O secretário de Saúde do Estado de São Paulo, Eleuses Paiva, em entrevista exclusiva concedida ao jornal Correio Popular e publicado no sábado (9/9), anunciou que a Secretaria de Saúde de São Paulo vai implantar nos próximos meses uma ampla rede de teleatendimento em saúde que será conduzida pelas universidades públicas e integrará mais de 200 unidades hospitalares em todo o território paulista.
De acordo com o secretário, na Região Metropolitana de Campinas (RMC), o projeto será conduzido pelo Hospital de Clínicas (HC) e pela Faculdade de Ciências Médicas (FCM), ambos da Unicamp. Pelo menos 20 hospitais regionais, sob a orientação da FCM e do HC, deverão oferecer teleconsultas e contarão com Tele-UTI. Ainda segundo Paiva, os hospitais universitários, como o HC da Unicamp, também atuarão no projeto que pretende levar o modelo a 200 unidades de saúde em dois anos.
Segundo a superintendente do HC da Unicamp, Elaine Cristina de Ataíde, a teleconferência aplicada à área da Saúde vai ajudar na parte educacional, ampliará o acesso e integrará diferentes profissionais com visões distintas, o que irá beneficiar os pacientes do sistema público de saúde e, principalmente, das cidades de Campinas e região.
“A teleconferência na saúde ajuda de várias formas, como na parte educacional, pois ajuda a fornecer informações detalhadas sobre condições de saúde complexas, tratamentos disponíveis e cuidados de acompanhamento. As consultas virtuais também permitem que médicos e especialistas atendam em áreas remotas ou com dificuldades de mobilidade, ampliando o acesso. Ainda há a possibilidade da integração entre especialistas de diferentes instituições, promovendo mais opiniões médicas. São muitas as possibilidades”, explicou Elaine.
O modelo já está sendo implementado na capital pela Universidade de São Paulo (USP) e está em tratativas para chegar a Campinas e Botucatu na próxima fase. O secretário relatou que durante o período de teste do modelo da telemedicina, no Hospital Mandaqui, na capital, houve uma redução de 40% no tempo de internação dos pacientes e uma queda da ordem de 30% na mortalidade na UTI. O percentual de redução, na prática, equivale a abertura de 40% de leitos, já que a menor permanência dos pacientes aumenta a oferta de vagas.
“São mais leitos abertos sem colocar um tijolo ou comprar um respirador”, disse Paiva.
A superintendência do HC confirmou que o projeto está em andamento e avaliou como positivo, já que deve beneficiar o próprio hospital e reduzir a ocupação que, por vezes, chega a 105%. O projeto deve ainda levar atendimentos de especialidades para cidades mais afastadas do interior que não possuem oferta de médicos especialistas, um problema antigo para a Saúde estadual.
“O HC da Unicamp pode desempenhar um papel fundamental no protagonismo de pacientes em situações de alta complexidade, especialidade do HC, que atualmente sofre com a alta demanda para atendimentos de média complexidade. Estes atendimentos de complexidade inferior sobrecarregam o hospital e atrasam os de alta complexidade. A resolução dessa situação é uma demanda antiga de nosso hospital”, comentou Elaine.
Para o diretor da FCM, Claudio Saddy Rodrigues Coy, a telemedicina já é uma realidade e a faculdade precisa capacitar os alunos de forma adequada. Segundo Coy, existem regulamentações, normas e vários preceitos que norteiam o uso desse recurso tecnológico no dia a dia do médico.
“Precisamos transmitir esses conhecimentos aos nossos alunos de graduação e médicos-residentes, para que eles possam usar essa ferramenta digital da melhor forma possível. Por isso, o ensinamento nas universidades públicas se torna importante. Essa iniciativa do governo estadual vem ao interesse de nossa faculdade em formar bem o médico que irá atender a nossa população”, destacou Coy.
Núcleo de Telemedicina
Inaugurado em 2009, o núcleo de Telemedicina e Telessaúde é uma iniciativa do HC da Unicamp, juntamente com a FCM e a Rede Universitária de Telemedicina (RUTE) e tem como um de seus principais objetivos, apoiar o aprimoramento da infraestrutura para telemedicina já existente em hospitais universitários, bem como promover a integração de projetos entre as instituições participantes. A RUTE é uma iniciativa do Ministério da Ciência e Tecnologia, apoiada pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e pela Associação Brasileira de Hospitais Universitários (Abrahue). É coordenada pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP).
A Unicamp foi a 25ª instituição a inaugurar um núcleo da Rute, que tem como um de seus principais objetivos promover a integração das atividades de telessaúde existentes no país. O Núcleo da RUTE no HC está totalmente equipado com tecnologias de última geração ocupando uma área total de 300 metros quadrados com um salão principal climatizado para 30 pessoas, duas salas para teleconsulta equipadas com micro e webcam, TVs plasma 50 polegadas, equipamento de vídeo conferência multipontos, câmeras e projetores de alta definição.
Gustavo Fraga, professor da disciplina do Trauma da FCM e médico da área do Trauma do HC da Unicamp destacou alguns casos que evidenciam o sucesso e a integração dos serviços de telemedicina na área da saúde da Unicamp e no ensino.
“Já discutimos aqui no HC o caso da boate Kiss, em Santa Maria, o atentado na maratona de Boston, em 2014, e fomos uma das unidades escolhidas pelo Governo Federal para a realização de cursos preparativos e de capacitação para a Copa e para as Olimpíadas com treinos de múltiplas vítimas e treinamentos práticos via telemedicina”, lembrou Fraga.
Fila única
Durante a entrevista, o secretário também afirmou que pretende tornar as filas de cirurgias eletivas únicas e por regiões. Atualmente, existe uma única fila que é estadual, mas municípios e até mesmo hospitais realizam filas paralelas, o que bagunça a espera. A divisão das filas será feita pelos Departamentos Regional de Saúde (DRS). Ao todo, o estado tem 17 DRS’s, sendo a de Campinas responsável por 42 cidades.
“Haverá uma Central de Regulação de Ofertas de Serviço de Saúde (CROSS) por região. E a fila será única, acessível e transparente. O paciente vai saber em que número da fila ele está, quantas cirurgias estão sendo realizadas por mês e, assim, ter previsão de quando será operado”, disse Paiva.
“Quando estamos dentro dessa nossa região, é muito mais fácil a gente poder fazer a reestruturação e o encaminhamento de pacientes de forma apropriada. Com essa regionalização via CROSS, vamos conseguir atender melhor os nossos pacientes dentro de suas próprias regiões”, afirmou Elaine.
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Fonte: Jornal Correio Popular
Edição de texto: Edimilson Montalti – Núcleo de Comunicação HC Unicamp
Fotografia: Edimilson Montalti e Caius Lucilius (HC Unicamp) e Karen Menegheti de Moraes (FCM Unicamp)