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O Hospital de Clínicas da Unicamp foi um dos 12 hospitais credenciados pelo Ministério da Saúde para realizar a trombectomia mecânica para tratamento do Acidente Vascular Cerebral (AVCi) isquêmico agudo por arteriografia. O tratamento ofertado pelo SUS aumenta em quase três vezes a chance do paciente com AVC isquêmico com oclusão de uma grande artéria do cérebro, ficar independente e sem grandes sequelas, quando realizado dentro das primeiras 12 horas do início dos sintomas. A portaria 1.996/23, publicada no Diário Oficial da União na última semana novembro, estabelece que os pagamentos serão através do Fundo de Ações Estratégicas e Compensação (FAEC).

Segundo o neurologista Wagner Mauad Avelar, responsável pelo serviço de neurologia vascular do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, a trombectomia é um procedimento realizado através de um equipamento de angiografia (foto) com o uso de cateteres do tipo stent-retriever e do tipo aspiração, para retirada de coágulo ou trombo, que esteja obstruindo o fluxo sanguíneo arterial cerebral. Inicialmente, 12 hospitais de alta complexidade – metade deles localizados no Estado de SP – foram credenciados para habilitação na portaria 1.996/23.

“A disponibilização da trombectomia mecânica no SUS é um marco importante na atenção e tratamento do AVC isquêmico. Um motivo para nós, gestores e profissionais de saúde, comemorarmos”, pontua a diretora do Departamento de Atenção Especializada e Temática do Ministério da Saúde, Suzana Ribeiro. “Além de ofertar uma tecnologia de ponta com angiógrafos, permite à população o acesso ao tratamento igualitário e com grande perspectiva de não existirem sequelas que comprometem a condição e a qualidade de vida do paciente”, acrescenta.

O acidente vascular cerebral ocorre quando vasos que levam sangue ao cérebro entopem ou se rompem, provocando a morte de um tecido cerebral que ficou sem circulação sanguínea. No caso do AVC isquêmico, há a obstrução de uma artéria, impedindo a passagem de oxigênio para células cerebrais, que acabam morrendo. Este é o mais comum e representa 85% de todos os casos. No Brasil, foram registradas mais de 185 mil internações e cerca de 110.000 mortes por AVC no ano de 2022. O AVC é a segunda causa de morte por doenças no Brasil, atrás das doenças isquêmicas do coração.

“O AVC é uma catástrofe, pois não só deixa o paciente incapacitado, como muda toda a dinâmica familiar. A cada um minuto transcorridos de um AVC morrem 1,9 milhões de neurônios. Se há suspeita de AVC, a regra básica é o SAMU: peça para a pessoa sorrir (S), abraçar (A) ou cantar uma música (M). Se ela não conseguir fazer isso, corra para o hospital porque é urgente (U)”, explica Avelar.

Estudo Resilient

Estes estabelecimentos participaram do Resilient, um ensaio clínico internacional, multicêntrico, financiado pelo ministério da Saúde com vistas a avaliar a viabilidade do tratamento usando a trombectomia na comparação com o tratamento clínico padrão no contexto do SUS. O estudo foi coordenado pelos médicos Sheila Martins, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre vinculado à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Raul Nogueira, do Hospital Moinhos de Vento, também da capital gaúcha; e Otávio Pontes, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto.

O estudo clínico Resilient foi publicado na New England Journal of Medicine, principal revista científica médica no mundo. O Resilient foi realizado por meio da Rede Nacional de Pesquisas-AV e serviu como referência para a incorporação da tecnologia pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CONITEC). O Hospital de Clínicas da Unicamp integrou o Resilient.

O Ministério da Saúde esclarece que os gestores estaduais, municipais e distritais do SUS poderão solicitar a habilitação de novos hospitais para a realização do procedimento. Os estabelecimentos deverão comprovar a habilitação como unidade de assistência de alta complexidade em Neurologia e Neurocirugia, como centro de atendimento de urgência tipo III aos pacientes com AVC, entre outros critérios estabelecidos na portaria. A concessão ocorre após análise e aprovação dos pedidos pela pasta.

Serão disponibilizados pelo Ministério da Saúde aproximadamente R$ 74 milhões por ano do Bloco de Manutenção das Ações e Serviços Públicos de Saúde – Grupo de Atenção Especializada – para o tratamento. O Fundo Nacional de Saúde (FNS) adotará as medidas necessárias para a transferência dos valores mensais, de acordo com a apuração da produção de serviços registrada na base de dados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS).

Caius Lucilius com Simone Sampaio Ministério da Saúde

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