260 m² com as tecnologias mais modernas empregadas na área. O destaque é para a sala limpa de 30 m² destinada ao processamento de tecidos e a cultura de células, com quatro antecâmaras com pass-through (caixas de passagem de materiais para evitar a contaminação cruzada). O local possui uma rede de gás medicinal, intertravamento automático de portas e forro filtrante com filtro absoluto. Até as luminárias são desenvolvidas para uso exclusivo.
A sala limpa instalada do Banco de Multitecidos é a com a maior classificação de pureza existente na instituição: Grau A – ISO 5. A tecnologia de sistemas de forros filtrantes, com fluxo unidirecional de ar de altíssima pureza, é igual a de laboratórios que produzem remédios ou manufaturam componentes para satélites espaciais. “Trata-se de um ambiente onde a qualidade do ar é imprescindível no controle da contaminação de partículas para realização de procedimentos sensíveis à contaminação”, explica o ortopedista Gustavo Constantino de Campos.
A nova área do HC da Unicamp conta ainda com uma antecâmara de acesso, um vestiário de barreira, um abrigo de resíduos, além das salas de apoio. O armazenamento dos tecidos será em duas salas de criopreservação com frezzers -80° com controle digital de temperatura. Outro equipamento disponível no local é um liofilizador de ossos, que realiza a desidratação, descontaminação e esterilização do material, o que impede o desenvolvimento de qualquer tipo de micro-organismo.
Texto: Edimilson Montalti – Núcleo de Comunicação HC Unicamp
Fotografia: Divulgação Banco de Multitecidos