O Hospital de Clínicas da Unicamp poderá ser o sexto hospital no mundo a empregar uma técnica inédita de melhorar o aproveitamento de pulmões parcialmente comprometidos para transplantes. O anúncio foi feito pelo professor Francisco Javier Moradiellos Díez, coordenador do programa ex-vivo em transplante de pulmão do Hospital Universitario Puerta de Hierro Majadahonda, em Madri, Espanha. O cirurgião Javier Moradiellos veio ao Brasil a convite do professor Ivan Toro para consolidar o intercâmbio técnico-científico entre os dois hospitais universitários. A previsão é que os transplantes de pulmão na Unicamp se iniciem no segundo semestre de 2010.
De acordo Ivan Toro, o Hospital Universitario Puerta de Hierro é um dos principais centros transplantadores da Europa e a equipe do médico Javier Moradiellos Díez, foi responsável pela técnica pioneira que amplia o aproveitamento de pulmões para transplantes. Para aperfeiçoar as técnicas de transplante de pulmões, inclusive a nova, o professor Ivan Toro permaneceu no hospital espanhol por três meses no ano passado. Agora, foi a vez do pesquisador espanhol conhecer o HC da Unicamp e toda a rotina dos ambulatórios, enfermarias, centro cirúrgico, além das atividades de ensino e pesquisa. “É uma estrutura que me impressionou muito”, comentou Moradiellos.
A técnica, denominada recondicionamento ex-vivo, explica Moradiellos, permite que um conjunto de equipamentos realize uma circulação de soluções especiais no órgão, promovendo dessa forma, a diminuição do edema (inchaço). O procedimento é acompanhado por gasometria e se não houver uma melhora do órgão em quatro horas, com um índice de referência mínimo de 400, o pulmão é descartado. Um pulmão de um doador normal para ser transplantado precisa de um referencial por gasometria maior que 300. “A técnica também permite que o órgão se mantenha em boas condições para transplante por 24 horas, enquanto o procedimento padrão oferece uma vida útil ao pulmão de no máximo oito horas”, esclarece Toro.
A descoberta da nova técnica é importante por outros aspectos como o baixo índice mundial de aproveitamento dos pulmões. De acordo com Javier Moradiellos Díez, de cada 100 pulmões disponibilizados para doação apenas 15 são usados. No Brasil, essa média cai para cinco. “Existe uma infinidade de descobertas que poderemos fazer com a nova técnica”, ressalta Ivan Toro. A técnica da equipe do Hospital Universitario Puerta de Hierro é empregada somente na Espanha, Suécia, Inglaterra e Canadá. “Pude perceber que a equipe do HC é muito bem preparada e comparável aos melhores profissionais do mundo”, afirmou Moradiellos que tem como um dos principais apoiadores do projeto na Espanha, o chefe do de Serviço de Cirurgia Torácica e Unidade de Transplante Pulmonar, professor Andrés Varela de Ugarte.
Pela segunda vez no Brasil, Francisco Javier Moradiellos Díez também ministrou uma palestra para médicos e profissionais de Saúde, na na Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas (SMCC). O fortalecimento das atividades entre os dois hospitais será aperfeiçoado com projetos bilaterais de pesquisa experimetal e intercâmbio de residentes. Na Unicamp o professor espanhol também foi acompanhado em sua estada pelos professores Nelson Andreollo e Ricardo Kalaf Mussi.
O Hospital Universitario Puerta de Hierro Majadahonda foi fundado há 45 anos e em 2008 teve suas novas instalações entregues pelo Rei Juan Carlos em companhia da Rainha Sofía. O hospital faz parte de nova rede inaugurada nos últimos anos e vai atender cerca de 550.000 habitantes da região. Uma das características básicas do hospital é a sua atividade de transplantes.
Desde o primeiro transplante renal, em 1968, o Hospital Universitario Puerta de Hierro tem desenvolvido outros programas transplantes de órgãos e tecidos, incluindo a medula óssea, em 1980, de córnea em 1981 e de coração em 1984. Posteriormente, começou em 1986 o transplante de fígado e, o último programa desenvolvido em Puerta de Hierro foi o transplante de pulmão, que começou em 1991, sendo a única instituição em Madri que realiza o procedimento – cerca de 40 ao ano. Em 2008 foram realizados na Espanha 418 transplantes de pulmão.
Caius Lucilius
Fotos: Caius Lucilius, Mariana Marciano e divulgação
Edição das imagens: Alexandre da Silva
Assessoria de Imprensa do HC Unicamp