O Hospital de Clínicas da Unicamp colocou em funcionamento, um novo equipamento para o tratamento de arritmias cardíacas. Denominado mapeamento eletroanatômico CARTO, o equipamento permite aos cardiologistas a geração de mapas coloridos e tridimensionais da propagação do impulso elétrico nas câmaras cardíacas. A desorganização dos impulsos elétricos nas câmaras cardíacas provoca diversos problemas, sendo o mais grave, a parada cardíaca. Ambulatório de arritmia atende cerca de 1000 pacientes/ano.
O procedimento com o mapeamento eletroanatômico CARTO, foi o primeiro a ser realizado em Campinas, em uma mulher de 56 anos, que teve alta no mesmo dia e se recupera bem. “Desde a década de 1990, acompanho grupos de arritmias de todo mundo que se dedicam ao desenvolvimento de técnicas para tratar as arritmias e, no momento, me sinto confortável com a tecnologia e sua aplicações que oferecemos aos pacientes”, afirma um dos responsáveis pelo equipamento, o médico cardiologista Márcio Figueiredo.
Ele explica que o novo aparelho leva à diminuição do uso do Raio-X, beneficiando pacientes e equipe médica, além de ser a melhor opção em casos específicos, uma vez que nem todos os pacientes com quadro de aritimia cardíaca, necessitarão passar pelo mesmo procedimento.”O aparelho permite a cauterização em casos complexos, em que o procedimento padrão não traria bons resultados”, afirma. Mesmo ocorrendo em uma sala cirúrgica é uma alternativa não cirúrgica.
O sistema CARTO é um método de mapeamento endocárdico não-fluoroscópico, que permite a geração de mapas coloridos e tridimensionais da propagação do impulso nas câmaras cardíacas. O procedimento minimamente invasivo é realizado através de uma ablação (uma eliminação na parte anormal) por cateter, no qual o médico passa um fino tubo flexível através dos vasos sanguíneos até o local do coração que possui a anormalidade, para eliminar rotas elétricas (sinais) anormais no tecido cardíaco.
A tecnologia é capaz de gerar diferentes tipos de “mapas” para facilitar o entendimento tridimensional da ativação elétrica para identificação precisa e rápida de arritmias focais ou circuitos reentrantes. Clinicamente essa tecnologia vem sendo indicada em situações de taquicardia atrial, flutter atrial, taquicardia ventricular, fibrilação atrial, entre outras. “Com a nova tecnologia, poderemos fornecer o tratamento adequado para o maior número possível de pacientes”, completa Figueiredo. Antigamente, era necessário que fosse feita uma cirurgia com o tórax aberto.
As arritmias são provocadas por distúrbios na formação do impulso elétrico que, em vez de formar-se no nó sinusial, tem origem em outras estruturas do coração, e por distúrbios na condução do impulso elétrico através das câmaras cardíacas.
Basicamente, os sintomas dependem da inadequação da frequência cardíaca. Como já disse, a oscilação pode ser grande, mas será considerada normal, se ao aumento ou redução corresponder uma perfeita adequação dos vasos para receber o fluxo sanguíneo necessário. No entanto, se ficar inapropriadamente muito baixa, o volume de sangue também se torna baixo e o sintoma é a fadiga.
Já a queda do nível de consciência e, eventualmente, os desmaios podem ser manifestação de frequência cardíaca muito baixa ou muito rápida. Em ambos os casos, a eficiência da bomba cai e o fluxo de sangue fica reduzido. Portanto, sintomas de baixo fluxo sistêmico cerebral podem ocorrer tanto nas frequências muito baixas quanto nas muito elevadas.
Outro sintoma importante, ressalta Márcio Figueiredo, é a percepção de que o coração está batendo num ritmo inadequado. Ou ele falha e o batimento fica descompassado, o que provoca palpitações, ou dispara e provoca taquicardias.
Entretanto, é preciso lembrar que existe uma manifestação extremamente grave das arritmias cardíacas, que é a parada cardíaca. “Quando o distúrbio do ritmo do coração é muito acentuado e grave, a atividade do coração pode ser tão rápida e desorganizada, que a eficiência mecânica do coração desaparece e ocorre a fibrilação”, esclarece.
Quando ela acomete os dois ventrículos, a atividade elétrica existe, mas não é sincronizada. Por isso, não há contração muscular efetiva, nem fluxo sistêmico. É como se o coração tivesse parado. Essa situação extrema que pode levar à morte súbita, muitas vezes, se manifesta em pessoas jovens e esportistas.
TRATAMENTO – Existem dois tipos de alterações do ritmo cardíaco que requerem tratamento. O primeiro é a síndrome bradicárdica em que existe distúrbio na formação ou na condução do impulso elétrico, de tal forma que a frequência cardíaca é sempre inapropriadamente baixa. Quando está bem estabelecido que essa condição é transitória e reversível (muitas vezes foi provocada por uso de medicamentos), não merece tratamento definitivo.
Porém, quando não existe possibilidade de recuperação, a única forma de restaurar a frequência cardíaca adequada é colocar um marca-passo, ou seja, um microcomputador que tem a capacidade de formar os impulsos elétricos e estimular as câmaras cardíacas.
Outro tipo de arritmia que requer tratamento é caracterizado pela ocorrência de curtos-circuitos no coração, o que aumenta o número de batimentos. Esses episódios podem ser isolados (extrassístoles), ou representar crises de taquicardia. O coração dispara, as pessoas sentem palpitações, sensação de desconforto e, às vezes, sintomas pré-sincopais.
Para esses casos, existem duas alternativas de tratamento. A primeira são os medicamentos utilizados basicamente para isolar os circuitos e evitar que as extrassístoles ou as taquicardias se manifestem. É um tratamento paliativo que a pessoa segue como forma de amenizar as crises.
No caso das arritmias malignas que podem provocar a morte dos pacientes, o uso do desfribrilador externo é de fundamental importância para o tratamento rápido das crises agudas, uma vez que o atendimento precoce impede que o hipofluxo cerebral se instale e provoque lesões neurológicas irreversíveis. Recentemente, as campanhas para a instalação de desfibriladores externos se intensificaram para proporcionar atendimento rápido aos portadores de arritmias.
Há indivíduos, porém, em que o risco de desenvolver quadros graves de arritmia é maior. Esses não podem esperar que o socorro chegue com o desfribilador. Mesmo que tomem medicamentos antiarrítmicos que diminuem a probabilidade de ocorrência do evento, mas não a eliminam, precisam contar com os desfibriladores automáticos implantados.
Caius Lucilius com Caroline Roque
Assessoria de Imprensa do HC Unicamp