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A equipe do Núcleo de Avaliação de Tecnologias (NATS) do Hospital de Clínicas (HC) Unicamp participou junto ao Ministério da Saúde da atualização das Diretrizes Diagnósticas e Terapêuticas (DDT) do Mieloma Múltiplo. As DDT são documentos baseados em evidência científica que norteiam as melhores condutas na área da Oncologia para os pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).

A proposta apresentada aos membros do Plenário da Conitec em sua 107ª Reunião Ordinária recomendou, favoravelmente, a incorporação do teste citogenético por Hibridização in Situ por Fluorescência (FISH) na detecção de alterações citogenéticas de alto risco em pacientes com mieloma múltiplo. Além disso, o texto das DDT traz recomendações sobre o uso do bortezomibe, medicamento incorporado no SUS em 2020.

A versão atualizada das DDT foi aprovada pela Conitec após consulta pública e aguarda a publicação. Veja aqui a versão prévia disponível com as novas diretrizes para o diagnóstico e tratamento do mieloma múltiplo.

O mieloma múltiplo é o câncer das células da medula óssea que produzem anticorpos para o combate de vírus e bactérias, chamados de plasmócitos. Quando os plasmócitos sofrem mutações, tornam-se anormais e se multiplicam de forma descontrolada, comprometendo a produção das outras células do sangue.

De acordo com Cármino Antonio de Souza, médico hematologista e professor da disciplina de Hematologia e Hemoterapia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, o mieloma múltiplo é uma das doenças mais emergentes na área do câncer hematológico e vem crescendo, principalmente, entre pessoas idosas devido ao aumento da longevidade da população.

“Esse crescimento é da ordem 2% a 3% acima do crescimento populacional por ano, e isso faz com que tenhamos um contingente cada vez maior de pessoas com mieloma múltiplo”, aponta Cármino.

Segundo a Agência Internacional para Pesquisa em Câncer da Organização Mundial de Saúde (OMS), o mieloma múltiplo foi responsável por 176.404 novos casos e 117.077 óbitos de pacientes com ambos os sexos em 2020. No Brasil, dados do Painel Oncologia Brasil mostram que, entre 2013 e 2019, foram diagnosticados cerca de 2.600 casos de mieloma múltiplo, anualmente, em ambos os sexos, estimando-se 1,24 casos/100 mil habitantes.

Os principais fatores de risco para mieloma múltiplo são idade, sexo, raça e histórico familiar. Em relação à idade, apenas 15% dos diagnósticos são realizados em pessoas com menos de 55 anos, enquanto mais de 60% dos diagnósticos acontecem em adultos com mais de 65 anos. No Brasil, dados do Observatório de Oncologia apontam uma mediana de idade destes pacientes de 63 anos, com variação de 18 a 100 anos.

“Antigamente, o mieloma era uma doença indigna de tão agressiva, incapacitante e mortal. Uma coisa espetacular que vem acontecendo, apesar do mieloma múltiplo ainda ser uma doença incurável, é que estamos conseguindo fazer com que os pacientes vivam muito mais e muito melhor, com atividade praticamente normal. Isso se deve a incorporação de vários remédios, como é o caso dobortezomibe”, explica o hematologista da Unicamp.

NATS HC

O trabalho do NATS começou a ser desenvolvido no início de 2021. A equipe multidisciplinar foi coordenada pela professora Daniela Fernanda dos Santos Alves, da Faculdade de Enfermagem (FEnf) da Unicamp. A priorização dos temas e tecnologias a serem avaliadas pelo NATS contou com a participação de especialistas no tema, pacientes, equipe técnica do Ministério da Saúde e metodologistas do Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre.

“Essas diretrizes norteiam como deve ser realizado o diagnóstico e tratamento dos pacientes com mieloma múltiplo no SUS, quais os exames devem ser realizados, quais as estratégias de tratamento e acompanhamento dos pacientes”, explica a farmacêutica Mayra Carvalho Ribeiro, do NATS do HC da Unicamp.

Durante a atualização das diretrizes, quatro pareceres técnico-científicos foram submetidos para apreciação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (CONITEC), três pareceres foram elaborados pelo NATS HC Unicamp e um foi elaborado em parceria com o NATS da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

“A participação do NATS do HC da Unicamp neste processo foi bastante desafiadora. O grupo conseguiu selecionar evidências e desenvolver avaliações econômicas na perspectiva do SUS para o diagnóstico e tratamento do mieloma múltiplo”, diz Daniela.

De acordo Cármino de Souza, apesar do Brasil ter levado quase 10 anos para incorporar o bortezomibe no arsenal terapêutico para o tratamento do mieloma múltiplo em pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), a introdução do bortezomibe associado a outros fármacos e os testes citogenéticos são muito auspiciosas, pois os pacientes com mieloma múltiplo têm se beneficiado do avanço da ciência e das drogas inovadoras, alvo-específicas e inteligentes.

“O bortezomibe, associado com outros fármacos, ajuda na recomposição ou na estabilização óssea da doença e o teste citogenético possibilita ao médico abordar o paciente de uma maneira diferenciada, única. Nós transformamos uma doença indigna numa doença perfeitamente tratável. Eu arriscaria dizer que estamos caminhando, nos próximos anos, para a possibilidade de cura do mieloma múltiplo”, confidencia Cármino.


Texto: Edimilson Montalti – Núcleo de Comunicação HC Unicamp
Foto e ilustração: NATS HC Unicamp e Hemocentro Unicamp

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