Pesquisa desvendou o mecanismo de droga usada no tratamento da diabetes tipo 2
A biomédica e coordenadora de pesquisa no Serviço de Medicina Nuclear do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, Natália Tobar Toledo Prudente da Silva foi contemplada com o Prêmio Tese Destaque Unicamp 2024 pelo estudo Efeitos Farmacológicos da Metformina sobre a Captação Intestinal de Glicose e Indução do Crosstalk Intestino – Fígado no Controle da Neoglicogênese Hepática.
A pesquisa foi conduzida dentro do Programa de Pós-Graduação em Clínica Médica da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, sob a orientação do médico e professor Mario José Abdalla Saad. Os resultados do trabalho deram origem ao artigo científico Metformin acts in the gut and induces gut-liver crosstalk publicado no periódico The Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
A metformina é prescrita há mais de 60 anos no tratamento da diabetes tipo 2, mas seus mecanismos e locais de ação eram apenas parcialmente conhecidos. Até então, sabia-se que a droga causava a redução da produção hepática de glicose. Após 10 anos de pesquisa, ao observar que o uso da metformina induzia a captação reversa de glicose no intestino dos pacientes, a pesquisadora descobriu que a droga estimulava, neste órgão, o reaparecimento do transportador de glicose denominado GLUT1.
A pesquisa também mostrou que além de desencadear o reaparecimento do GLUT1 no intestino dos pacientes, a metformina também ativa outro transportador de glicose, o GLUT2, regulando a atuação de ambos os transportadores, de acordo com os níveis de glicemia.
“Quando pensamos em condições fisiológicas, temos em mente o seguinte caminho: o indivíduo ingere uma carga de glicose (alimento), essa carga é absorvida pelas células do intestino, que liberam essa glicose para o fígado e outros tecidos. Observamos que a metformina atua, justamente, no caminho contrário. Ela retira a glicose da circulação sanguínea, diminuindo assim a glicemia, e a traz para a célula intestinal, onde será metabolizada e os produtos dessa metabolização impactarão em segundo plano a produção hepática de glicose”, explica Natália.
Mecanismo desvendado
Durante o período fetal, o GLUT1 age na retirada da glicose da circulação sanguínea do cordão umbilical para o intestino fetal, garantindo a sobrevivência do bebê, sendo desativado após o nascimento. A partir daí, pensava-se que a principal ação da metformina, com o reaparecimento desse transportador no intestino humano adulto, seria a de aumentar a captação de glicose neste órgão.
“Até então, achávamos que o fígado era o primeiro e principal órgão de atuação desta droga. Mas, agora, compreendemos que seus efeitos acontecem em uma etapa anterior, no intestino”, afirma Saad, orientador da pesquisa.
O estudo teve a participação de pesquisadores de diversas áreas da Unicamp, dentre elas o Serviço Medicina Nuclear do HC do Unicamp para a realização de exames de PET/CT, Instituto de Biologia, Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), Instituto de Química e Faculdade de Ciências Médicas.
Prêmio Tese Destaque Unicamp 2024
O Prêmio Tese Destaque Unicamp é oferecido pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação (PRPG). Em sua segunda edição, a premiação procurou reconhecer e consagrar as teses de doutorado de destaque defendidas nos programas de pós-graduação da Universidade, além de estimular a constante busca pela excelência na pesquisa. Concorrem ao prêmio e a uma menção honrosa para cada uma das teses nas áreas de conhecimento: engenharias e tecnológicas; ciências humanas e artes; ciências exatas e da terra; e ciências biológicas e da saúde.
Participaram da disputa teses defendidas em 2022, desde que homologadas em 2023, e teses defendidas em 2023, desde que homologadas até março de 2024. Elas foram avaliadas segundo os critérios de originalidade, relevância para o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural e social, metodologia utilizada, qualidade da redação e estrutura/organização do texto.
A seleção dos vencedores ocorreu em duas etapas. A primeira eliminatória foi feita por comissões de avaliação instituídas pelos programas de pós-graduação de cada unidade de ensino e pesquisa, que escolheram apenas uma tese para participar da premiação. Em seguida, os trabalhos escolhidos passaram pelo crivo das comissões julgadoras do prêmio – compostas por um docente da Unicamp e por pelo menos dois docentes internos ou externos.
Para a pró-reitora de Pós-Graduação, Rachel Meneguello, o Prêmio Tese Destaque Unicamp não celebra somente o mérito individual dos pesquisadores, mas também o impacto significativo de suas pesquisas na sociedade e na comunidade científica.
“Cada uma das teses representa não apenas um avanço no campo específico de estudo, mas também uma contribuição valiosa para o conhecimento global. É um reconhecimento pela excelência acadêmica da própria Universidade, reforçando seu compromisso com a pesquisa de ponta e a formação de profissionais altamente qualificados”, destaca Meguello.
A premiação conta com dois tipos de prêmio: um prêmio tese destaque para o primeiro colocado no valor líquido de R$ 5 mil e uma menção honrosa para o segundo colocado no valor líquido de R$ 3 mil. Autores, orientadores e coorientadores das teses premiadas receberão um diploma de premiação.
Veja aqui os vencedores do Prêmio Tese Destaque Unicamp 2024.
A entrega dos certificados e premiação será no dia 12 de agosto, às 10 horas, no Salão Nobre do Conselho Universitário (Consu) da Unicamp.
Prêmio Capes de Teses
A pesquisa de Natália também concorre ao Prêmio Capes de Tese, também conhecido como o Oscar da Ciência brasileira. A premiação reconhecerá os melhores trabalhos de doutorado defendidos no Brasil em 2023 em cada uma das 50 áreas de avaliação estabelecidas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e que fazem parte do Sistema Nacional de Pós-Graduação.
Também serão concedidos prêmios especiais para áreas pré-determinadas em parceria com a Fundação Carlos Chagas e com o Instituto Serrapilheira. O resultado do Prêmio tem divulgação prevista para setembro e os vencedores do Grande Prêmio serão conhecidos em dezembro, mesmo mês em que ocorrerá a solenidade de entrega das premiações.
Texto: Edimilson Montalti – Núcleo de Comunicação HC Unicamp com informações de Helena Tallmann (Portal da Unicamp) e Camila Delmondes (FCM Unicamp)
Fotografia: Edimilson Montalti – Núcleo de Comunicação HC Unicamp e Mercedes Santos (FCM/Unicamp)