O Ambulatório Médico de Especialidades de Limeira (AME), administrado pela Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, lançou no mês de outubro, o Programa de Reabilitação Cardiovascular (Pró-Cardio). Com intuito de atender pacientes com doenças coronárias e hipertensos, o programa é inovador em relação aos tratamentos realizados no setor público de saúde, pois integra tratamento médico, nutricional, fisioterapêutico e exercício físico, semelhante ao tratamento conduzido com atletas.
Idealizado pelas professoras Roberta Cunha Matheus Rodrigues e Maria Cecília Bueno Jayme Gallani, do Departamento de Enfermagem da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, o Pró-Cardio atende a cerca 20 pessoas, divididos em três grupos. Estes pacientes são encaminhados pelas unidades básicas de saúde da região aos cardiologistas do AME, que solicitam uma avaliação detalhada sobre o paciente, incluindo exames de Eletrocardiograma, Ecocardiograma, Ergoespirometria (teste de esforço Cardiopulmonar) e exames laboratoriais. Se for necessário, caso o paciente apresente algo específico, também são feitos exames de monitor Holter e Monitoração Ambulatorial da Pressão Arterial (MAPA).
Depois de realizar os exames, é a vez da equipe de enfermagem verificar todos os fatores de risco do paciente. Para realizar este controle são aplicados questionários validados que estratificam os riscos em moderado ou leve. Segundo Roberta Rodrigues, a otimização terapêutica e a adesão à terapia medicamentosa, também são preocupações da equipe de enfermagem do programa neste estágio inicial. Para o diretor do AME de Limeira, Marcelo de Carvalho Ramos, a grande dificuldade está em saber até onde aquele paciente pode ir com a atividade física. “Não sabemos quanto ele suporta. Estamos cansados de ver pacientes coronários e hipertensos, que não estão acostumados com o exercício, passando mal ao praticar um esporte”, esclarece Ramos.
O paciente ainda passa por um grupo de nutricionistas que realiza o levantamento do consumo de sódio e gordura através de um questionário de frequência alimentar, e ainda uma avaliação biométrica. Com estes dados, o nutricionista aplica uma primeira conduta, na qual propõem mudanças na alimentação e estipula regras, orientando-o de acordo com o diagnóstico. Segundo a nutricionista responsável, Dulcinéia Batista Pinheiro Alegre, em geral as dietas são hipossódicas. “Na primeira conduta explicamos ao paciente todas as restrições e mudanças necessárias para que o tratamento seja efetivo. Após 30 dias, ele retorna e somente aí, definimos um cardápio com valor calórico”, explica Dulcinéia.
O último estágio é a consulta com o fisioterapeuta. Nela são aplicados questionários específicos como o protocolo de Chassain, que avaliam a capacidade física e a intensidade segura para que o paciente não entre em fadiga ao realizar o treinamento. Segundo a fisioterapeuta, Gabriela de Barros Leite Domingues, também são realizados a pesagem na balança de Bioimpedância e o teste de caminhada de seis minutos. “Depois de realizar todos os exames e questionários, podemos definir o treinamento que acontece três vezes por semana, durante uma hora. O período de permanência é de três meses, aproximadamente 36 sessões”, esclarece Gabriela.
Durante este tempo, o paciente aprende a exercitar-se de forma segura, respeitando a intensidade ideal, sem correr riscos. Para enfermeira Roberta a missão do programa é reabilitar e promover a saúde cardiovascular. “Nós propomos uma mudança no estilo de vida destas pessoas”, afirma a enfermeira.
Cláudio Alexandre Gobatto, professor da Faculdade de Educação Física da Unicamp e membro da equipe multidisciplinar que coordena o programa, afirma que o diferencial está no treinamento individualizado, que faz com que o paciente sinta-se seguro ao realizar o exercício. “A idéia é que depois de passar pelo programa a pessoa continue praticando atividade física em algum segmento de forma semi-supervisionada”, explica Cláudio.
Para isso a equipe já prevê e negocia parcerias com a Faculdade de Ciências Aplicadas de Limeira. “Dessa forma, após aprender a se exercitar de forma correta, a pessoa irá incorporar a atividade no seu dia-a-dia.O ambiente lúdico da faculdade irá colaborar para que isso aconteça” , afirmou Roberta. Inicialmente o programa visa melhorar a qualidade de vida e ainda a adesão medicamentosa. Além disso, a diminuição de risco para evento subsequente e uma diminuição na mortalidade destes pacientes são esperados como resultados futuros.
A paciente Lourdes Barboza Gonçalves de Jesus, 53, sofre de hipertensão. Ela iniciou o tratamento no Pró-Cardio há um mês e meio e já sente diferença nas atividades do dia-a-dia. “Trabalho num mercado, ando o dia todo, faço reposições. Depois de iniciar o tratamento ficou tudo mais fácil. Até a quantidade de medicamento que tomo diminuiu”, afirmou Lourdes.
Caius Lucilius com Yasmine de Souza
Assessoria de Imprensa do HC Unicamp