“Adoro Freud, quero a psicanálise aqui”, teria dito o professor Zeferino Vaz ao psicanalista campineiro Roberto Pinto de Moura, em meados de 1965, sobre a criação de um Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria (DPMP) para a Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. Em 1966, o sonho virou realidade. E na última sexta-feira, 2 de dezembro de 2016, ele completou 50 anos.
Nesse dia – em comemoração a data festiva – docentes, funcionários técnico-administrativos, médicos assistentes, residentes, alunos de graduação e pós-graduação participaram, no auditório da FCM, da cerimônia de comemoração do Jubileu de Ouro do DPMP, que contou com palestra e apresentação musical dos docentes da casa, e vídeo-homenagem com a história do Departamento.
“Vivemos tempos difíceis e cheios de desesperança, mas, são momentos como esse, de reencontro e compartilhamento, que nos auxiliam a resgatar a esperança em dias melhores. É muito bom reencontrar velhos amigos, e companheiros que fizeram parte da história do Departamento, e que ajudaram na sua construção” – disse a médica psiquiatra e chefe do DPMP, Eloisa Helena Rubello Valler Celeri.
Em sua fala, Eloísa disse que a história do DPMP é muito recente quando comparada a de outras instituições da área, mas que “por isso mesmo”, é um departamento “cheio de vida”. “Mesmo jovens, vivemos, hoje, um tempo de maturidade. Nosso Departamento é amigável e fraterno. Temos embates, enfrentamentos e discussões, mas temos conseguido construir e manter um espírito universitário, onde as tensões e posições conflitantes podem ser expressas e sustentadas, convivendo lado a lado, de forma respeitosa e democrática”.
Para Eloísa, a participação do DPMP nas atividades de graduação, residência médica, pós-graduação, extensão e assistência médica da FCM, demonstra a força e importância desempenhada pela área. “Percebo que temos realizado muito, sem perder de vista, a nossa identidade e a nossa vocação. Ocupamos um lugar relevante dentro da psiquiatria brasileira, com contribuições na área de pscicopatologia, psiquiatria no hospital geral, suicido, classificações diagnósticas, filosofia da psiquiatria, pesquisa qualitativa, psicanálise”.
Na atualidade – explicou Eloísa – novos desafios chegam ao DPMP, com novas frentes de atuação em pesquisa nas áreas de substâncias psicoativas, psico farmacogenética, psiquiatria da criança pequena, dentre outras. Tudo isso, “sem nos distanciarmos da nossa vocação em docência e formação de novos psiquiatras”, complementou.
A médica psiquiatra e chefe do ambulatório de Psiquiatria do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, Renata Cruz Soares Azevedo, disse que mesmo com os desafios diários, a área proporciona espaço de conhecimento, cuidado, pesquisa e formação dos alunos, que ela considera essencial. “Aprendemos cotidianamente através do contato com os nossos pacientes. Eles são o nosso objetivo final enquanto professores de psiquiatria e alunos que estão aprendendo a cuidar desse aspecto tão importante que é a saúde mental”.
O médico psiquiatra Paulo Dalgalarrondo, lembrou que na ocasião do Jubileu de Ouro do DPMP, a Enfermaria de Psiquiatria do HC da Unicamp – da qual é chefe – também celebrava seus 30 anos de implantação dentro do hospital geral. “Embora pequena, a Enfermaria é muito importante na história do Departamento, da psiquiatria brasileira e da psiquiatria universitária, como um todo”.
Conforme explicou Dalgalarrondo em sua fala, a área surge em meados da década de 1980, a partir da ideia defendida pelo psicanalista Maurício Knobel – chefe do DPMP à época – que preconizava que a psiquiatria deveria estar plenamente integrada à sua morada de origem, que era a medicina. “Para o professor Knobel, os pacientes com transtornos mentais graves deveriam ser tratados com a dignidade que todo paciente merece. Sem nenhum tipo de discriminação”.
Embora a instalação de uma enfermaria de psiquiatria dentro do HC da Unicamp tenha enfrentado, em seu início, resistência de parte da comunidade médica – como lembrou Dalgalarrondo em sua fala – o coordenador da Administração do hospital, José Roberto Mattos Souza, disse que na atualidade a unidade assistencial não tem do que reclamar em relação à presença da enfermaria dentro do HC.
“Fui aluno da vigésima quinta turma de Medicina da FCM e tenho boas recordações da graduação e da minha participação nas aulas de psiquiatria. Como docente, no cargo que ocupo, gostaria de dizer que a psiquiatria nunca deu nenhum problema que possa ter sido justificado pela presença do departamento e da enfermaria dentro do hospital”, disse José Roberto, que representou a Superintendência do HC no evento.
Aprimorar conceitos e aprofundar a crítica em relação à psiquiatria feita no DPMP e no Brasil são desafios que Paulo Dalgalarrondo também considera importante na trajetória futura do departamento. “Acredito que essas são iniciativas que possibilitarão que o Departamento trabalhe, daqui a alguns anos, para uma clínica, um ensino e uma ciência melhor. É um esforço para trabalharmos politicamente para uma saúde e uma universidade, dignas.”
Palestras, Video-Homenagem e Música
Ainda pela manhã, a cerimônia de comemoração dos 50 anos do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da FCM também contou com as palestras dos docentes da casa. Além do próprio Paulo Dalgalarrondo, com a palestra institulada “História do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria”, explanaram ao público, os professores Neury José Botega, Egberto Ribeiro Turato e Cláudio Eduardo Muller Banzato, nas palestras: “A história da psiquiatria no hospital geral”, “A trajetória acadêmica do método clínico-qualitativo” e “O lugar da psiquiatria na medicina de hoje”.
O vídeo-homenagem “Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria – 50 anos” abriu a programação das comemorações do Jubileu de Ouro do DPMP no período da tarde. O documentário elaborado pelos jornalistas da Área de Relações Públicas e Imprensa, Camila Delmondes e Edimilson Montalti, e o cinegrafista e fotógrafo da Área de Suporte Didático e Divulgação Técnico Científica, Marcelo Santa Rosa, trouxe depoimentos dos docentes que acompanharam a implantação do Departamento, incluindo o seu fundador, Roberto Pinto de Moura.
Para fechar as comemorações, o grupo de musicistas “Chorando sem Prozac”, composto pelos professores do DPMP Paulo Dalgalarrondo, Joel Sales Giglio e Liliana Andolpho Magalhaes Guimaf, e as médicas-residentes Camila e Natália; fez uma tocante apresentação com composições de F.D.Marchetti e M.de Feraudy, Luiz Gonzaga, Pixinguinha, dentre outros.
Camila Delmondes
Assessoria de Imprensa da FCM