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O Hospital Dia acaba de completar 15 anos. Ele foi inaugurado em 10 de dezembro de 2007. Ao longo dos anos, a missão principal do Hospital Dia (HD) foi mudando e evoluindo. De um local reconhecido apenas por atender pacientes com HIV, hoje o objetivo do Hospital Dia é a desospitalização de pacientes atendidos no complexo hospitalar da Unicamp, especialmente aqueles pacientes que necessitam da continuidade do tratamento medicamentoso e outros cuidados, como curativos, orientação sobre cuidados com sondas no domicílio, entre outros.

O Hospital Dia é ligado ao Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp e atende pacientes que vivem com HIV/Aids e doenças infectocontagiosas atendidos no próprio HC ou encaminhados pela Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde (Cross), respeitando a área de cobertura estabelecida pela Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. De 2007 até 2022, foram realizadas no Hospital Dia mais de 150 mil consultas e 158 mil procedimentos clínicos.

De acordo com o enfermeiro e diretor do Hospital Dia, Fábio Ricardo Consorti Paixão, a implementação dessa modalidade de assistência em um hospital de referência, de ensino e de alta complexidade como é o HC, busca ampliar a visão de atenção à saúde mantendo o compromisso do HD de trabalhar dentro dos princípios de integralidade, equidade e universalidade do SUS, com um atendimento humanizado e de qualidade.

“O Hospital Dia é uma unidade que dá suporte às condições hospitalares e à investigação diagnóstica necessária para pacientes de diversas especialidades, entre elas a infectologia. Buscamos manter o vínculo do paciente atendido no HD com a família e com a sociedade e, ao mesmo tempo promover a retirada do paciente do ambiente hospitalar para prosseguir com o tratamento em casa”, explica Fábio.

A médica infectologista Mariângela Resende lembra que o Hospital Dia foi concebido para ser uma grande área de atuação da disciplina de Infectologia e foi pioneiro no atendimento de pacientes com HIV que necessitavam de tratamentos parenterais por tempo indeterminado para a prevenção de infecções oportunistas. Felizmente, com o avanço da terapia antirretroviral, este cenário mudou.

“Como os pacientes não necessitam mais de medicações injetáveis para a prevenção das infecções oportunistas, o Hospital Dia passou a fazer o acompanhamento de paciente com HIV/aids e acomodou a maioria das atividades ambulatoriais da disciplina de Infectologia”, diz a especialista que também é professora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp.

Atualmente, o HD é uma referência regional para terapia antimicrobiana parenteral ambulatorial (TEAPA); para infecções multirresistentes de origem bacteriana, micobacteriana, fúngica ou virais e para tratamento de infecções em pacientes imunossuprimidos transplantados. É ainda um hospital de referência para identificação e manejo de infecções emergentes como covid-19, monkeypox e outras.

O HD também é local de formação para os alunos de graduação em Medicina e para a formação de médicos-residentes nas áreas de Infectologia, Clínica Médica e Neurologia. Equipes multiprofissionais de serviço social, enfermagem, farmácia, nutrição, psicologia, administração fazem treinamento na modalidade Hospital-Dia para HIV/aids e TEAPA no HD. Vários alunos de pós-graduação desenvolvem pesquisas clínicas e multicêntricas em HIV/aids, hepatites, infecções fúngicas, covid-19 e outras no HD. O hospital realiza também atividades de promoção em saúde e prevenção de infecções sexualmente transmissíveis na comunidade da Unicamp.

Hospital Dia em números

Atendimentos mensais: 700
Metragem construída: 1.551 metros quadrados
Exames mensais: 1.120
Perfil dos pacientes atendidos: pessoas adultas que vivem com HIV/Aids e doenças infectocontagiosas
Equipe: 22 funcionários, sendo 8 médicos, 4 docentes, 4 enfermeiros, 3 técnicos de enfermagem, 1 assistente social e 2 técnicos administrativos

Hospital Dia e Aids

Sandra Mara Queiroz da Costa é enfermeira assistencial e trabalha há 33 anos na Unicamp. Começou a trabalhar na enfermaria de moléstias infecciosas e depois foi para o leito-dia, ao lado da própria enfermaria de moléstias infecciosas, dentro do HC da Unicamp, bem no início da pandemia de HIV.

“Havia muitos pacientes, a maior parte acamados, estávamos no começo de tudo. A doença aids era um desconforto. Não tínhamos medicações fornecidas pelo Governo, como hoje em dia. Tinha pacientes que vendiam seus imóveis para comprar os remédios. As pessoas tinham nojo e preconceito a respeito de meus pacientes”, relembra Sandra.

Um dia, chegaram para Sandra e perguntaram: “Como é um paciente com aids?”, então, ela respondeu: “Olhe-se no espelho, ele é igual a mim, a você, é um ser humano”, conta a enfermeira, que via os pacientes morrerem quase todos os dias.

Em 2007, Sandra desceu para o prédio do Hospital Dia, onde está localizado até hoje, à rua Carlos Chagas, nº 82, em frente à Unidade de Emergência Referenciada (UER) do HC da Unicamp. De forma calma e contemplativa, a enfermeira diz que sente muito orgulho de fazer parte da história do HD e da luta contra a aids.

“Estou aqui desde o começo, quando tudo era mais difícil. Atualmente, as coisas estão bem melhores. Temos medicações fornecidas pelo governo, pessoas mais aderentes ao tratamento e menos de preconceito, apesar dele existir”, reflete.

E para o futuro do Hospital Dia, Sandra deseja que o hospital e toda a equipe continuem acolhendo a todos que passam por lá, pois segundo ela, “é partir do acolhimento que se pode gerar bons frutos”.

Mariângela ressalta que a potencialidade do Hospital Dia é imensa, mas para que haja seu pleno desenvolvimento há a necessidade de financiamento para o custeio de antimicrobianos e investimento para a reforma do segundo andar do hospital para que possam ser desenvolvidas atividades de telessaúde e de pesquisa clínica.

“Vale destacar que a interação do HD com o HUB de Saúde Global da Unicamp poderá catalisar parcerias intra e extrainstitucionais para a sustentabilidade de projetos para a produção de conhecimento e capacitação de recursos humanos nesta especialidade desafiadora e mutante que é a infectologia”.


Texto: Edimilson Montalti – Núcleo de Comunicação HC Unicamp
Fotografia: Edimilson Montalti e Arquivo Hospital Dia

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