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A experiência acumulada em 18 anos de trabalho na Unidade de Internação Psiquiátrica do Hospital das Clínicas (HC) levou a terapeuta ocupacional Ana Lúcia Prezia Sampaio a investigar o perfil sócio-demográfico dos pacientes que morreram no hospital. Das 26 mortes ocorridas desde que em 1986 foi instalado o serviço, a maioria foi causada por doenças cardiorrespiratórias; os diagnósticos psiquiátricos mais freqüentes no grupo foram os transtornos de humor e aqueles relativos ao uso de álcool e drogas. A investigação conclui que os hábitos de vida desses pacientes contribuem para o acometimento de doenças clínicas que podem provocar a morte prematuramente.

“A idéia é que o estudo sirva de parâmetro para a adoção de medidas que melhorem a qualidade de vida do paciente psiquiátrico. É preciso investir, principalmente, em campanhas contra o tabagismo, sedentarismo, hábitos alimentares e uso de drogas nessa população”, defende Ana Lúcia, que apresentou dissertação de mestrado na Faculdade de Ciências Médicas (FCM).

O paciente com transtorno mental grave, explica a terapeuta, tem uma menor expectativa de vida quando comparado à população em geral. Por isso, o trabalho teve como foco fazer um estudo retrospectivo e descritivo dos pacientes internados, que constitui uma população de mais de 2,2 mil indivíduos. “A média de internação varia entre 20 a 25 dias. A medida só é adotada caso o paciente esteja em estado grave”, esclarece Ana Lúcia.

Um dos principais problemas enfrentados com os pacientes refere-se aos sintomas da doença psiquiátrica e os medicamentos utilizados. Os sintomas apresentados pela doença psiquiátrica muitas vezes favorecem o sedentarismo. Ademais, esclarece a pesquisadora, alguns dos remédios prescritos podem resultar em obesidade. Neste sentido, medidas como estímulo à atividade física regular e orientação aos hábitos alimentares melhorariam as condições de saúde do paciente. Outra questão trata do alto índice de tabagismo observado entre os pacientes psiquiátricos. “Este é um problema sério, pois familiares e profissionais não valorizam as conseqüências inevitáveis do tabagismo. Muitas vezes, chegam a oferecer o cigarro como forma de diminuir a ansiedade do indivíduo”, afirma a terapeuta.

Ana Lúcia acredita que, mesmo com os resultados positivos da reforma psiquiátrica, ocorrida na década de 1980, ainda há um estigma em relação ao doente com transtorno mental. “Muitas vezes, não se valoriza a queixa clínica do paciente. A doença mental é como as outras doenças e deve ser tratada de forma sistêmica. Porém, ainda há uma dificuldade em desenvolver estratégias específicas para diminuir esse preconceito. É preciso valorizar e respeitar o paciente psiquiátrico” prega. Ana Lúcia defende ainda as intervenções psicopedagógicas, a criação de trabalhos que possam intervir na saúde do paciente, e ações mais pontuais em relação ao uso de drogas.

RAQUEL DO CARMO SANTOS

Assessoria de Imprensa do HC UNICAMP

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