O Hospital de Clínicas da Unicamp acaba de realizar a centéssima cirurgia de epilepsia em crianças. De acordo com a neurologista infantil e professora do Departamento de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, Maria Augusta Montenegro (foto), a cirurgia de epilepsia infantil foi implantada na Unicamp em 1998 pelos neurologistas Fernando Cendes, Marilisa Guerreiro e Carlos Guerreiro.
De acordo com Montenegro, a cirurgia é indicada para pacientes com epilepsia refratária, onde os remédios não são suficientes para controlar as crises, e que apresentam um foco epiléptico bem definido. O objetivo da cirurgia é controlar ou diminuir o número de crises epilépticas, permitindo melhor desenvolvimento e qualidade de vida da criança.
Maria Augusta concedeu entrevista onde fala sobre as crianças que podem ou não fazer esse tipo de procedimento. Ela também falou sobre a dieta cetogênica adotada para o controle das crises epilépticas. Essa dieta é rica em gordura onde a fonte de energia passa a vir da gordura, e não da glicose. Isso muda o metabolismo do corpo que passa a queimar a gordura da dieta e produzir corpos cetônicos, daí o nome da dieta. “Não se sabe ao certo o mecanismo de ação, mas 30% dos pacientes tem melhora expressiva com a dieta”, diz a neurologista da FCM.
FCM – Epilepsia na infância é comum?
Maria Augusta – Sim, e apesar de causar muito medo nos pacientes e familiares, a maioria das crianças tem ótima evolução com controle completo das crises e retirada da medicação após alguns anos de tratamento.
FCM – O que é epilepsia refrataria?
Maria Augusta – É a epilepsia onde as crises epilépticas não são controladas com medicação antiepiléptica.
FCM – Como os pacientes são selecionados para fazer a cirurgia de epilepsia?
Maria Augusta – Vários exames são feitos para definir a localização do foco epileptogênico: eletroencefalograma, vídeo-EEG, ressonância de crânio e avaliação clínica com descrição detalhada do tipo de crise epiléptica.
FCM – Todo paciente com epilepsia pode fazer cirurgia de epilepsia?
Maria Augusta – Não, a cirurgia só está indicada caso os remédios não sejam suficientes para controlar as crises.
FCM – Quais os tipos de cirurgia de epilepsia?
Maria Augusta – Existem vários tipos de cirurgia de epilepsia e o tipo depende do tamanho e localização de cada lesão. Geralmente o objetivo é retirar toda a região responsável por causar a epilepsia.
FCM – Quantas crianças já foram operados na Unicamp?
Maria Augusta – No mês de janeiro completamos a 100ª cirurgia de epilepsia na infância. A grande maioria dos pacientes tem ótima evolução com controle completo das crises ou melhora muito importante.
FCM – Dieta cetogênica está na moda, qualquer um pode fazer esse tipo de dieta?
Maria Augusta – Não. A dieta cetogênica que está sendo divulgada na mídia é uma dieta para perder peso. Nós estamos falando de uma dieta que é um tratamento médico, rigorosamente controlado por nutricionista e que não pode ser feito sem supervisão médica.
FCM – Qual paciente pode fazer a dieta cetogênica?
Maria Augusta – Pacientes com epilepsia refratária (crises não controladas por medicação antiepiléptica). Principalmente nos casos onde não dá para oferecer o tratamento cirúrgico da epilepsia.
FCM – A dieta cetogênica tem efeitos colaterais?
Maria Augusta – Sim. Como todo tratamento médico há efeitos colaterais, como por exemplo diarreia, náusea, perda ou ganho de peso, constipação intestinal, etc.
FCM – Existe só um tipo de dieta?
Maria Augusta – Não, existem vários tipos de dieta cetogênica: as principais são a dieta cetogênica clássica, dieta de Atkins modificada e dieta com índice glicêmico baixo. Para cada tipo de paciente uma ou outra dieta pode ser indicada.
FCM – Como é a dieta?
Maria Augusta – A dieta é rica em alimentos gordurosos como creme de leite, bacon, maionese, etc. A nutricionista ajuda a família a fazer receitas especificas para que a refeição fique mais saborosa.
FCM – Por quanto tempo a dieta é feita?
Maria Augusta – Após dois meses já podemos ver os primeiros resultados, ou seja, já da para definir se vale a pena continuar com a dieta. Geralmente, a duração total da dieta é de dois anos.
Texto – Edimilson Montalti (FCM)
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