Um feito inédito na história da cirurgia cardíaca do Hospital de Clínicas da Unicamp: duas captações de corações e dois transplantes cardíacos em 18 horas. A primeira captação ocorreu ontem (03/02) pela manhã, em São Paulo e a segunda captação aconteceu em Campinas. Os pacientes de 56 e 57 anos passam bem e devem sair da UTI Coronariana para a enfermaria em poucos dias. Em 2015 foram realizados seis transplantes cardíacos.
Para o chefe da cirurgia cardíaca no HC, Pedro Paulo Martins de Oliveira, o aprendizado com uma situação inusitada como essa é muito importante para o aperfeiçoamento de futuras captações e transplantes. “A primeira notificação da Central de Transplantes ocorreu no início da manhã, onde uma equipe foi à São Paulo enquanto a segunda equipe preparava o paciente. Porém, durante o transplante do órgão aqui no HC, por volta da treze horas, recebemos outra notificação e enviamos outra equipe para a segunda captação”, relata Oliveira.
Neste dia, esclarece, as duas equipes – com seis cirurgiões cardíacos e um médico residente – estavam mobilizadas para os procedimentos de captação e transplante. “Entre a saída da equipe para São Paulo e o fim do segundo transplante foram dezoito horas de atividades contínuas. Foi um sucesso”, destaca o cirurgião cardíaco Carlos Lavagnoli que realizou a primeira captação em São Paulo e participou do segundo transplante, que começou às 18 horas e terminou a zero hora desta quinta (04/02).
Segundo o coordenador do ambulatório de transplante cardíaco, Otávio Rizzi Coelho-Filho, havia por parte da equipe clínica e cirúrgica uma grande preocupação com um dos pacientes, há quatro meses internado. Coelho-Filho explica que o paciente tinha uma doença grave conhecida como miocardiopatia hipertrófica, com histórico de outras cirurgias, restando apenas a esperança de um novo coração. “Inclusive ele estava fazendo uso de um equipamento chamado balão intraórtico para auxiliar seu coração. Porém a indicação é para poucos dias e o novo coração chegou na hora certa”, comemora.
Logística – Para realização da primeira cirurgia de transplante cardíaco, parte da equipe médica ficou no HC da Unicamp em preparação cirúrgica, enquanto outra parte se deslocou até São Paulo para a captação de um órgão, de uma pessoa que havia falecido na cidade.
De acordo com o cirurgião cardíaco Carlos Lavagnoli para captar este coração em tempo hábil para realização da cirurgia foi necessário o apoio do helicóptero da polícia militar. “Foi necessário isolar um cruzamento próximo ao hospital que não dispunha de um heliponto, para que o equipamento pudesse descer com segurança e pudéssemos embarcar”, conta Lavagnoli.
Todo este apoio é necessário durante captações de órgão por conta do tempo de vida dos órgãos. “Entre a gente retirar o órgão do doador e ele estar batendo no peito do receptor nós temos o período de quatro horas”, explica Oliveira.
Durante este transplante a equipe médica recebeu outra oferta de órgão compatível, captado em Campinas, para um paciente que também estava internado no HC. Todos os profissionais se mobilizaram para realizar mais um procedimento no mesmo dia, com um intervalo de cerca de três horas. Além da preparação da sala de centro cirúrgico, dos materiais e equipamentos, o hospital também se preparou para receber outro paciente na Unidade de Terapia Intensiva Coronária.
Premiação – Estes dois procedimentos realizados em um espaço de tempo curto reforçam o reconhecimento da equipe médica de transplante cardíaco tem recebido nos últimos anos. No ano passado, o HC da Unicamp recebeu o prêmio “Destaque – Transplante e Captação de Órgãos 2015”, entregue pela Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. Os médicos ganharam no interior a categoria de transplantes cardíacos em adultos.
Transplantes – O Hospital de Clínicas da Unicamp atingiu no ano passado a marca de 6000 transplantes de órgãos e tecidos realizados desde 1984. Dos dez tipos de órgãos e tecidos que podem ser transplantados, o HC da Unicamp não realiza os de intestino, valva cardíaca, ossos e o de pulmões, esse último em fase final de adequação para começar neste ano. Confira abaixo a tabela com os indicativos dos últimos anos.
Entre os órgãos que podem ser doados, o coração e o pulmão são os que possuem o menor tempo de preservação extra-corpórea: de 4 a 6 horas. Fígado e pâncreas vêm em seguida com tempo máximo para transplante de 12 a 24 horas e os rins podem levar até 48 horas para ser transplantados. Já as córneas podem permanecer em boas condições por até sete dias e os ossos até cinco anos.
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Caius Lucilius com Gabriela Troian – Assessoria de Imprensa HC