O Hospital de Clínicas da Unicamp foi o primeiro no Estado de São Paulo e o terceiro no País, a administrar a infusão do primeiro medicamento de terapia gênica no Brasil indicado para o tratamento da distrofia muscular de Duchenne (DMD): o Elevidys® que atua diretamente na causa da doença com uma dose única. Os primeiros casos no Estado são de três crianças avalizadas pelo Ministério da Saúde. O medicamento foi adquirido pelo Ministério da Saúde ao custo de R$ 17 milhões a unidade. Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro fizeram as primeiras infusões no País.
As primeiras três crianças passaram por avaliação clínica pela equipe do Serviço de Referência em Doenças Raras do Hospital de Clínicas da UNICAMP, na primeira etapa de preparação para receberem a infusão da terapia gênica. Essa terapia gênica foi concebida para a restauração, ainda que de forma parcial, da função muscular em pacientes pediátricos. Tem indicação para crianças entre 4 e 7 anos 11 meses e 29 dias.
O Ministério da Saúde reforça que a terapia com Elevidys®ainda requer produção de evidências que comprovem os reais ganhos clínicos dos pacientes, necessitando de monitoramento e avaliação de cada uma das infusões realizadas. As evidências disponíveis ainda são limitadas e o tratamento tem sido debatido pela comunidade científica.
Por se tratar de um medicamento de custo elevado existe todo um protocolo de transporte e alojamento na instituição com armazenamento em condições especiais de temperatura. Toda a mobilização para o recebimento do medicamento até a sua aplicação é multidisciplinar e envolve diversas equipes da Neurologia, Pediatria, UTI Pediatrica, Enfermaria Pediatrica, farmácia e fisioterapia. O medicamento exige o armazenamento em ultra-freezer a -80º.
O medicamento mais caro do mundo foi desenvolvido com terapia gênica com a finalidade de inserir nas crianças, uma proteína chamada microdistrofina. O Elevidys® utiliza como vetor, um adenovírus, especificamente o AAV RH 74, que vai transportar o gene humano que codifica a microdistrofina para os músculos, com o objetivo de substituir a distrofina disfuncional ou ausente no organismo em crianças de 4 a oito anos. O medicamento vai regularizar a produção natural da proteína que visa restaurar, ainda que de forma parcial, a função muscular das crianças com uma melhora significativa em funções essenciais, como a capacidade de ficar em pé, caminhar e subir escadas.
Segundo o professor Marcondes Cavalcante França Júnior que foi o médico-pesquisador responsável pelo credenciamento do hospital junto ao Ministério da Saúde para a aplicação do medicamento, a escolha pelo HC da Unicamp é devido à experiência da instituição no manejo da doença e na experiência com tecnologias avançadas nessa nessas áreas. O procedimento ocorreu na enfermaria de Pediatria e durou cerca de 1 hora e meia. As crianças permaneceram dois dias internadas na enfermaria após a infusão.
Marcondes explica que o Elevidys® é a única alternativa terapêutica no mundo para o tratamento exclusivamente a pacientes deambuladores, ou seja, aqueles que conseguem andar de forma independente. No mundo, a doença rara afeta 1 em cada 5.500 nascidos vivos do sexo masculino. Esse gene, diz, uma vez introduzido no organismo, não pode mais ser retirado. “Essa terapia gênica não cura a distrofia de Duchenne, mas tem o potencial de interromper a progressão da doença. Entretanto, se o medicamento vai manter a função dele por dez, 20 anos, ou a vida toda, isso ainda a gente não é capaz de responder”, ressalta.
O Elevidys® (delandistrogeno moxeparvoveque) é o medicamento mais caro do mundo e foi aprovado pela Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora americana, em junho de 2023. Já o registro no Brasil pela ANVISA ocorreu em 2024. Os pesquisadores informam ainda que há contraindicações aos pacientes com deleções (perdas de parte de um cromossomo) nos éxons 8 e/ou 9 do gene DMD ou com títulos elevados de anticorpos contra o vetor viral. Os éxons são regiões específicas do DNA do paciente.
Sobre a doença
A distrofia muscular de Duchenne é uma condição genética rara e grave que piora com o tempo, levando ao enfraquecimento e à deterioração dos músculos do corpo do paciente. A doença ocorre devido a um gene defeituoso que resulta na ausência da distrofina, uma proteína que ajuda a manter as células musculares do corpo intactas. Como resultado desse defeito genético, indivíduos com DMD podem apresentar sintomas como dificuldade para caminhar e correr, quedas frequentes, fadiga, dificuldades de aprendizado, problemas cardíacos (devido ao impacto no funcionamento do músculo cardíaco) e problemas respiratórios (devido ao enfraquecimento dos músculos respiratórios).
Os sintomas de fraqueza muscular associados à DMD geralmente começam na infância, frequentemente entre 3 e 6 anos de idade. Entretanto, após o pico de aproximadamente 6 anos de idade, mesmo com o uso de medicamentos corticosteroides, a função muscular de indivíduos com DMD começa a se deteriorar devido à lesão muscular progressiva. A DMD afeta principalmente os homens, e, em casos raros, pode afetar mulheres. À medida que a doença progride, podem ocorrer problemas cardíacos e respiratórios que ameaçam a vida. A maioria das abordagens terapêuticas atuais trata os sintomas da doença.
Os tratamentos incluem medicamentos corticosteroides para retardar a progressão da fraqueza muscular, programas de alongamento e exercícios físicos e o uso de equipamentos, como órteses ou cadeira de rodas, à medida que caminhar se torna mais difícil.



