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Está em uso no Hospital de Clínicas da Unicamp, um dos três únicos equipamentos de cromatrografia e espectrometria do Brasil e o primeiro instalado em um hospital. Alocado no laboratório de toxicologia do Centro de Controle de Intoxicações (CCI), a máquina de última geração permite análises químicas e diagnósticos mais precisos, para uma região com mais de 3 milhões de pessoas. Foi adquirida pelo custo de R$ 400 mil com recursos da reitoria.

O sistema de cromatografia e espectrometria de massa é capaz de detectar diversas substâncias de importância toxicológica, como medicamentos, drogas de abuso e praguicidas em diversos materiais biológicos humanos, como sangue, urina e até fios de cabelo. Tudo isso com segurança, rapidez e alto grau de confiabilidade, em um laboratório com demanda diária de 20 análises toxicológicas.

“Antigamente por uma técnica convencional, que é preciso fazer várias etapas de triagem, você levaria de 2 a 3 horas para confirmar qual substância causou a intoxicação. Na mesma situação, se aplicarmos essa máquina, temos o resultado em menos de 30 minutos”, explica o farmacêutico e toxicologista Rafael Lanaro. Em outro casos era preciso enviar as amostras para outras unidades da Unicamp para realizar as análises.

O diferencial do equipamento é o cromatógrafo gasoso, útil para dosar o nível de álcool em sangue de pacientes embriagados, por exemplo, acoplado em um espectrômetro de massa, que mapeia a espectrometria (espécie de DNA ou impressão digital) de moléculas. Outro diferencial é o console robotizado, que permite a automatização das análises, sem a necessidade de um técnico operando todas as amostras.

“A técnica desse equipamento, considerada padrão ouro na área de toxicologia, é 100% fidedigna. Um resultado de uma análise por espectrometria de massas não gera dúvidas, mas sim certezas”, afirma Lanaro. O cromatógrafo servirá também para ensino e pesquisa, uma vez que estudantes de farmácia da Unicamp passarão por formação com o novo equipamento.

Funcionamento

O aparelho possui uma biblioteca com a composição de 30 mil substâncias químicas, como se fosse um livro de toxicologia utilizado para estudos e consultas.

Para cada composto, há um espectro de massa (DNA) único. O analista tem que montar e calibrar a máquina para o tipo de utilização que ele fará, assim é possível criar métodos de análises para cada tipo de grupo de substâncias, como drogas e medicamentos.

A primeira etapa é a cromatografia gasosa, na qual uma solução de amostra é inserida no injetor do equipamento e transportada por um gás através de um tubo de separação chamado de “coluna”, que tem 30m de extensão. Os diversos componentes presentes na amostra são separados dentro da coluna, uma vez que cada um tem afinidade mais ao gás ou mais à coluna. Se o composto tem mais afinidade com o gás ele sai da coluna após de 3 minutos, por exemplo, passando reto por ela; se tem muita afinidade pela coluna, vai ficar preso e demora mais a sair, depois de 9 minutos, por exemplo.

Assim que se formam os picos dos gráficos, gerados em tempo real e expostos no computador ligado ao equipamento. Cada um contém informações de acordo com o tempo de duração da análise; possuem diversos picos, entre os quais alguns suspeitos, que podem ser substâncias químicas.

Espectrometria é a parte seguinte. O composto sai da coluna e vai direto ao espectrômetro, capaz de quebrar um traço da molécula infinitas vezes, e detectar concentrações bem pequenas, na escala de uma parte por trilhão. É assim que identifica-se as características da substância, ou seja, quando sua impressão digital é descoberta e o técnico poderá fazer a interpretação dos resultados e descobrir a qual composto se refere cada alteração.

Tais técnicas vão ao encontro das necessidades da toxicologia, área em que a detecção de drogas, contaminantes ambientais e pesticidas tem desafiado analistas, em função da necessidade de se analisar estes compostos em um número cada vez maior de amostras biológicas, com precisão e rapidez.

Aplicação

Sendo a Unidade de Emergência Referenciada (UER) do HC, a porta de entrada de pacientes com suspeita de intoxicação, as principais especialidades beneficiadas pelo novo equipamento serão psiquiatria, cirurgia do trauma, clínica médica e cardiologia, por exemplo.

Em um caso real, um paciente deu entrada na UER com alucinações, dessa forma a equipe de psiquiatria foi envolvida, para descobrir a origem dos sintomas, que poderia ser um surto psicótico causado por alguma patologia ou, pelo uso de drogas. “Em um caso recente também detectamos em um jovem de 25 anos, seis tipos diferentes de droga no organismo”, relatou Lanaro.

Frente essas suspeitas foi realizada a análise no CCI, utilizando a máquina, que confirmou a existência de substância química na amostra. Dessa forma o diagnóstico foi concluído, possibilitando ao paciente passar pelo tratamento adequado.

Em outra ocasião foi possível evitar uma intervenção cirúrgica, com a suspeita de mal funcionamento no pâncreas, em razão de um quadro de hipoglicemia. Com a análise do sistema de cromatografia e espectrometria, descobriu-se que o quadro foi induzido com o uso de medicamento para diminuir a glicemia no organismo, descartando uma causa patológica.

“Confirmada a intoxicação rapidamente, você exclui inúmeras possibilidades e diminui o tempo gasto em investigação médica, que demanda muitos recursos hospitalares” conclui Lanaro.

Caius Lucilius com Caroline Roque
Assessoria de Imprensa do HC Unicamp

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