Uma pesquisa realizada pelo Centro de Referência em Saúde do Homem, unidade da Secretaria de Estado da Saúde, apontou que 20% dos pacientes atendidos no Centro não permitiram que o médico urologista realizasse o exame de toque retal, popularmente chamado de “toque”. Já o teste PSA (antígeno prostático específico) feito através do exame de sangue não enfrentou resistência por parte dos pacientes.
Segundo Carlos Arturo Levi D’Ancona, chefe do departamento de Urologia do Hospital de Clínicas da Unicamp, uma boa parcela dos pacientes ainda se recusa a fazer o exame. Mas um grande número de homens já entende e aceita a importância do procedimento para a rotina preventiva. “Na roda de amigos eles acabam falando sobre isso e que embora desconfortável, é necessário”, informa D’Ancona.
Outra pesquisa realizada pela SBU (Sociedade Brasileira de Urologia) revela que o preconceito persiste. Apenas 32% dos entrevistados afirmaram já ter feito o exame de toque e 47% o PSA. Para o diagnóstico correto, é necessário fazer os dois exames. “O uso de dois métodos de detecção confere mais sensibilidade para o diagnóstico”, afirma D’Ancona. O PSA, por exemplo, pode estar aumentado por outras causas além do câncer da próstata como infecção do trato urinário, aumento benigno da próstata, prostatite e outras.
O câncer de próstata é o mais comum entre os homens e uma das principais causas de morte por doença. O tumor se desenvolve na próstata, uma glândula localizada na parte baixa do abdômen do homem. Ela envolve parte da uretra – tubo pelo qual a urina é eliminada – e produz parte do sêmen.O diagnóstico precoce é fundamental no combate a doença. “Quanto mais cedo o tumor é identificado, maior a chance de cura”, revela o médico. O check-up anual é recomendado a partir dos 45 anos e incluí o exame de toque e PSA. Para os homens com histórico da doença na família, o risco de desenvolver o câncer é de três a dez vezes maior.
A causa da doença ainda é desconhecida. Estudos demonstram uma relação entre a ingestão de gordura e o aumento dos níveis de testosterona, mas não há uma definição absoluta a respeito dos elementos que causam esse tipo de câncer. As recomendações para prevenção são genéricas, como manter uma boa alimentação, praticar atividades físicas regularmente, diminuir o consumo de álcool e não fumar. Mas o exame preventivo é maneira mais eficaz de cuidar da saúde, só a partir dele é possível identificar a presença do tumor.
Em sua fase inicial, a doença pode não apresentar sintomas. Com o avanço do quadro, o homem pode apresentar dificuldade para urinar, dor óssea, e pode evoluir para insuficiência renal. Existem diferentes tipos de tratamento, que segundo o urologista, são definidos de acordo com as características do tumor. Os avanços na medicina possibilitam o estudo de novas técnicas com cirurgias menos agressivas.
“Hoje nós temos tratamentos minimamente invasivos, como o HIFU, criocirurgia e a fototerapia dinâmica”, afirma o médico. O HIFU (High Intensity Focused Ultrasound), consiste em ultrassom de alta energia que ‘queima’ o tumor. A crioterapia, técnica que congela a próstata levando a necrose do tumor. Ambos ainda não estão na rotina do HC. A cirurgia e a radioterapia são os métodos mais empregados para o tratamento do câncer da próstata, e pode ter como complicação a impotência e a incontinência urinária.
Já a fototerapia dinâmica, na opinião de D’Ancona, é o método mais revolucionário. A técnica utiliza uma injeção venosa de substância que é ativada pela aplicação do laser na próstata. Quando iluminada pelo laser, diz, a droga provoca uma reação química nociva aos tumores, que bloqueia a ida de sangue ao tumor levando a morte das células cancerosas. A Urologia está envolvida em estudo clínico com fototerapia dinâmica e também tem um projeto de pesquisa de em andamento.
A aceitação do exame tem crescido entre a população masculina e o médico atribui parte desse aumento ao estímulo das mulheres, “a esposa marca a consulta e faz com que o marido venha, faça os exames de rotina e cuide mais da saúde”. Há também uma iniciativa na comunidade médica para a conscientização crescente da importância do exame, ressaltando que se trata de um procedimento rápido e barato. “Mas quando o paciente se recusa a fazer o exame, temos que respeitar”, concluí D’Ancona.
No Brasil, segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), esse ano, estima-se que 60.180 novos casos da doença serão registrados. Um aumento considerável quando comparado ao índice de 2010, que registrou 52.350 casos. Só no estado de São Paulo a doença deve atingir cerca de 15.690 homens esse ano. No HC da Unicamp, os pacientes encaminhados pela rede de saúde recebem o tratamento adequado. Para a realização do exame preventivo, o homem deve procurar a Unidade Básica de Saúde mais próxima.
Caius Lucilius com Jéssica Kruckenfellner e Assessoria da SES
Assessoria de Imprensa do HC Unicamp