Há cerca de dez meses, a equipe de estudos clínicos em Urologia Oncológica do Hospital de Clínicas da Unicamp iniciou a participação em uma pesquisa internacional sobre a ação de uma nova droga para tratamento de câncer de próstata. No final de setembro, a equipe foi classificada como o hospital que mais selecionou pacientes em toda a América Latina, concorrendo com outros centros públicos e privados, e se destaca junto a um seleto grupo de hospitais de referência no tratamento de câncer em todo o mundo. O HC da Unicamp realiza anualmente cerca de 400 atendimentos e acompanhamentos de pacientes com de câncer de próstata.
De acordo com o urologista responsável pela pesquisa no HC, professor Ubirajara Ferreira, em menos de um ano a equipe conseguiu recrutar pouco mais da meta (22 homens aptos), a ser alcançada em dois anos de estudo. “Atualmente 15 pacientes foram selecionados e já estão participando do estudo. Os pacientes são selecionados de acordo com um estágio específico da doença, por exemplo, o câncer de próstata, não é todo paciente que tem esse tipo de câncer que é selecionado. Então a primeira dificuldade é você achar um possível paciente e depois ver se ele se enquadra em uma série de itens. A partir daí, que se inicia a pesquisa”, explica Ferreira sobre o processo de seleção.
A pesquisa nomeada “Estudo de eficácia e segurança multinacional, randomizado, de fase 3, duplo-cego e controlado por placebo sobre Enzalutamida em pacientes com câncer de próstata não-metastizado resistente à castratação”, consiste basicamente na seleção de pacientes de uma determinada fase do câncer, sendo que metade dos pacientes farão uso de um comprimido inerte de placebo, sem função ativa, e a outra metade utilizará um medicamento sintético composto por Enzalutamida. Contudo, nem a equipe médica e nem os pacientes sabem quem está fazendo o uso de qual medicação, por isso, duplo-cego. Os pacientes continuarão utilizando as demais medicações oncológicas para tratamento aliado ao do estudo. A partir daí a equipe médica acompanha todo o quadro clínico, analisando resultados negativos e positivos.
Caso do aposentado O. R., de 81 anos, paciente do HC e diagnosticado há nove anos com câncer de próstata. Ele iniciou o tratamento com o medicamento da pesquisa no dia último dia 29 e tem expectativas positivas. “Apesar de não saber ao certo de que lado (do estudo) estou, vou tomar direitinho os quatro comprimidos por dia. No outro tratamento o médico disse que eu estava bem e por conta própria parei de tomar o outro remédio, o que não era pra eu ter feito. Agora vou seguir na risca e espero melhorar”, conta o aposentado.
Ferreira aponta que esta medicação já é utilizada no tratamento de câncer de próstata e é comprovada a eficácia em outros estágios da doença. A intenção da pesquisa é verificar se esta boa condição de tratamento se verifica para outra determinada fase. A maior dificuldade é encontrar um paciente que se encaixe nesta determinada etapa. “Não temos tanta facilidade de encontrar o paciente, pois as determinações são muito específicas, muitos exames tem que ser realizados, mas apesar disso, estamos nos destacando mundialmente. O que mais nos deixou felizes, não é só a quantidade de pacientes, mas a qualidade, porque nós selecionamos pacientes e estamos perdendo muito pouco. Isso é o reflexo de todo o cuidado que temos na seleção”, afirma o urologista.
Estudo no Brasil e no Mundo
Segundo a coordenadora de Estudos Clínicos, Nádia Caporalli, a meta mundial do estudo é atingir a quantidade de 1.682 pacientes participantes. No mundo são 150 centros públicos e privados de pesquisa e no Brasil, cerca de cinco grandes centros de saúde, incluindo o HC da Unicamp, participam da pesquisa. O intuito é alcançar no país o número de 130 homens aptos para tomar a medicação.
“Nós não sabemos ainda quais pacientes estão tomando a medicação, mas já acompanhamos algumas mudanças e melhoras. Vale ressaltar que não pagamos nenhum valor para estimular a participação. A pesquisa ainda não tem uma data definida, mas o nosso contrato está previsto até 2019. A comissão organizadora assim que revelar quem utilizou o medicamento oncológico se predispõe a fornecer gratuitamente este remédio àqueles pacientes que fizeram uso dele e sentirem uma melhora relativa na qualidade de vida”, afirma Nádia Caporalli.
Este estudo é realizado por uma equipe multidisciplinar das áreas de urologia, oncologia, enfermagem, cardiologia, medicina nuclear e farmácia. Na foto estão presentes, o Dr. André Teixeira (parceria com a Diagmed), a enfermeira Leila Techi, a biomédica Fernanda Hungaratto, o urologista Wagner Matheus, o oncologista André Sasse, a coordenadora de Estudos Clínicos Nádia Caporalli, o urologista Ubirajara Ferreira, a médica de medicina nuclear Bárbara Amorim e o urologista Lucas Dal’Acqua.
Cancer de próstata
O câncer de próstata é o segundo de maior incidência entre os homens no País e o terceiro que mais mata. De acordo com o urologista, se a doença for diagnosticada em estágio inicial, a chance de cura ultrapassa os 90%. Por isso, ele ressalta a importância da prevenção através do exame de sangue e do toque retal. Em alguns casos, não há necessidade de realizar tratamento imediato, mas é preciso fazer o acompanhamento.
“Preconizamos a necessidade de fazer o diagnóstico. Talvez se o câncer não for agressivo é possível fazer o acompanhamento”, disse Ferreira. Segundo ele, o preconceito existente contra o exame de toque retal diminuiu, principalmente após campanhas de prevenção, como o Novembro Azul. No entanto, avisa que ainda está longe do ideal. “Tem aumentado bastante a conscientização e os homens estão mais interessados. Mas não é ideal ainda. Uma pesquisa apontou que em São Paulo 51% dos homens adultos nunca fizeram nenhum tipo de exame”, finalizou o urologista.
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Caius Lucilius com Gabriela Troian
Assessoria de Imprensa do HC Unicamp