O mês de julho é dedicado a três campanhas de combate e conscientização de doenças nem sempre lembradas e conhecidas pela população: o câncer osso, o câncer de cabeça e pescoço e as hepatites virais. Os médicos e especialistas Alfio Tincani, Maurício Ethebehere, Simone Perales, Raquel Stucchi, Agrício Crespo e Carlos Chone abordam os temas e orientam sobre o diagnóstico e tratamento oferecidos no hospital e na rede pública do Sistema Único de Saúde (SUS).
O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima o aparecimento de quase 40 mil novos casos de câncer de cabeça e pescoço, entre tumores de cavidade oral, laringe e tireoide, esse ano no Brasil. Segundo o INCA, o principal tipo de câncer nos homens é o de boca e, nas mulheres, o de tireoide.
Dor na boca, feridas na língua, na laringe ou na cavidade oral, dificuldade de engolir, mudança na voz, lesões na pele da face ou aparecimento de nódulos (caroços) no pescoço são sinais que indicam a necessidade de se procurar um serviço de saúde para uma primeira avaliação.
“Apesar da alta incidência, as chances de cura podem alcançar até 90% se a doença for diagnosticada e tratada precocemente”, diz Alfio Tincani, médico cirurgião especialista em câncer de cabeça e pescoço do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp e professor titular do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp e do Instituto de Otorrinolaringologia & Cirurgia de Cabeça e Pescoço (IOU) da Unicamp.
O HC da Unicamp é um dos hospitais públicos que realiza cirurgias de cabeça e pescoço e faz o tratamento e acompanhamento de pacientes na região de Campinas.

“Os tratamentos melhoram muito. Antigamente, só havia praticamente a cirurgia e a radioterapia com aparelhos não eficientes como os de agora para tratamento destes tipos de tumores. Hoje, além da cirurgia, temos a radioterapia com aparelhos de última geração, quimioterapia e imunoterapia que podem ser usadas separadamente ou associadas para o tratamento destes doentes”, explica Tincani.
Raquel Stucchi, médica infectologista do HC da Unicamp, destaca que uma porcentagem significativa dos cânceres de boca e laringe são causados pelos vírus HPV e podem ser prevenidos através da vacinação. “A vacina contra HPV está disponível no SUS para crianças a partir de nove anos e adolescentes”, diz Stucchi.
Câncer ósseo
O câncer ósseo é raro, mas o INCA estima cerca de 2.700 novos casos no Brasil por ano. O câncer ósseo pode ser primário ou advindo de outras regiões do corpo, como pulmões, próstata e mama. De acordo com o médico ortopedista do HC da Unicamp, Maurício Etchebehere, a grande maioria dos pacientes queixa-se de dor ou aumento de volume que o paciente ou a família observam em um local do corpo. O local mais comum é na região próxima do joelho em crianças e adolescentes e região do quadril em adultos.
O diagnóstico é feito pela história clínica, exame físico dos pacientes e análise das radiografias. Depois disso se necessário são solicitados exames complementares. Os principais estudos complementares são a ressonância magnética, cintilografia óssea e PET-CT. Por último pode ser necessária a realização de uma biópsia da área do osso onde haja a alteração.
“É necessário salientar que a maioria dos tumores que acometem os ossos de crianças e adolescentes são tumores benignos. Por outro lado, tumores que acometem adultos e idosos são tumores metastáticos, ou seja, tumores de outros órgãos como mama e próstata que se que implantam nos ossos”, explica Etchebehere, que também é vice-presidente da Associação Brasileira de Oncologia Ortopédica (ABOO).

Hepatites virais
A hepatite é uma inflamação do fígado que pode ser causada por vírus ou pelo uso de alguns medicamentos, álcool e outras drogas, assim como por doenças autoimunes, metabólicas ou genéticas. Nem sempre a doença apresenta sintomas, mas quando aparecem, se manifestam na forma de cansaço, febre, mal-estar, tontura, enjoo, vômitos, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras.
No Brasil, as hepatites virais mais comuns são causadas pelos vírus A, B e C. As hepatites virais podem ser transmitidas pelo contágio fecal-oral, pela relação sexual desprotegida pelo contato com sangue contaminado, através do compartilhamento de seringas, agulhas, lâminas de barbear, alicates de unha e outros objetos perfuro-cortantes, da mãe para o filho durante a gravidez e por meio de transfusão de sangue ou hemoderivados.
De acordo com Simone Perales, médica e cirurgiã do aparelho digestivo do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, a inflamação no fígado pode ocorrer também pelo consumo abusivo de álcool, uso irracional de medicamentos e até por anormalidade do sistema imunológico.
“Infelizmente, o álcool ainda é uma das causas de hepatite seguida de cirrose no Brasil, o que resulta na necessidade de transplante de fígado”, alerta Simone.

