O som de um saxofone soprano rompe a rotina hospitalar ao levar harmonia e “cura” a pacientes e funcionários do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, em Campinas (SP), passando pelas unidades de quimioterapia, hemodiálise, Unidade de Terapia Intensiva (UTI) até chegar ao centro cirúrgico durante os procedimentos.
Com 41 anos de experiência no saxofone soprano, Hilquias Alves toca desde o início do ano para pacientes e servidores do HC todas as quintas-feiras, mas nas últimas duas semanas levou os agudos do instrumento para o centro cirúrgico, a pedido dos profissionais da área da saúde. No repertório hinos cristãos, músicas populares e temas de filmes conhecidos. “Já esta comprovado que a música faz bem”, disse, por telefone, o gastrocirurgião Elinton Adami Chaim, que participava de um procedimento cirúrgico quando o músico tocava.
“Queria fazer um trabalho assim e procurei o hospital e, há duas semanas, me convidaram para tocar no centro cirúrgico. A música leva paz”, explica o músico de 48 anos.
“Não esperava. A música faz bem e vem acalmar”, resume Márcia Ferreira de Moraes, de 38 anos, que aguardava ansiosa o término da cirurgia da mãe na Sala da Família do Centro Cirúrgico, na quinta-feira (18). Ela foi surpreendida pelo músico que entrou tocando na sala, que fica ao lado do ambiente onde acontecem os procedimentos.
Assim que ouviu o som do sax, a técnica de enfermagem Rackel Veloso, de 22 anos, foi ao encontro do músico para ouvir mais de perto. “É muito bom. Traz uma sensação boa e faz se sentir bem neste ambiente”, descreve.
“Pedimos para ele tocar aqui para humanizar e trazer motivação para nossos profissionais”, disse a diretora técnica da Central de Material Esterilizado do HC, Kátia Maria Rosa Vieira.
Além de humanizar, o som também emociona. “Enquanto ele tocava para as funcionárias da Central de Material, uma delas se afastou para enxugar uma lágrima”, descreve o ministro de cultos religiosos do HC, João Silvio Rocha, que acompanha o músico pelos corredores e leitos do hospital.
Para a diretora administrativa do Centro Cirúrgico, Alessandra Roscani, a música reduz o nível de estresse enfrentado pelos profissionais, pacientes e seus familiares.
Na quimioterapia, a música também tem levado alívio aos pacientes. “Ele está me fortalecendo”, conta Sônia Maria de Oliveira, que está em tratamento e acompanhou o músico nos hinos cristãos tocados na tarde de quinta-feira.
No setor de quimioterapia em intervalos de 21 dias, Cristiane Santos Almeida era uma das mais sorridentes durante a breve apresentação. “É ótimo e nos dá força para lutar”, disse sorrindo.
“É tão bonito ver os pacientes se emocionarem. Acho que deveria ter um sistema de som ambiente permanente”, avalia a enfermeira Ana Paula Possa, do setor de quimioterapia.
Na hemodiálise, são muitas as histórias para contar. Havia um paciente que sempre ficava apático durante as seções, mas quando o músico apareceu, em uma quinta-feira, o semblante dele mudou, afirmam funcionários do setor. “Ele começou a se mexer e descobrimos que gostava de música e de rádio”, conta a funcionária Maria das Dores Pereira Moreira.
“Está na Bíblia, em Provérbios : O coração alegre aformoseia o rosto”, lembra o pastor aposentado Paulo Moreno, um dos pacientes da hemodiálise da última quinta-feira. Na opinião dele, quem se alegra até nos momentos mais difíceis vive mais.
E o saxofone também harmoniza na UTI do HC. Maria Regina de Oliveira se emocionou ao receber pela segunda vez o músico Hilquias Alves. Ao som de “Como É grande o Meu Amor Por Você”, de Roberto Carlos, a paciente acompanhou com sorrisos e sinais de positivo, pois estava impossibilitada de falar.
Voluntariado
Além do trabalho do Hilquias Alves, outros músicos também se apresentam no hospital, que também conta com o trabalho do Hospitalhaços e Griots, que são contadores de histórias. Pessoas que se interessam por trabalho voluntário no HC devem procurar a Superintendência e o Departamento de Serviço Social para outras informações.
Luciano Calafiori
G1 Campinas