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L. é uma criança de 12 anos que passou boa parte de sua infância, em uma pequena cidade da região de Campinas, com um problema que vários médicos não diagnosticaram. Com episódios freqüentes de pneumonia e chiado na respiração, a mãe sempre ressaltava aos médicos que a suspeita maior poderia ser a ponta de uma lapiseira, aspirada por L. quando ela tinha sete anos. Entretanto, exames de raios-X não mostravam nenhum corpo estranho. Somente 10% dos objetos aspirados aparecem neste tipo de exame.

Depois de passar por inúmeros especialistas, uma pediatra resolveu solicitar um exame de broncoscopia – um tipo de endoscopia respiratória que permite, através de um aparelho com fibras óticas, a visualização interna do sistema respiratório, desde a laringe até os brônquios. O exame confirmou a presença de um corpo estranho com 1,5 cm e foi revalidado pelo Serviço de Endoscopia Respiratória do HC. Os especialistas alertam que qualquer suspeita de aspiração de objetos a broncoscopia é vital para o diagnóstico.

Para José Cláudio Seabra, cirurgião torácico que cuidou do caso da jovem L., como a ponta da lapiseira permitia a passagem do ar pelos brônquios, o objeto ficou tanto tempo sem ser notado no pulmão da paciente e não danificou o órgão. “Depois que confirmamos a suspeita por meio do exame, foi necessário realizar uma broncoscopia rígida, no centro cirúrgico, com anestesia geral para retirar o objeto”, informou Seabra. L. não teve lesões sérias e agora leva uma vida normal.

Segundo coordenador do Serviço de Endoscopia Respiratória do HC, professor Ivan Toro, a aspiração de um corpo estranho é um acidente muito comum e frequente em crianças menores de sete anos. Até os três anos, ressalta, a criança não controla totalmente a mastigação e a deglutição, por isso a oferta de alimentos como feijão, amendoim, pipoca e milho pode apresentar risco para a aspiração. “Nesta faixa etária é muito comum a criança ter o hábito de levar objetos à boca por curiosidade, como pequenos brinquedos de plástico ou metal”, explica Toro.

A mãe da menina conta que ela realmente engasgou quando era mais nova, mas como voltou ao normal rapidamente o incidente foi ignorado. Com os anos o problema foi se agravando e de acordo com os médicos da Unicamp, os episódios de pneumonia em L. sem manifestavam quando ocorria um acúmulo de secreção na ponta da lapiseira, comprometendo a passagem de ar. “Não existe um tempo limite para asfixia, depende bastante da relação do tamanho do corpo estranho com o tamanho da via aérea, por isso em crianças isso é mais grave, com as via aérea menor qualquer objeto pode dar um asfixia quase que imediata”, salienta Toro.

Ivan Toro esclarece também que o maior risco do corpo estranho por vias aéreas é o de se alojar na laringe, pois ali ele impede a troca gasosa. “Se o objeto for menor e passar dessa região, ele também passará pela traquéia e poderá se alojar em qualquer um dos brônquios ou até um brônquio lobar”, alerta. No HC são realizados cerca de 1200 exames de broncoscopia por ano, entre os de diagnósticos e de retirada de objetos.

“É importante que os pais estejam atentos a qualquer alteração, tosse, chiado. São indícios de que a criança pode ter aspirado algo”, enfatiza Seabra. Segundo ele, é possível prevenir este tipo de acidente, mantendo longe das crianças peças pequenas e eliminando o hábito de estar com coisas na boca o tempo todo. “Comer em frente à TV, correndo, andando ou falado também podem gerar riscos para a aspiração tanto em crianças quanto em adultos”, revela Seabra.

Para Ivan Toro, o caso mais estranho que ele recebeu no HC foi o de uma criança de um ano, que aspirou um prego de aproximadamente oito centímetros. A criança foi imitar o pai que era marceneiro e ficava o tempo todo com pregos na boca, e mesmo sendo um objeto grande a criança chegou ótima no hospital, pois conseguia respirar em volta do prego.

Já o cirurgião Seabra destaca o aumento o número de broncoaspirações de material odontológico, e por isso a importância em realizar uma manutenção periódica das próteses dentárias. “Na última semana, retiramos uma espécie de parafuso de um implante dentário que foi aspirado durante o procedimento de implantação no consultório do dentista, por sorte o dentista percebeu e o encaminhou para o pronto-socorro”, conta Seabra.

Os especialistas do Serviço de Endoscopia Respiratória do HC orientam que em situações de urgência e desespero, ao se constatar a asfixia, os pais devem ligar para um serviço de ajuda como o SAMU ou o 190. Do outro lado da linha, os profissionais são treinados para prestar este tipo de atendimento de primeiro socorro orientando quanto ao fornecimento de oxigênio ao paciente ou extração do corpo estranho. Caso a pessoa ou criança volte a respirar, mesmo que normalmente, a orientação é procurar um atendimento médico imediatamente, para que seja investigado a causa da tosse ou asfixia.

No Brasil, os grãos são mais comumente aspirados na faixa etária pediátrica. No entanto, materiais sintéticos estão mais relacionados a óbito imediato, como balões de borracha, estruturas esféricas, como bola de vidro e brinquedos. 98% dos casos de broncoaspiração são resolvidos com o procedimento endoscópico e somente 2% tem necessidade de cirurgia pela forma como estão alojados no pulmão ou nas vias aéreas.

Caius Lucilius com Yasmine de Souza
Assessoria de Imprensa do HC Unicamp

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