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O Hospital de Clínicas da Unicamp realizou com sucesso a primeira neurocirurgia para ressecção (extração) de tumor cerebral com paciente acordada. A cirurgia de alta complexidade foi realizada no mês de março com uma paciente de 50 anos, moradora do distrito de Sousas, que tinha um tumor na área da fala. Sem a cirurgia a paciente poderia ter o comprometimento de seus movimentos e, principalmente, da linguagem. Durante três horas uma equipe formada por seis especialistas realizou o procedimento com equipamentos específicos para esse tipo de cirurgia, como ultrasom intra-operatório e neuroestimulador cerebral, que auxiliaram na extração do tumor. Exames pós-operatórios comprovam o sucesso da cirurgia.

Segundo o responsável pela cirurgia, o neurocirurgião Marcos Vinicius Calfat Maldaun, a paciente apresentava constantes dores de cabeça e risco de comprometimento da fala devido à expansão do tumor. Nesta primeira cirurgia, comenta Marcos, o tumor era grande, profundo e estava próximo a áreas críticas do cérebro, como a fala. “Foi muito bem sucedida a cirurgia, sem qualquer intercorrência”, diz Marcos Maldaun, que é Ph.d nesse tipo de procedimento pelo Anderson Cancer Center em Houston, Texas e realiza as cirurgias no Hospital Estadual Sumaré e no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

A cirurgia com a paciente acordada acontece devido à localização do tumor em uma importante área do sistema nervoso central. “Nas cirurgias convencionais, em que o paciente está anestesiado, não é possível localizar as áreas essenciais por estar imóvel. Com isso, o risco de seqüelas tanto na fala, quanto no movimento são muito grandes”, esclarece Marcos. Uma vez a paciente estando acordada é possível, através da estimulação com testes motores e lingüísticos, precisar a extensão do tumor para retirá-lo integralmente e fazer um mapeamento de forma a não comprometer as regiões sensíveis.

O procedimento inicia-se com anestesia geral e após a realização da craniotomia (retirada de osso), a sedação passa a ser leve e é amparada com anestesia local. Em seguida, a equipe realiza um exame de ultrasom sobre a superfície do cérebro para o mapeamento preciso do tumor e suas áreas de abrangência, tudo com o paciente acordado que faz testes de linguagens conversando com a equipe médica. “De fato é uma cirurgia que impressiona pelo nível de precisão exigido dos profissionais e pelo suporte tecnológico envolvido. Ficamos surpresos com os resultados da técnica”, comenta o anestesista e docente Adílson Roberto Cardoso, que acompanhou o procedimento.

A próxima etapa, explica Marcos, é a estimulação das várias partes do cérebro expostas com mapeamento funcional (neuroestimulador), onde se identifica quais áreas correspondem ao centro da fala e do movimento. Somente após essas etapas é que de fato começa a extração do tumor, com a preservação integral dessas áreas e com a manutenção de um diálogo permanente com a paciente. Terminada a extração do tumor, a paciente é novamente sedada para recolocação do osso do crânio (preservado em uma solução especial durante a cirurgia) e suturada.

Esse tipo de cirurgia é um procedimento de alta complexidade com um custo estimando em torno de R$ 100 mil nos hospitais privados. “Isto prova que é possível se fazer bom uso dos recursos SUS capacitando profissionais e oferecendo uma assistência de alto nível”, comenta o coordenador de assistência do HC, professor Manoel Barros Bértolo. De acordo com Bértolo, a previsão é ampliar esse tipo de procedimento com novos treinamentos multidisciplinares e realizar mais cirurgias dessa complexidade, já que é a única alternativa para pacientes com essa anomalia. O processo de recuperação da paciente foi bem sucedido e sem seqüelas, o que permitiu dar continuidade no tratamento com radioterapia.

Caius Lucilius com Paula Conceição
Assessoria de Imprensa do HC Unicamp

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