O I Congresso Mundial de Trauma (World Trauma Congress), realizado no Rio de Janeiro entre os dias 22 e 25 de agosto, discutiu os principais aspectos da assistência a vítimas de trauma e estratégias para melhorar a qualidade do atendimento. O médico do Hospital de Clínicas da Unicamp, Gustavo Pereira Fraga, foi o coordenador científico do evento que reuniu 3.500 profissionais, com 72 convidados internacionais de 36 países.
“É a primeira vez em que um congresso envolvendo diversas sociedades internacionais tem esse assunto como tema”, lembra Gustavo Fraga. Para ele, o aumento dos investimentos na área tem reflexo direto sobre o atendimento aos pacientes. Mas apenas a redução dos acidentes, diz, através de ações preventivas pode garantir o aproveitamento de recursos em outras áreas da saúde. Todos os dias, cerca de 400 pessoas morrem vítimas de violência ou acidentes no Brasil. Por ano o índice de mortes relacionadas a acidentes de trânsito chega a 40 mil no país e 1,3 milhões no mundo.
“Nós temos diariamente vários leitos ocupados por vítimas de trauma. Só o HC atende entre 200 e 300 casos de trauma por motocicleta todo mês, dos quais 20% precisam de internação”, conta o médico. Acidentes com motocicletas são os mais comuns, em média, representam 48% dos traumas atendidos em grandes hospitais.
O estudo “Fatal motorcycle crashes: a serious public health problem in Brazil”, conduzido pelo aluno de medicina da Unicamp, Carlos Eduardo Carrasco, foi apresentado durante o congresso. Ele mostra que dos 479 casos de acidentes com motocicletas no período de 2001 a 2009 em Campinas, 42% estavam associados ao consumo de álcool e a média de idade das vítimas era de 27 anos. Comparando os anos de 2001 e 2009, Carrasco mostrou que em Campinas o número de motocicletas aumentou 126%.
“Com o baixo custo de aquisição, há cada vez mais motocicletas circulando. E no Brasil não há uma política adequada para capacitação de motoqueiros”, afirma Fraga. Ele atribui a esses fatores uma parcela do alto índice de acidentes. Esse número tem reflexo direto na economia, considerando que a faixa etária mais atingida é economicamente ativa e cada evento resulta em gastos no sistema de saúde e segurança pública.
As informações sobre as características das lesões, a gravidade e os órgãos mais acometidos em acidentes, como as coletadas para realização do estudo, podem colaborar com a melhora do atendimento as vítimas. Atento a importância do registro desses dados, o Ministério da Sáude lançou no último dia 23, a consulta pública da Linha de Cuidados ao Trauma na Rede de Atenção às Urgências e Emergências (RUE). O objetivo é reduzir o número de óbitos e sequelas provocadas por traumas e oferecer um atendimento mais humanizado. Isso será feito através do registro sistemático dos casos de traumas atendidos na rede pública.
“A consulta pública vai hierarquizar o grau de complexidade dos hospitais. Baseado nessa nova política, mais recursos serão destinados aos hospitais”, comemora o médico. A nova Linha prevê a definição de diretrizes para o atendimento aos pacientes, o estabelecimento de um protocolo único e o registro numa base de dados sobre o número de atendimentos, permanência no hospital e outros indicadores.
“O registro de trauma é muito importante e é provável que a Unicamp seja um dos locais-piloto para aplicação desse registro. Assim como ações de prevenção na mesma linha do projeto PARTY, para reduzir a incidência desses traumatismos”, completa Fraga. Sobre o projeto realizado no HC desde 2010 em parceria com a EMDEC, cerca de 1.971 alunos de 34 escolas já participaram.
Educação preventiva
O PARTY acontece a cada 15 dias, com o recebimento da visita de alunos das escolas de Campinas ao Hospital de Clínicas da Unicamp. Os estudantes assistem a palestras, conhecem algumas áreas do hospital e conversam com pacientes. Essa ação educativa tem como principal objetivo atuar na prevenção do comportamento de risco na direção.
Em países como o Canadá, no qual o projeto PARTY abrange um grande número de jovens, os resultados já são notados. Os jovens que participam do projeto estão menos envolvidos em infrações de trânsito e tem menor incidência de admissão hospitalar, quando comparados aos demais.
Caius Lucilius com Jéssica Kruckenfellner
Assessoria de Imprensa do HC Unicamp