Apesar das hepatites virais terem evoluções graves, segundo Perales, as hepatites pelos vírus A e B podem e devem ser evitadas por meio da vacinação populacional e da conscientização sobre as formas de transmissão, especialmente a hepatite C.
Raquel Stucchi, médica infectologista do HC da Unicamp e responsável pelo Grupo de Estudos em Hepatites Virais da Disciplina de Infectologia e do Grupo de Hepatites Virais da Disciplina de Gastroenterologia, diz que a hepatite C é assintomática e o diagnóstico é feito por meio de um simples exame de sangue.
“Hoje, a chance de cura da hepatite C é superior a 90%, especialmente quando o diagnóstico é precoce. Com os tratamentos novos e os medicamentos disponíveis pelo SUS, conseguimos chegar bem perto da cura, por isso o diagnóstico é essencial”, explica Raquel.
Prevenção e tratamento
A hepatite A é transmitida por ingestão do vírus. Fique atento à higiene de utensílios e alimentos. Assim, alimentos e até mesmo água comercializados nas ruas ou em ambientes precários, sem que haja condições básicas de higiene, podem servir de vetores para o vírus. A hepatite A também pode ser transmitida através do contato sexual, particularmente em HSH. A vacina contra hepatite A está disponível no SUS para crianças, imunossuprimidos e para usuários de PrEP.
A hepatite B é transmitida em relações sexuais em 70% dos casos. O contágio pode ocorrer em uma única relação sem proteção. Por isso, utilize preservativo nas relações sexuais. A vacina contra hepatite B está disponível no SUS para toda a população, desde o nascimento até idosos.

A hepatite C se transmite, basicamente, por via sanguínea. Não compartilhe objetos cortantes. Na visita a manicure recomenda-se levar seu próprio kit com alicates e outros instrumentos. Também tenha a sua própria lâmina de barbear e só utilize agulhas ou seringas que sejam descartáveis.
Colocação de piercings e tatuagens são arriscados, principalmente quando não realizados com cuidados de esterilização. A hepatite C é assintomática, mas através de um teste de sangue simples é possível identificar a presença do vírus no sangue. O diagnóstico precoce evita as complicações comuns ao avanço da doença e previne a transmissão do vírus aos familiares.
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece exames e tratamento para todos os tipos de hepatite, independentemente do grau de lesão do fígado. Solicite a realização de testes para diagnóstico de hepatite B e C na sua próxima consulta médica!
Meses Coloridos
O projeto Meses Coloridos fez dois vídeos explicativos sobre as campanhas Julho Verde e Julho Amarelo. Além dos vídeos, houve ações no ambulatório de ortopedia e no Instituto de Otorrinolaringologia Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Unicamp (IOU). Houve também a entrega de material impresso informativo e conversa com pacientes e acompanhantes. O projeto Meses Coloridos tem apoio da Pró-Reitoria de Extensão, Esporte e Cultura (PROEEC) e Faculdade de Enfermagem (FEnf) da Unicamp.
IOU
O Instituto de Otorrinolaringologia & Cirurgia de Cabeça e Pescoço (IOU) da Unicamp também aderiu à campanha Julho Verde. O IOU se destaca no tratamento pelo SUS dos cânceres de cabeça e pescoço, que são o quinto mais comum no Brasil. A campanha Julho Verde reforça que a detecção precoce pode garantir cura em mais de 90% dos casos. O câncer de laringe é o segundo mais comum entre os tumores de cabeça e pescoço, com o fumo como maior fator de risco, potencializado pelo consumo de álcool.
“Diagnosticar cedo é crucial: quando o tumor é detectado no início, as chances de cura passam de 90%. A cirurgia é minimamente invasiva, feita por via endoscópica, sem dor e com alta hospitalar em menos de 24 horas”, reforça o médico otorrinolaringologista Agrício Crespo, presidente do IOU.
Feridas que não cicatrizam, sangramentos ou caroços na boca merecem atenção, dizem os especialistas do IOU. O câncer de boca pode surgir em diversas áreas – língua, gengivas, assoalho bucal, palato duro, lábios e bochechas –, sendo a língua (sobretudo as bordas laterais) e o assoalho da boca os locais mais frequentemente afetados.
“Uma ferida que não cicatriza em 15 dias, especialmente em fumantes e homens acima dos 40 anos, já deve ser investigada como possível câncer”, explica o cirurgião de cabeça e pescoço Carlos Takahiro Chone, coordenador do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e da Cirurgia de Base de Crânio do IOU.
A estrutura do IOU, em parceria com o Hospital de Clínicas da Unicamp, é referência nacional no tratamento desses tumores, tanto pela excelência técnica quanto pelo acesso via SUS.
“Campanhas como o Julho Verde são essenciais para lembrar a população que sinais aparentemente simples, como uma pinta diferente, uma ferida que não cicatriza ou uma rouquidão persistente, podem ser os primeiros alertas de um câncer. Informar salva vida”, lembra Crespo.

2º Simpósio Julho Verde
O 2º Simpósio Julho Verde – Câncer de Cabeça e Pescoço foi realizado em 19 de julho, no Anfiteatro do Instituto de Otorrinolaringologia & Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Universidade Estadual de Campinas (IOU) e reuniu mais de 140 especialistas, estudantes e representantes de diversas instituições de saúde brasileiras. O simpósio reafirmou sua importância no calendário científico de discussões sobre esse tipo de câncer no País.
“O evento cumpriu o seu papel de forma muito satisfatória”, avalia Carmen Silvia Passos Lima, médica oncologista, hematologista, professora da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, pesquisadora principal no CancerThera e membro do comitê de organização do evento.
O simpósio foi promovido pela FCM por meio do Programa de Pós-Graduação em Oncologia, em parceria com o IOU e o CEPID CancerThera. A programação abordou temas como tumores de tireoide, orofaringe e nasofaringe, câncer inicial de laringe e tumores HPV-induzidos, e trouxe também debates sobre suporte multidisciplinar e as pesquisas desenvolvidas no CancerThera sobre o uso de radiofármacos no modelo Teranóstico.
