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O Ambulatório de Obesidade Infantil da Criança e do Adolescente do Hospital das Clínicas (HC) da Unicamp traz em sua concepção uma proposta inédita de atendimento: a de incorporar a figura de um educador físico na equipe multidisciplinar que, de forma personalizada, orienta os pacientes na faixa etária de três a 19 anos na prática de atividade física. A responsável por este atendimento, a personal training Silene Barbosa Montoro, destaca que as orientações vão desde a postura para os exercícios até sugestões de solado do tênis, por exemplo. Elas são feitas de acordo com a realidade das crianças e adolescentes, privilegiando as condições físicas e econômicas de cada um, com o objetivo de se conseguir uma adesão de longo prazo.

“Minhas sugestões são para que os pacientes desenvolvam a prática em locais próximos de casa, na escola, nos parques, nos centros públicos esportivos, ou ainda oriento para uma simples caminhada periódica. Sempre pensando na facilidade de acesso para não desestimular a criança. Muitos pacientes atendidos no HC são de outras regiões e não há como oferecer um programa de atividades genéricas para serem desenvolvidas no hospital. Então surgiu a ideia de fazer algo inovador para atender a necessidade específica deles, visto que não se discute a importância da atividade física para reduzir o risco de doenças e melhorar a qualidade de vida de crianças obesas”, explica Silene, que apresentou dissertação de mestrado na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) sobre o tema.

Inúmeras iniciativas voltadas para o público infantil com excesso de peso espalhadas pelo país envolvem a criação de estruturas em que, por um período determinado, as crianças e adolescentes participam de atividades físicas dirigidas. Em estudos anteriores, Silene encontrou registros de programas com duração máxima de apenas nove meses. No entanto, este tipo de intervenção, segundo ela, é falha pelo fato de não se estimular a continuidade da atividade, e após o tempo previsto a criança tende a voltar à rotina sedentária.

Segundo o responsável pelo desenvolvimento do projeto dentro do Ambulatório de Obesidade Infantil, o médico Roberto Teixeira Mendes, a atividade física integra um conjunto de ações importantes para se evitar o desenvolvimento de doenças associadas à obesidade, que não são poucas. Dentre os 300 pacientes acompanhados no ambulatório, muitos chegam em estágio já avançado da doença e com altos riscos de desenvolver patologias crônicas. Neste sentido, a proposta de se criar um serviço que difere do convencional e incorporar vários profissionais atuando na esfera multidisciplinar.

São médicos, psicólogos, fisioterapeutas, nutricionista e o educador físico que atendem, semanalmente, entre sete e 12 pacientes, sendo que todos passam por consulta com cada uma das especialidades – as prescrições são dadas respeitando a especificidade de cada caso. “Queríamos oferecer algo diferente dos projetos que conhecíamos no país e uma das principais preocupações era, justamente, propor um modelo para incentivar a mudança do estilo de vida não só da criança como da família. Acredito que se mudar a família pode-se chegar à criança”, destaca o médico.

Para a pesquisa de mestrado, orientada pelos professores Angélica Maria Bicudo Zeferino e Miguel Arruda, Silene descreveu o atendimento prestado e os resultados do teste de esforço feito em 77 pacientes do ambulatório que aderiram ao programa. Deste número, 33 crianças e adolescentes, entre as que permaneceram em atividade física por pelo menos 12 meses, foram reavaliadas em um teste de esforço para aferir o impacto da atividade regular em seu condicionamento físico. Estes resultados são positivos, considerando que 46% mantiveram as atividades e, destes, a maioria apresentou melhora na performance durante os exercícios e demonstraram continuidade na prática por um longo prazo. Por outro lado, a maioria das crianças manteve-se obesa, sem redução ou mesmo com aumento de seu Índice de Massa Corporal (IMC). “Este aspecto chama a atenção para compreensão de que, muitas vezes, é mais fácil para a criança e para o adolescente reduzir o sedentarismo do que melhorar seu hábito alimentar”, avalia Silene.

O estudo avaliou ainda possíveis melhoras nos perfis de exames laboratoriais, como os níveis de colesterol e triglicérides, e a resistência insulínica, mas os resultados não foram significativos.

RAQUEL DO CARMO SANTOS
ASCOM / Unicamp

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