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Em todas as áreas, planos de contingência são uma premissa para o bom funcionamento de qualquer instituição. A cada momento, é preciso ajustar fluxos, processos e rotinas de trabalho tendo em vista situações emergenciais desencadeadas por eventos de grande magnitude ou capacidade de impacto, como a falta repentina de água ou energia elétrica, de recursos humanos ou insumos materiais, as catástrofes naturais, as pandemias e assim por diante.

“Um problema em uma autoclave, dentro da central de materiais, pode travar um centro cirúrgico”, explica a gestora de risco e coordenadora do Núcleo de Qualidade e Segurança em Saúde (NQSS) do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, Alessandra Roscani, sobre a grande movimentação realizada no hospital universitário para o enfrentamento da Covid-19, e que culminou na construção coletiva de um plano detalhado de contingenciamento para o hospital.

“O plano de contingência é a premissa para assertividade das ações da liderança institucional e a resolução ágil das demandas frente às situações de crise, que variam das mais simples às mais complexas e que demandam ações internas e parcerias externas para os seus enfrentamentos. A Covid-19 apresentou um cenário de crise para o qual ninguém estava preparado”, explica Roscani, sobre os efeitos desencadeados pelo novo coronavírus na rotina dos hospitais em todo o mundo.

A gestora comenta que, no Brasil, os ventos da Covid-19 começaram a soprar mais intensamente a partir de novembro de 2019, acendendo o sinal de alerta dos setores ligados à gestão de risco e segurança em saúde dos hospitais. “Começamos a acompanhar o movimento inicial da doença na China e, em curto espaço de tempo, vimos a Covid-19 aumentar sua abrangência para outros países”.

Seguindo as recomendações da Organização Mundial de Saúde, rapidamente, o HC Unicamp começou a se preparar para a pandemia. A agenda de trabalhos começou em janeiro deste ano, a partir de reuniões semanais convocadas pelo infectologista e coordenador de assistência do hospital, Plínio Trabasso, com as equipes do Grupo de Vigilância Epidemiológica, da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar e líderes de áreas estratégicas do hospital.

“Inicialmente, como uma situação nova, a prioridade e objetivo principal do hospital foi delinear o fluxo de atendimento a partir da porta de entrada dos futuros pacientes com Covid-19 e os cuidados preventivos necessários para garantir a segurança do paciente e dos colaboradores”, conta Roscani, quando o HC ainda não contava com nenhum caso suspeito da doença.

Definir diferentes níveis de resposta e de criticidade operacional, frente à pandemia, em parceria com os gestores das áreas, foram os passos seguintes do HC na elaboração do plano de contingenciamento. “Pensamos em todas as possibilidades de risco que o hospital poderia enfrentar no contexto da Covid-19 e, a partir delas, desenhamos diversas ações e processos de trabalho para atenuar e, até mesmo, mitigar esses riscos. O mapeamento desses riscos e processos permite antever e lidar melhor com possíveis desdobramentos, por vezes, desagradáveis”, explicou Alessandra, especialista no assunto.

Recentemente publicado, o Plano de Contingenciamento do HC Unicamp está disponível na intranet e conta com sete níveis de criticidade, indo do mais básico, de monitoramento, ao mais preocupante, quando o hospital atinge a sua capacidade máxima de atendimento, que corresponde à média de 100 leitos de UTI, distribuídos nas UTI pediátrica e UTI adulto, centros cirúrgicos, Hospital Dia e enfermarias. Tudo isso, sem deixar de prestar assistência aos outros pacientes críticos atendidos no Hospital. Na atualidade, o HC encontra-se no nível 3 de criticidade operacional.

“Em janeiro, quando percebemos que o que estava acontecendo em outros países atingiria também o Brasil, estávamos em nosso nível de ‘estado de alerta’. Passamos ao nível de ‘perigo iminente’ e, posteriormente, ‘situação de emergência em saúde’, quando o nosso plano de enfrentamento à pandemia – que estratifica quais as ações devem ser desenvolvidas – entrou em operacionalização, a partir do momento em que tivemos confirmado no hospital o primeiro caso suspeito de Covid-19. A partir desse contexto, os grupos iniciais de discussão evoluíram para a configuração de um Comitê de Crise com lideranças-chave para a tomada de decisões mais estratégicas e consolidadas”, explica.

Um jogo de xadrez. Uma pandemia em curso

Elaborar um plano de contingenciamento em curtíssimo espaço de tempo, articulando espaços, estrutura e equipe é tarefa árdua. Como em um jogo de xadrez, cada ação deve ser pensada de forma estratégica, pois o movimento de uma peça, ao acaso, pode colocar todo o jogo a perder. Apontar o público-alvo, as vulnerabilidades da instituição, os recursos e insumos necessários para o enfrentamento da crise estão entre as principais jogadas para equacionar a situação.

“Durante uma situação de crise, é preciso evitar o desencontro de informações. É necessário muita mediação e diálogo para que as diferentes equipes atuem em harmonia operacional”, explica a coordenadora do Núcleo de Segurança do Paciente, Mariana Salhab Dall Aqua Schweller, sobre o trabalho realizado pelo superintendente do HC, Antonio Gonçalves de Oliveira Filho, em conjunto com o Comitê de Crise, diversas equipes e lideranças do hospital.

Todas as decisões dependem de um trabalho pesado de articulação entre as diferentes equipes multiprofissionais. Mudar um paciente com gravidade para internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) – é o caso dos pacientes Covid-19 – não é uma atividade trivial dentro de uma unidade hospitalar. “Antes de me decidir pelo local de assistência ao paciente, preciso estar segura de que o novo local contará com os recursos necessários como painel de gás, respirador, monitor, equipe qualificada e etc.. O próprio local que receberá o paciente é um desafio, pois, se pretendo abrir uma nova UTI onde até então funcionava o Centro Cirúrgico, preciso pensar, antes, sobre as medidas de mitigação que deverão ser adotadas para as cirurgias que precisarei cancelar”, afirma.

Nesse sentido, Schweller explica que o mapeamento de risco deve ser a principal diretriz na elaboração de um plano de contingência. “É preciso estar preparado para contingenciar aquilo que coloca toda a instituição em risco, incluindo aí não apenas a integridade física como também a integridade emocional dos pacientes e colaboradores. A pandemia é um processo que gerou muita ansiedade, principalmente na equipe profissional do hospital”, comenta Mariana.

Em pleno enfrentamento da Covid-19, o cenário futuro ainda não está dado. “As coisas ainda estão acontecendo. Nosso plano de contingenciamento é constantemente atualizado. Temos, no entanto, a tranquilidade de já poder contar com uma diretriz detalhada de atuação, de maneira que todos os profissionais do HC, hoje, têm as informações e orientações de como proceder no combate ao novo coronavírus e esse é um trabalho de muitas mãos”, conclui.

Texto: Camila Delmondes
Assessoria de imprensa da FCM Unicamp

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