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O enfrentamento das três ondas da pandemia do COVID-19 desde 2020, trouxe muito aprendizado e desafios para a nefrologia do Hospital de Clínicas da Unicamp. No mês em que se celebra o Dia Mundial do Rim (10 de marco), as equipes comemoram a colocação do HC entre os 10 serviços no País – são 724 credenciados – que realizaram mais de 100 transplantes no pior ano da pandemia: 2021. No interior do Estado de São Paulo o HC foi o único.

O Dia Mundial do Rim tem por objetivo aumentar a conscientização sobre doenças renais e a necessidade de estratégias para a prevenção, promoção e gerenciamento dessas condições. No Brasil, o transplante de rim representa cerca de 70% do total de transplantes de órgãos, sendo que 90% são financiados integralmente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No HC é a especialidade que mais faz transplantes e já realizou desde 1984, mais de 3200 transplantes.

Para a professora e coordenadora dos transplantes de rins no HC da Unicamp, Marilda Mazzali, o enfrentamento à pandemia foi de grande valor para investigação da doença e o emprego de protocolos assistenciais em pacientes crônicos, pré-dialíticos e também para aquelas pessoas que tinham função renal normal e entraram como casos graves na UTI devido à COVID-19. “Nesses dois anos de pandemia nos reinventamos e ainda temos muito que aprender sobre síndrome pós COVID em geral”, afirmou Mazzali.

Entretanto, ressalta Marilda, o período da pandemia resultou em uma mudança no perfil de atendimento. Ela destacou que, desde a primeira onda em 2020, o serviço manteve a prioridade para o atendimento de todos pacientes crônicos e transplantados em que houve uma redução do atendimento de consultas de casos de menor complexidade, muito por conta de falta de transporte das prefeituras e de outros serviços médicos. “Infelizmente tivemos uma redução inicial de acompanhamento de pacientes pré-dialíticos, mas para os renais crônicos dialíticos o atendimento não parou”.

Marilda salientou que, entre algumas das reformulações de condutas para os transplantes durante a pandemia, estava o transplante com tempo de internação curto, com mais cuidados e imunossupressão redirecionada. “A maioria dos programas reduziu as atividades, principalmente no ano passado, mas nós mantivemos o serviço funcionando normalmente”, relata a médica. Em 2022, diz, os dois primeiros meses tiveram uma queda histórica na doação devido aos pacientes testarem positivo pela variante Ômicron. “No mês de janeiro conseguimos 28 doadores mas apenas dois foram viáveis e para um deles, não havia receptor compatível”, esclarece Mazzali.

Ainda na avaliação da nefrologista, a pandemia agravou o problema de saúde para pacientes que tinham doença renal controlada e que conseguiam se manter em tratamento conservador. “Ao contrair COVID-19 alguns se tornaram dialíticos”, esclarece a docente. Agora, pacientes com doenças remais sem COVID-19 seguem a vida normal, e caso sejam infectados pelo COVID-19 a doença renal pré-existente pode ser agravada.

Além disso, explica, que no caso dos pacientes que não tinham doenças renais e foram internados graves na UTI devido ao COVID-19, a maioria acabou desenvolvendo insuficiência renal aguda. “Tínhamos várias formas de dialisar, mas os pacientes eram muito instáveis, o que exigiu o uso de técnicas mais específicas como a diálise contínua. Caso o paciente se recupere bem da COVID-19 eles recuperam a função renal”, esclarece.

Em termos de novidades, Marilda ressalta que estão em andamento estudos globais sobre novos métodos diagnósticos menos invasivos (sem biopsia), no qual o Programa de Transplante Renal do HC da Unicamp vai integrar o estudo multicêntrico internacional.

DOENÇAS RENAIS CRÔNICAS (DRC) – Geralmente a doença tem etiologia multifatorial e pode ser agravada pela ausência de hábitos saudáveis. O problema está associado com outras doenças, como por exemplo, a hipertensão, diabetes, glomerulonefrite (inflamação não-infecciosa dos glomérulos dos rins), doenças císticas renais, histórico familiar de doença renal crônica, problemas cardiovasculares, obesidade, fumo, infecção urinária e/ou cálculos renais de repetição, uso de medicamentos que podem comprometer as funções dos rins e idade acima de 50 anos.

A prevenção é a alternativa mais viável para evitar a DRC, pois quando os sintomas aparecerem é indício que o quadro da doença está avançado. São eles, vontade de urinar constante, pouca quantidade, dor constante no fundo das costas ou flancos, inchaço das pernas, pés, braços ou rosto, coceira em todo o corpo, cansaço excessivo sem razão aparente, fadiga, náuseas (principalmente pela manhã) acompanhados de vômitos e alterações da cor e cheiro da urina.

Isso acontece porque os rins estão comprometidos, pois têm a função de filtrar o sangue para eliminar as toxinas do organismo e outras substâncias nocivas. Quando os rins estão impossibilitados de funcionar, é necessário que o paciente faça hemodiálise, onde aparelhos desempenham a função do órgão.

O diagnóstico das DRC é feito por meio do exame de urina com dosagem da creatinina no sangue, contudo a doença não possui cura e os tratamentos retardam a progressão da doença. “A mudança nos hábitos é essencial em qualquer fase da doença, seja conservador, em diálise ou mesmo após o transplante bem sucedido”, explica.

As formas de prevenção adequadas são as praticas de exercícios físicos regulares, evitar o excesso de sal, carne vermelha e gorduras, controle de peso corporal, controle da pressão arterial, colesterol e da glicose, não fumar e consumir moderadamente bebida alcoólica, evitar na medida do possível o consumo de anti-inflamatórios não hormonais, ter cuidado com quadros de desidratação.

Especialistas reforçam a necessidade de se realizar, uma vez por ano, exames laboratoriais para avaliar a saúde dos rins, por meio da dosagem de creatinina no sangue e análise de urina. Pacientes idosos, portadores de doença cardiovascular e pacientes com história de doença renal em familiares têm grande potencial para desenvolver lesão renal e devem ser investigados com triagem de exames de urina e dosagem de creatinina no sangue.

DADOS BRASIL – Em números absolutos, o País ocupa a segunda posição mundial em número de transplantes renais, sendo a maioria realizada no SUS. Ano passado, foram registrados 4.828 procedimentos do tipo e o HC da Unicamp conseguiu fazer 135 transplantes.

Estima-se que existam 850 milhões de pessoas com doença renal no mundo, em decorrência de diversos fatores. No Brasil, a estimativa é de que mais de dez milhões de pessoas tenham a patologia. Desses, 90 mil estão em diálise que é um processo de estímulo artificial da função dos rins, geralmente quando os órgãos tem cerca de 10% de funcionamento.

O Centro Integrado de Nefrologia da unidade atende pacientes com DCR e seus familiares, dentro dos ambulatórios especializados que acompanham o paciente em todas as fases da doença renal crônica. O cuidado integral do paciente é realizado através de um programa educativo com uma equipe multidisciplinar.

Caius Lucilius – Assessoria de Imprensa HC com Marcos Guilherme R. Caetano

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