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HC lança sua política para atendimento de pacientes trans

O Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp apresentou no dia 27 de junho sua política de atenção integral ao paciente trans, travesti, intersexo e não-binário. O lançamento aconteceu durante o evento Saúde da população trans: Avanços no Hospital de Clínicas da Unicamp. O evento foi organizado pela Superintendência HC da Unicamp e pelo Grupo de Trabalho (GT) em Diversidade e Humanização, em parceria com a Diretoria Executiva de Direitos Humanos (DEDH) da Unicamp.

“Esse evento busca a ampla divulgação da política e a discussão crítica sobre a saúde da população trans, mas também abre portas para que o HC continue promovendo discussões de saúde acerca de gênero, raça, classe e demais marcadores sociais”, disse a enfermeira Isabela Cristina Nogueira, integrante do GT que elaborou a política de atenção integral ao paciente trans, travesti, intersexo e não-binário.

A política conta com princípios e diretrizes baseados na Humanização e Respeito à Identidade de Gênero, ambiente livre de discriminação e educação continuada de profissionais do hospital, desde a recepção, atendimento, internação e alta hospitalar. Ela garante o uso do nome social e pronome de escolha e pela equipe de saúde do HC da Unicamp em todas as etapas do atendimento, acomodação em quarto condizente com o gênero e avaliação da equipe, visando conforto, segurança e continuidade do cuidado do paciente.

Além de assegurar a dignidade e os direitos humanos da população trans, travesti, não binária e intersexo, o objetivo da política é eliminar barreiras e promover o direito constitucional à saúde, conforme estabelecido pela legislação brasileira e pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Ela tem fundamentação legal baseada na Constituição Federal, nos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), em políticas nacionais, decretos federais, estaduais e municipais e resoluções do Conselho Federal de Medicina (CFM), do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), das deliberações da Unicamp.

Isabela Cristina Nogueira
Isabela Cristina Nogueira, integrante do GT em Diversidade e Humanização do HC da Unicamp

Grupo de Trabalho

No ano passado, a equipe de enfermagem da Cirurgia do Trauma do HC da Unicamp teve um caso em que uma mulher trans que foi admitida em um quarto masculino. Essa situação gerou diversas discussões entre as equipes e funcionários e foi chamado de um evento sentinela. Isso levou a criação do GT.

De acordo com a enfermeira Isabela, o intuito do GT é debater e criar propostas que estimulem a reflexão das equipes e da gestão e que consiga transformar o cuidado no hospital enquanto uma instituição comprometida com as questões de diversidade e seja, ao mesmo tempo, atuante socialmente.

“Sabemos que a violência contra pessoas trans não é apenas por gênero. Ela cruza com questões raciais, de classe, de acesso à informação e oportunidades. Por isso, nosso olhar precisa ser ampliado”, disse Isabela durante a abertura do evento.

A coordenadora de divisão da Coordenadoria de Assistência (COAS) do HC, Bárbara Juarez Amorim, representando a superintendente do hospital, Elaine Cristina de Ataíde, disse que a aprovação dessa política, provada em 05 de junho de 2025 pelo Conselho Executivo do HC da Unicamp, foi uma grande conquista do HC e toda a sociedade.

“O HC está inserido numa grande Universidade que preza pelo ensino e pela formação qualificada. Estamos no século XXI e ainda há comportamentos preconceituosos e violentos. A melhor forma de combatê-los é por meio da inclusão. A superintendência do HC apoia, fortemente, esse GT e todas as iniciativas que possam garantir a saúde física e psicológica a todos os seus pacientes”, disse Bárbara.

Representando Elisdete Maria Santos de Jesus, diretora da Diretoria Executiva de Direitos Humanos (DEDH) da Unicamp, a assistente social do Serviço de Atendimento e Encaminhamento Institucional das Denúncias de Racismo (SAER) da Unicamp, Aparecida do Carmo Miranda Campos, disse que a DEDH não poderia estar de fora desse enfrentamento à saúde da população trans, travesti, intersexo e não-binário e classificou a iniciativa do HC como protagonismo.

“A diretora do DEDH está em visita técnica, a convite do Ministério da Saúde, a vários hospitais, para ajudar na organização e ampliação dos ambulatórios de gênero no Brasil. E o HC já está com sua política de inclusão pronta. Isto é um passo enorme que precisa ser compartilhado”, confidenciou Aparecida, também conhecida como Tida e que trabalhou, por muitos anos, no Hospital Dia, atendendo e acolhendo pacientes trans.

Mesa redonda

O médico psiquiatra, professor da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e coordenador do ambulatório de gênero (AmbGen) do HC da Unicamp, Amilton dos Santos Junior, juntamente com Vivian de Lima Buosi, assistente social responsável técnica pelo Serviço de Atenção à Violência Social (SAVS) da DeDH e membra efetiva da Comissão Assessora de Gênero e Sexualidade e com o enfermeiro especialista em Saúde da Família e Saúde do Trabalho e treinando em serviço do AmbGen, Thalles Miriel Queiroz Leone, participaram da mesa redonda Saúde da População Trans na Atenção Hospitalar.

“Muitas pessoas trans não se descobrem trans desde o início. Precisamos ter espaços de escuta e ouvir esses indivíduos [trans, travesti, intersexo e não-binário]. Elas é que vão decidir quem são ao longo da vida. Fico contente com a trajetória do grupo e com as medidas que serão tomadas daqui para frente no hospital”, disse Amilton.

“Não tem como pensar de saúde integral sem falar no compromisso com direitos humanos, equidade e combate a todas as formas de violência e discriminação. A discriminação de gênero impacta no acesso à saúde. A luta contra a transfobia é diária”, comentou Vivian.

“O Brasil é o país que mais mata pessoas trans. Todos os dias eu posso aprender como atender essas pessoas de forma respeitosa e empática. É preciso compreender a dor do outro, sair de nossas bolhas e acolher a todos como um ser humano inteiro dentro de nossas áreas de atuação como profissionais da saúde diferenciados”, recomendou Thales.

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