O Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Atenção Especializada à Saúde (SAES), publicou no Diário Oficial da União de 30 de agosto de 2024 a Portaria 2.033 que concede autorização ao Banco de Tecido Musculoesquelético do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp para remoção de órgãos, tecidos, células e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento. O documento foi assinado por Adriano Massuda, secretário de Atenção Especializada do Ministério da Saúde, após visita e licença da Vigilância Sanitária e parecer técnico da SAES.
De acordo com o responsável técnico substituto do Banco de Multitecidos, o médico ortopedista Maurício Etchebehere, o Banco de Multitecidos vai funcionar, inicialmente, para captar tecidos para a demanda interna do hospital e quando o serviço estiver estruturado e com os processos bem estabelecidos, ele passará a fornecer material para os serviços externos.
“Não há uma data de quando isso irá acontecer, porque não temos uma estimativa precisa de quantos doadores teremos por mês e quanto de ossos e tecidos teremos disponíveis. É provável que leve alguns meses para alinharmos tudo isso, inclusive os processos internos”, explicou Maurício.
Licença sanitária
Em 2022, o Banco Multitecidos do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp recebeu a licença sanitária de funcionamento e aguardava a inspeção da Secretaria Estadual de Transplante (SNT) autorizar a distribuição dos tecidos para transplantes. A inspeção é uma etapa obrigatória para garantir que todas as normas e padrões de qualidade sejam cumpridos, assegurando, assim, a segurança e eficácia dos tecidos distribuídos.
A inspeção aconteceu no mês de junho de 2024 e a SNT verificou a conformidade com as regulamentações vigentes e a implementação das boas práticas pelo Banco de Multitecidos do HC da Unicamp. A inspeção incluiu a análise dos processos de captação, processamento, armazenamento e distribuição dos tecidos.
Ao final, os inspetores parabenizaram a equipe do Banco Multitecidos pelo trabalho desenvolvido e destacaram a excelência dos processos implementados. A aprovação da inspeção da SNT permite, agora, ao banco fornecer tecidos de alta qualidade para os transplantes e outras terapias aos pacientes.
“Este avanço beneficia muitos pacientes, proporcionando-lhes melhores opções de tratamento e recuperação. Este é um marco histórico que mostra o poder da inovação e do trabalho em equipe”, destacou o médico ortopedista Gustavo Bregalda Mattos, responsável técnico do Banco de Tecidos.
João Batista Miranda, médico ortopedista idealizador do Banco de Tecidos, ressaltou que o caminho percorrido desde a criação do Banco de Tecidos foi desafiador, mas que a colaboração e o empenho de cada profissional envolvido desde o início dessa jornada foi essencial para alcançar este marco significativo.
“O nosso compromisso se estende ao ensino e à pesquisa, proporcionando recursos valiosos para a formação de futuros profissionais e para avanços científicos”, disse Miranda.
A visita da SNT foi acompanhada por Cristina de Carvalho Silva Neves, Luiz Henrique de Freitas Filho e Raquel Vieira, da equipe do Banco Multitecidos, e por Nilcilene Pinheiro Silva, do Núcleo de Qualidade e Segurança em Saúde (NQSS) da HC da Unicamp.
“Cada um desempenhou um papel essencial na apresentação dos processos e nas respostas às perguntas dos inspetores, demonstrando o compromisso da equipe com a qualidade e a segurança”, ressaltou Nilcilene.
Alta tecnologia para criopreservação
O Banco de Multitecidos do HC da Unicamp está montado em uma área de 260 m² com as tecnologias mais modernas empregadas na área. O destaque é para a sala limpa de 30 m² destinada ao processamento de tecidos e a cultura de células, com quatro antecâmaras com pass-through (caixas de passagem de materiais para evitar a contaminação cruzada). O local possui uma rede de gás medicinal, intertravamento automático de portas e forro filtrante com filtro absoluto. Até as luminárias são desenvolvidas para uso exclusivo.
A sala limpa instalada do Banco de Multitecidos é a com a maior classificação de pureza existente na instituição: Grau A – ISO 5. A tecnologia de sistemas de forros filtrantes, com fluxo unidirecional de ar de altíssima pureza, é igual a de laboratórios que produzem remédios ou manufaturam componentes para satélites espaciais.
O Banco de Multitecidos conta ainda com uma antecâmara de acesso, um vestiário de barreira, um abrigo de resíduos, além das salas de apoio. O armazenamento dos tecidos é feito em duas salas de criopreservação com frezzers -80° com controle digital de temperatura. Outro equipamento disponível no local é um liofilizador de ossos, que realiza a desidratação, descontaminação e esterilização do material, o que impede o desenvolvimento de qualquer tipo de micro-organismo.
Em 2023, o Banco de Multitecidos realizou a primeira captação de tecido musculoesquelético extraído de uma doadora viva, após ser submetida a uma cirurgia de artroplastia total do quadril, com a substituição da cabeça de fêmur por uma prótese. O tecido, que antes seria descartado, agora será preparado pelo Banco de Multitecidos do HC e, no futuro, disponibilizado para transplante ou para instituições de pesquisas.
Texto: Edimilson Montalti – Núcleo de Comunicação HC Unicamp com Nilcilene Pinheiro – NQSS HC Unicamp
Fotografia: Divulgação HC