Um Dia Mundial exclusivo para refletir sobre o diabetes, pela primeira vez com adesão da Organização Mundial da Saúde (ONU), este 14 de novembro promete arrebanhar a população mundial em torno da causa da saúde e da qualidade de vida. Cerca de 155 países uniram-se para produzir um alerta contra esta pandemia que já alcança caráter epidêmico e crônico no mundo. No HC da Unicamp serão feitos, ao longo do dia de hoje, cerca de mil exames de glicemia, na rampa principal do Hospital. Uma fita azul no braço do paciente, com a cor da bandeira da ONU, sinaliza que ele já fez o teste.
Dona Nilda Neves, 80 anos, passou pelo exame de glicemia cedinho. Mora na Vila Padre Anchieta. O Portal Unicamp acompanhou-a até o desfecho do exame, quando recebeu o resultado do teste: 99 de glicemia. Sem diabetes, ficou visivelmente contente e confessou à reportagem que a sua bolsa estava cheia de balas – de café, de mel, de maracujá, de hortelã, de leite, etc. e tal. “Imagine se eu tivesse esta doença”, riu dela própria. Sua única queixa: o reumatismo, que faz dela “cliente” há mais de 20 anos do HC.
Alessandro (12 anos) e Larissa (10) foram levados ao HC pela mãe, Márcia Eliane. Passaram pelo teste de glicemia e tiveram o mesmo valor de glicemia, ou seja, 94. O irmão mais novo não teve a mesma sorte. “Ele é insulinodependente desde pequeno”, contou a mãe. Ela abordou a dificuldade para cuidar do filho que tem diabetes. “É preciso vigiar a alimentação constantemente. São muitas as restrições afinal”, disse.
Diabetes – O diabetes é uma doença crônica relacionada ao mau funcionamento do pâncreas, que pára de produzir a insulina – o hormônio responsável pelo transporte da glicose para as células do organismo. Caracteriza-se por excesso de açúcar no sangue, com alterações no metabolismo de açúcares, gorduras e proteínas. No diabetes 1, de natureza auto-imune, ocorre a destruição das células beta, ocasionando deficiência de insulina, que deve ser reposta diariamente. O diabetes 2 apresenta graus variados de resistência à ação da insulina e uma deficiência relativa de insulina, geralmente estando associada à obesidade.
Os atuais 245 milhões de diabéticos, expressivos 6% da população mundial, podem chegar a 380 milhões em 30 anos. A advertência é da endocrinologista Elizabeth João Pavim, chefe da Disciplina de Endocrinologia da Unicamp, localizada no HC. Segundo ela, a primeira campanha foi encabeçada pela Federação Internacional de Diabetes, com abrangência européia. “Com a ONU, o movimento tomou proporções gigantescas. Já no biênio 2007-2008 foi eleito o dia do diabetes, mas com ênfase à criança e ao adolescente”, contou. Isso porque, explicou Elizabeth, são 440 mil crianças com diabetes tipo 1 com idade abaixo de 14 anos no mundo. “É um dado significativo, sobretudo se levarmos em conta que em crianças o controle é mais difícil. Se faltar insulina apenas um dia, a criança pode morrer por acetoacidose”, relatou.
Elizabeth comentou que a insulina é distribuída na rede básica de saúde, mas que falta assistência multidisciplinar e de infra-estrutura. De acordo com a endocrinologista, a meta da ONU para 2008 é que os países consigam insulinoterapia, infra-estrutura, dêem assistência familiar, que as crianças e adolescentes comam bem e que sejam estimuladas às atividades físicas. “Trata-se de um estilo de vida bem equilibrado”, avaliou.
A Campanha, conforme a médica, não somente deve fornecer o aporte medicamentoso, porém educar em diabetes, já que complicações podem levar à cegueira, à amputação, a problemas cardiovasculares, entre outros malefícios. “Além do mais, houve um aumento de 3% na população de crianças diabéticas do tipo 2 por conta da obesidade e do sedentarismo. Há três décadas, o diabetes 2 ocorria somente em torno dos 50 anos”, recordou Elizabeth.
Apesar de silenciosa, a doença hoje pode ser bem-controlada, e estudos desenvolvidos na Unicamp apontam para uma nova cirurgia -de exclusão duodenal – que poderá trazer esperança para pacientes com diabetes 2, “não grandes obesos”. Outra novidade mencionada pela endocrinologista Elizabeth é que outras drogas que adentraram o Brasil neste ano, as incretinas (GLP1), permitem diminuir a liberação de glucagon e dar saciedade, o que melhora o nível glicêmico do paciente.
Na Rede Básica de Saúde, informou ela, é realizado um cadastro do diabético em que o médico atesta a condição do paciente, mediante o que é possível receber insulina, um glicosímetro e tiras reagentes gratuitamente, que contribuem para melhorar muito o controle. A insulina, fora da rede básica, custa cerca de R$ 80,00. “Se o paciente a usa pelo menos três vezes ao dia, o custo pode até inviabilizar o tratamento”, afirmou.
Os endocrinologistas Marcos Tambascia e Walter Minicucci integram a Sociedade Brasileira de Diabetes, como presidente e vice respectivamente. Tambascia participou hoje do Dia Mundial do Diabetes na sede da ONU e Minicucci esteve pela manhã no Parque Taquaral acompanhando uma caminhada em prol do tema.
Serviço
O HC da Unicamp faz atendimento ambulatorial de pacientes com diabetes do tipo 1 às sextas-feiras à tarde, do tipo 2 às segundas-feiras de manhã e, de crianças, às sextas-feiras pela manhã na Pediatria e às quartas-feiras também pela manhã na Pediatria. Em geral, o Hospital realiza 300 atendimentos aos diabéticos por semana. O Centro de Saúde da Comunidade (Cecom) mantém um Grupo de Diabetes voltado ao atendimento da comunidade Unicamp.
Isabel Gardenal (texto) e Antônio Scarpinetti (fotos)
Assessoria de Imprensa do HC e ASCOM UNICAMP