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Por mais que a pandemia tenha provocado a morte de mais de um milhão de pessoas em todo mundo, o dia a dia do Hospital de Clínicas da Unicamp tem registrado um desdobramento positivo da crise sanitária. A disposição das famílias em fazer a doação de órgãos de pessoas que perdem a vida por outras causas aumentou, segundo a médica Ilka Boin, chefe do transplante de fígado do HC.

“A queda da negação das famílias saiu de 45% para 38% durante a pandemia. Pode não parecer, mas é um número expressivo”, afirma Ilka. Segundo ela, a grande esperança neste período, e mesmo depois de a pandemia passar, é que essa situação se mantenha. “O impacto da doença parece ter mudado a disposição das pessoas em relação às doações. Não deixa de ser algo positivo. Esperamos que continue assim”, afirma a médica do HC.

Depois de o número de transplantes ter caído muito durante os meses mais agudos da crise sanitária, a situação voltou a melhorar nas últimas semanas, quando mais transplantes passaram a ocorrer. A questão dos transplantes foi bastante afetada em todo o Brasil principalmente porque a maior parte dos hospitais, ao direcionar toda a infraestrutura para o tratamento da Covid-19, não conseguiu dar conta de também realizar outras cirurgias de alta complexidade.

Na Unicamp o número de transplantes também caiu bastante, mas nem tanto por falta de doadores, ao contrário do que ocorreu em várias outras partes do país. No caso de Campinas, os dados mostram os registros de 92 doadores agora em 2020 contra 86 em 2019. Os números são relativos ao período que vai de janeiro a setembro dos dois anos.

“Desde meados de setembro já registramos uma mudança de padrão em relação aos doadores e receptores. A tendência é continuar assim”, diz Luiz Antonio Sardinha, coordenador do OPO (Organização de Procura de Órgãos) da Unicamp. Durante a pandemia, segundo o médico, os casos de morte por traumas e AVCs, por exemplo, diminuíram bastante. Segundo Sardinha, existem contraindicações para a doação de órgãos de pessoas contaminadas pela Covid-19.

Retomada de cirurgias

Em todo o Estado de São Paulo, mostram os números oficiais do governo, que a quantidade de transplantes realizados acabou seguindo a curva da pandemia. Em março ocorreram 99 transplantes, depois foram feitas 82 cirurgias desse tipo em abril e 71 operações em julho. Em agosto, os registros mostram que 96 pessoas tiveram a felicidade de receber um órgão em hospitais do Estado de São Paulo.

No ano passado, apenas a Unicamp havia feito 312 transplantes entre janeiro e outubro em São Paulo. As principais cirurgias feitas no HC são de doações de rim e fígado. Em 2017, o HC bateu o recorde de operações feitas em um ano, com a contabilização de 485 transplantes. Um dos grandes gargalos do país costuma ser a logística. No Estado de São Paulo, mais de 17 mil pessoas estão na fila para a obtenção de um órgão.

Eduardo Geraque | Especial para o Portal da Unicamp

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